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Irã admite quebra de acordo nuclear descoberta pela inspeção da ONU

O Irã admitiu uma nova violação do acordo nuclear de 2015, e o uso de centrífugas avançadas de enriquecimento de urânio instaladas em sua usina nuclear subterrânea em Natanz, informou o jornal britânico The Guardian.

A constatação foi feita pela inspetoria de armas nucleares da ONU, a Associação Internacional de Energia Atômica, e confirmada pelo embaixador iraniano na AIEA.

O presidente dos EUA, Donald Trump, considerou na semana passada, mas rejeitou um ataque militar em Natanz, ao sul de Teerã, e no principal local de enriquecimento de urânio do país.

Mas o último movimento do Irã pode ser considerado por seu governo como uma provocação que muda seu cálculo de risco, ou o de Israel. O desenvolvimento vem semanas antes de ele deixar o cargo e ser substituído por Joe Biden, que está empenhado em voltar a entrar no acordo nuclear fechado com os iranianos no governo Barack Obama.

Segundo o acordo nuclear de 2015, a República Islâmica só pode acumular urânio enriquecido com máquinas IR-1, de primeira geração, que são as únicas com permissão para operar na usina subterrânea. Mas o relatório da AIEA disse que Teerã estava alimentando hexafluoreto de urânio (UF6) com matéria-prima de gás em máquinas IR-2m avançadas - material que pode ser usado em uma bomba nuclear.

Um relatório anterior da AIEA disse que o Irã instalou as máquinas IR-2m no subsolo. E em seu último relatório, datado de terça-feira, a AIEA afirma: "Em 14 de novembro de 2020, a Agência verificou que o Irã começou a alimentar UF6 na cascata recentemente instalada de 174 centrífugas IR-2m na Planta de Enriquecimento de Combustível (FEP) em Natanz."

O relatório anterior foi baseado em uma visita à planta em 2 de novembro, antes de Biden ser eleito, mas esta última avaliação é baseada em ações iranianas após a vitória de Biden.

O Irã tem violado constantemente os limites estabelecidos no acordo nuclear, no que retrata como uma resposta "calculada e justificada" à decisão dos EUA de desistir do acordo, impor sanções paralisantes e punir empresas europeias que buscam comercializar com o país.

O Irã já havia informado à agência que iria transferir três máquinas de enriquecimento de urânio de uma planta-piloto acima do solo na instalação nuclear de Natanz para a subterrânea. Isso aconteceu depois que a oficina de centrifugação acima do solo explodiu em um aparente ato de sabotagem. A explosão foi atribuída a um incêndio, mas não ficou claro se Israel estava envolvido.

Até agora, o Irã está usando apenas 174 de seus IR-2ms - o país possui mais de 1.000 máquinas do tipo. O acordo permite que o Irã use cerca de 6.000 máquinas IR-1s. Se Teerã mantiver baixo o número de IR-2ms em uso, e mesmo que em algum ponto instale outras centrífugas mais avançadas, mas também mantenha seus números baixos, o país poderia argumentar que está simplesmente tentando restaurar o que tinha acima do solo antes da explosão.

A AIEA declarou na semana passada que as explicações de Teerã eram insatisfatórias sobre como e por que certas partículas nucleares relacionadas ao programa foram encontradas por inspetores da agência em locais onde não deveriam estar presentes.

Em uma longa entrevista publicada na terça-feira, 17, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, esclareceu a abordagem do Irã nas negociações com um governo Biden.

Ele disse: "se os EUA implementarem seus compromissos no âmbito da resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, implementaremos nossos compromissos no âmbito do acordo nuclear. Isso pode ser feito automaticamente e não precisa de negociações. Mas se os EUA quiserem voltar ao acordo, estaremos prontos para negociar."

A formulação de Zarif sugere que assim que os EUA suspenderem suas sanções ao Irã, o país voltaria a cumprir o acordo nuclear e pararia de violar os limites de enriquecimento de urânio. Mas Zarif está resistindo a permitir que os EUA voltem ao acordo até que tenha garantias de que os EUA não usarão seu direito de declarar o Irã violador dos termos do acordo e, assim, exigir que a ONU como um todo imponha novas sanções ao Irã.

A disputa com os EUA está sendo travada em um cenário cada vez mais sombrio de mortes crescentes em todo o Irã devido à propagação do coronavírus.

As autoridades de saúde anunciaram na quarta-feira que um recorde de 13.421 novos pacientes foram identificados nas 24 horas anteriores e mais 480 pessoas morreram. O total oficial de mortos é de 42.941. A espiral de novas infecções sugere que o número de mortos continuará a aumentar, pressionando economicamente um país já em dificuldades por causa das sanções americanas.

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