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Meta de sair do acordo de Paris é consumada pelos Estados Unidos

A decisão foi tomada em 2017 por Donald Trump, mas tem trâmites concluídos nesta quarta-feira, 4

Poucos temas marcam tanto a diferença entre Donald Trump e Joe Biden quanto a questão ambiental. Os dois discordam em tudo, do manejo de florestas às metas de emissão de carbono. E nada exemplifica melhor a divisão do que o Acordo de Paris. Trump quer os EUA fora. Biden promete voltar ao pacto.

Nesta quarta-feira, 4, mesmo com dois terços dos americanos opinando que o governo deveria fazer mais para conter as mudanças climáticas, o país sai oficialmente do acordo.

A decisão, uma promessa de campanha de Trump, foi tomada em 2017, mas só agora os trâmites de saída serão concluídos. Em quatro anos de mandato, Trump adotou uma agenda marcada pelo desmantelamento das regulações ambientais. Ele reverteu ou revogou várias regras, desde a proteção para pássaros migratórios até o Plano de Energia Limpa de seu antecessor, Barack Obama.

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O centro de estudos Rhodium Group analisou o impacto dessas reversões e concluiu que, se não forem desfeitas, adicionarão cerca de 1,8 bilhão de toneladas de CO2 à atmosfera até 2035.

O impacto é equivalente a quase um terço de todas as emissões dos EUA em 2019, o segundo maior emissor mundial, atrás da China. É mais do que emitiram Alemanha, Reino Unido e Canadá juntos pelo uso de energia em 2018, segundo levantamento do The New York Times.

As emissões de gases estufa são o principal fator do aquecimento global, que está causando cada vez mais danos nos EUA e no mundo. Segundo especialistas, as inundações são cada vez mais frequentes ao longo das costas e as ondas de calor, mais violentas. A elevação da temperatura média do planeta também está ligada ao aumento do risco de incêndios na Costa Oeste americana.

Até a semana que antecedeu as eleições nos EUA, a Califórnia já somava 31 mortos em razão dos violentos incêndios florestais desta temporada, que devastaram quase 2 milhões de hectares do Estado, mais do que a soma da área queimada nos últimos três anos juntos.

O democrata Joe Biden prometeu voltar ao Acordo de Paris e pressionar os signatários a elevar as ambições de suas metas climáticas. Ele propôs gastar US$ 2 trilhões em um plano para zerar as emissões até 2050, com uma meta intermediária de livrar o setor de energia da poluição por carbono até 2035.

No entanto, em razão da complexidade no processo de regulamentação das mudanças estruturais implementadas pelo governo republicano, desfazer as reversões ambientais de Trump pode levar anos, segundo o Brookings Institution.

Mesmo para Trump, o caminho não será tão simples, já que seus atos estão sendo contestados em tribunais por Estados e grupos ambientalistas. Muitos já foram derrubados ou estão sob apelação.

A perspectiva dos especialistas é que muitos desses processos acabem na Suprema Corte, que teve uma maioria conservadora ampliada com folga com as três indicações feitas por Trump em quatro anos. Com essas reversões, segundo Carol Franco, pesquisadora da Faculdade de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Virginia Tech, Trump conseguiu cumprir a promessa de conduzir uma política desregulatória e favorável ao mundo dos negócios.

"É possível que alguns argumentem que as medidas climáticas, ou a ausência delas, implementadas por este governo possam ter resultado em ganhos para algumas empresas, mas apenas no curto prazo, e à custa da saúde humana e da degradação ambiental", afirma Carol.

Segundo ela, impor fortes medidas de proteção ambiental e climática não impede o país de se desenvolver de forma sustentável. "O desenvolvimento econômico pode ser um complemento e não um prejuízo para o meio ambiente, como é o caso da Califórnia", diz.

Para a professora de estudos de políticas públicas da Universidade DePaul, Kelly Tzoumis, trata-se de uma premissa antiga e uma falsa dicotomia colocar economia contra meio ambiente.

"Esse argumento foi usado na década de 80 e a economia dos EUA já ultrapassou esse pensamento. Temos exemplos claros da criação de empregos em energias renováveis, como eólica e solar, além do colapso da indústria do carvão", diz Tzoumis.

Em geral, a mudança de curso do governo americano não interrompeu o que os Estados vinham fazendo para lidar com as mudanças climáticas. Além da Califórnia, que fechou acordo com cinco fabricantes de automóveis para que mantivessem os padrões de economia de combustível da era Obama, Colorado e Novo México criaram políticas para conter vazamentos de metano e ao menos outros 16 Estados anunciaram planos para reduzir o uso dos gases hidrofluorcarbonetos (HFCs).

Em parte por causa dessas ações, as emissões nos EUA deverão estar menores no fim do primeiro mandato de Trump do que quando ele assumiu. Mas ainda assim podem ficar mais altas do que seriam se as regras adotadas no passado tivessem ficado em vigor.

Segundo Tzoumis, que analisou a história das ordens executivas na formulação de políticas e decisões ambientais, de Franklin Roosevelt a Barack Obama, é interessante observar que, ao mesmo tempo em que o governo adota a desregulamentação ambiental, os americanos veem de forma positiva as metas sustentáveis da ONU.

Pesquisa de junho do Pew Research Center mostra que dois terços dos americanos veem os efeitos das mudanças climáticas em suas comunidades e acreditam que o governo erra em não reduzir seus impactos.

A maioria - incluindo mais da metade dos republicanos e uma parcela esmagadora de democratas - diz ser favorável a iniciativas climáticas. "Embora eu seja cuidadosa ao fazer previsões sobre os caminhos futuros da política ambiental para os EUA, essa incongruência me leva a pensar que uma mudança está chegando", diz Tzoumis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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