Mianmar dá adeus a jovem morta em ato contra golpe militar

Autor DW Tipo Notícia
Facebook bloqueia contas ligadas à junta que tomou o poder no país. ONU e Alemanha condenam repressão violenta contra manifestações pacíficas a favor da democracia.Milhares de pessoas participaram neste domingo (21/02) na capital de Mianmar do funeral da primeira pessoa morta durante protestos contra o golpe militar no país, um dia depois que forças de segurança mataram mais dois manifestantes e feriram dezenas.Mya Thwate Thwate Khaing morreu na sexta-feira no hospital onde estava internada desde que foi baleada na cabeça pela polícia no dia 9 de fevereiro – dois dias antes do seu 20º aniversário –, quando participava de protesto na capital, Naypyidaw.Um grande cortejo adornado acompanhou o carro funerário que transportou o corpo para um crematório, onde mais pessoas aguardavam o corpo de jovem, que se tornou um símbolo do movimento contra o golpe militar. Muitos levantaram as mãos em saudações de três dedos – um sinal de desafio e resistência adotado pela vizinha Tailândia – durante a passagem do veículo preto e dourado que transportava o caixão. Novos protestosManifestantes voltaram a se reunir em diversas localidades de Mianmar para protestos de rua contra os militares, que já acontecem há mais de duas semanas.Em Yangon, a maior cidade do país, cerca de mil manifestantes começaram o dia em uma cerimônia realizada sob um viaduto em homenagem a Mya Thwate Thwate Khaing. "Quero dizer, através dos meios de comunicação, ao ditador e aos seus associados, que somos manifestantes pacíficos", disse o manifestante Min Htet Naing, acrescentando: "Parem o genocídio! Parem de utilizar armas letais!".Foram registrados também protestos em Myawaddy, na fronteira com a Tailândia, e em Inle Lake, uma popular atração turística, onde dezenas dos famosos barcos de madeira de cauda comprida do local foram atracados perto da costa, levando várias pessoas que cantavam slogans contra a junta militar.Manifestantes também saíram às ruas em Mandalay, segunda maior cidade do país, onde as forças de segurança mataram a tiros duas pessoas no dia anterior, perto de um estaleiro onde as autoridades tinham tentado forçar os trabalhadores a carregarem um navio.Os trabalhadores do estaleiro, ferroviários, caminhoneiros e muitos funcionários públicos juntaram-se a uma campanha de desobediência civil contra a junta militar. Uma das vítimas, descrita como um adolescente, foi baleada na cabeça e morreu no local, enquanto outra foi baleada no peito e morreu a caminho do hospital.Foram também relatados vários outros feridos gravemente. Relatos de testemunhas e fotografias de cartuchos de balas indicaram que as forças de segurança utilizaram munições reais, além de equipamento convencional de controle de motins.Reação internacionalAs novas mortes atraíram uma reação rápida e forte por parte da comunidade internacional. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou neste domingo no Twitter o "uso da violência fatal em Mianmar", afirmando: "O uso de força letal, intimidação e assédio contra manifestantes pacíficos é inaceitável. Todos têm direito a uma reunião pacífica”."Estou horrorizado com mais perdas de vidas, incluindo de um adolescente em Mandalay, enquanto a junta governante aumenta sua brutalidade", escreveu no Twitter Tom Andrews, investigador independente da ONU para os direitos humanos em Mianmar. "De canhões de água a balas de borracha e gás lacrimogêneo, e agora tropas reforçadas atirando à queima-roupa contra manifestantes pacíficos. Esta loucura deve acabar, agora!''O Ministério do Exterior da Alemanha condenou a violenta repressão e pediu a libertação imediata de todos os presos, em particular a líder destituída Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint, para permitir o "instituições legitimadas democrática e constitucionalmente a retomarem o seu trabalho'.'Cingapura, que junto com Mianmar faz parte do grupo de 10 membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, emitiu nota condenando o uso de força letal como "imperdoável''.As autoridades continuaram as prisões que começaram no dia do golpe, 1º de fevereiro, quando Suu Kyi e membros do governo foram detidos. De acordo com a Associação de Assistência Independente para Presos Políticos, 569 pessoas foram presas, acusadas ou condenadas, com 523, incluindo Suu Kyi e Win Myint, ainda detidos.Facebook bloqueia contas de militaresNeste domingo, o Facebook anunciou que retirou do ar a página administrada pela unidade militar de informação de Mianmar "por repetidas violações dos padrões de nossa comunidade, que proíbem o incitamento à violência.'' O portal de mídia social já havia bloqueado outras contas vinculadas aos militares.O golpe militar, no dia 1° de fevereiro, atingiu a frágil democracia de Mianmar depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020.Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes. Desde então, milhares de pessoas têm se manifestado contra o golpe militar.md (Lusa, AP)

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