Ceticismo sobre vacina prejudica esforço contra o coronavírus no Leste Europeu

Vacinas do Ocidente, Rússia ou China? Ou nenhuma delas? Esse é o dilema enfrentado por países do sudeste da Europa, onde as campanhas de vacinação contra o coronavírus estão começando devagar, ofuscadas pelo aquecimento dos debates políticos e por teorias da conspiração. Em países como a República Tcheca, Sérvia, Bósnia, Romênia e Bulgária, os céticos da vacina incluem ex-presidentes e até alguns médicos. O campeão de tênis sérvio Novak Djokovic estava entre aqueles que disseram que não quer ser forçado a ser vacinado.

Falsas crenças de que o coronavírus é uma farsa ou de que as vacinas injetariam microchips em pessoas espalharam-se por esses países, que antes estavam sob governo comunista. Aqueles que antes se submetiam rotineiramente a vacinações em massa estão profundamente divididos sobre receber a imunização.

"Há uma ligação direta entre o apoio às teorias da conspiração e o ceticismo em relação à vacinação", alertou um estudo recente nos Bálcãs. "A maioria em toda a região não planeja tomar a vacina, uma proporção consideravelmente diferente em relação a qualquer outra parte da Europa, onde a maioria é favorável a tomar a vacina."

Apenas cerca de 200 mil pessoas se inscreveram para receber a vacina na Sérvia, um país de 7 milhões de habitantes, após as autoridades iniciarem o procedimento. Em contraste, 1 milhão de sérvios se inscreveram para receber 100 euros no primeiro dia em que o governo ofereceu por causa da pandemia.

Na esperança de incentivar a vacinação, as autoridades sérvias aplicaram suas vacinas diante das câmeras. No entanto, eles próprios estão divididos sobre a possibilidade de obter vacinas feitas no Ocidente, como a da Pfizer-BioNTech, ou a Sputnik V, da Rússia - mais divisões em um país que está formalmente buscando a adesão à União Europeia, mas onde muitos preferem uma aproximação com Moscou.

O presidente sérvio Aleksandar Vucic recebeu um carregamento de 1 milhão de doses da vacina chinesa Sinopharm, dizendo que ele receberia uma aplicação para mostrar que o imunizante é seguro. "Os sérvios preferem a vacina russa", dizia uma manchete recente do Informer, um tablóide pró-governo, uma vez que autoridades anunciaram que 38% daqueles que se inscreveram para tomar as vacinas preferem a vacina russa, enquanto 31% querem a versão Pfizer-BioNTech - uma divisão grosseira entre os pró-russos e os pró-ocidentais na Sérvia.

Na vizinha Bósnia, um país dilacerado pela guerra que permanece etnicamente dividido entre sérvios, bósnios e croatas, a política também é um fator determinante, já que a metade sérvia parecia decidida a optar pela vacina russa, enquanto a parte bósnia-croata provavelmente se voltará para os ocidentais.

Um estudo feito pelo Grupo Consultivo para Políticas dos Bálcãs na Europa (BiEPAG), publicado antes da

campanha regional de vacinação iniciada em dezembro, concluiu que teorias da conspiração relacionadas ao vírus são acreditadas por quase 80% dos cidadãos dos países do Bálcãs que estão se esforçando para aderir à UE. Cerca de metade deles se recusará a ser vacinado, indicou a pesquisa.

Teorias infundadas alegam que o vírus não é real ou que é uma arma biológica criada pelos EUA ou seus adversários. Outra teoria popular afirma que o fundador da Microsoft Bill Gates está usando vacinas da covid-19 para implantar microchips em 7 bilhões de pessoas do planeta. O baixo nível de informação sobre o vírus e as vacinas, a desconfiança em governos e repetidas afirmações de autoridades de que seus países são sitiados por estrangeiros ajudam a explicar a alta prevalência de tais crenças, de acordo especialistas da região.

Tendências semelhantes foram observadas em alguns países do leste europeu e que fazem parte da União Europeia. Na Bulgária, as teorias da conspiração generalizadas prejudicaram os esforços anteriores para lidar com um surto de sarampo. Estudos sugeriram que a desconfiança nas vacinas continua alta, mesmo com o aumento de casos de coronavírus. Uma pesquisa recente da Gallup International indicou que 30% dos entrevistados desejam ser vacinados, 46% se recusam e 24% estão indecisos.

Na República Tcheca, onde as pesquisas mostram que cerca de 40% rejeitam a vacinação, manifestantes em um grande protesto contra as restrições determinadas pelo governo por causa do vírus exigiram que a vacinação não fosse obrigatória. O ex-presidente Vaclav Klaus, um crítico feroz da resposta do governo à pandemia, disse à multidão que as vacinas não são uma solução. "Eles dizem que tudo será resolvido com uma vacina milagrosa", disse Klaus, que insiste que as pessoas devem ser expostas ao vírus para obter imunidade, o que os especialistas rejeitam.

Fonte: Associated Press

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