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O que Trump fez mesmo pela economia americana?

00:03 | Set. 22, 2020
Autor DW
Tipo Notícia
"Fazer a América grande novamente": com esse slogan, o bilionário republicano prometia nova prosperidade à população. Às vésperas da nova eleição, está claro que suas vitórias econômicas têm custo alto – e fôlego curto.Na eleição presidencial americana de 2016, grande parcela do eleitorado de classe média de Barack Obama passou para o lado de Donald Trump, cuja campanha se baseava na promessa Make America Great Again – fazer os Estados Unidos grandes novamente. Jurando drenar o pântano de Washington, que vendera milhões de empregos para o exterior, o comerciante bilionário e apresentador de reality show encontrou ressonância entre os eleitores que, durante anos, toleraram o êxodo de empregos de alto salário, vencimentos estagnados ou em queda, e aumento da insegurança profissional. Em agosto de 2018, Trump se gabava de que haviam sido criados meio milhão de postos de trabalho, e que sua agressiva política protecionista – que incluía rasgar acordos comerciais, impor sobretaxas aduaneiras ao alumínio e aço importados, além da, mais ampla, guerra comercial com a China – estaria beneficiando a população dos Estados Unidos. Entretanto um relatório do Instituto de Política Econômica publicado em agosto contradizia tais alegações. Longe de reenergizar o assim chamado Cinturão da Ferrugem – antigas áreas industriais do nordeste dos EUA que sofreram dramático declínio econômico desde a década de 1990 –, foram criados menos empregos no setor manufatureiro do que os que deixaram o país, nos primeiros dois anos do governo Trump. O think tank sediado em Washington resume: "As políticas comercais de Trump, erráticas, guiadas por seu ego e inconsistentes, não alcançaram nenhum progresso mensurável, apesar de sua nova retórica combativa. Além disso, a covid-19 – e a gestão de consequente crise pela administração – anularam muitos dos ganhos de empregos na manufatura americana." De janeiro a julho de 2020, os EUA perderam quase 750 mil postos no setor, dando ainda mais peso às acusações de que Trump é um presidente industrial numa nação pós-industrial. Afinal, a manufatura é responsável por apenas 11% do PIB nacional, o nível mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial. Sucessos econômicos questionáveis Agora candidato a um segundo mandato na Casa Branca, o magnata dos imóveis é alvo de escárnio por sua resposta inconsistente à pandemia do coronavírus. Assim, estando pau a pau com seu rival democrata Joe Biden, ele tem destacado os sucessos econômicos de sua primeira presidência. Ele se vangloria regularmente de que a bolsa de valores disparou sob sua liderança, mesmo após o choque inicial da paralisação forçada pelo coronavírus. Desde que ele tomou posse, em janeiro de 2017, o índice Dow Jones aumentou quase 40%, alcançando o recorde de 29.570 em fevereiro último, enquanto o Nasdaq mais do que dobrou. Segundo diversos economistas, contudo, o boom do mercado de ações começou sob o antecessor Obama, sendo impulsionado por trilhões de dólares em flexibilização quantitativa por parte do banco central americano, e recompras de títulos por protagonistas do porte da Apple, Microsoft e Alphabet Inc, a empresa-mãe da Google. Os investidores comuns não lucraram tanto com o meteórico crescimento financeiro quanto o grande empresariado. "Antes da pandemia, em termos de crescimento, mais empregos e inflação, a economia dos EUA teve desempenho semelhante ao sob a administração Obama", confirmou à DW Joel Prakken, economista-chefe para os EUA da IHS Market: Quanto aos êxitos econômicos pelos quais Trump pode assumir crédito, eles foram "poucos, se é que houve algum". Os cortes de impostos são outro objeto de orgulho do republicano. Em 2017, a alíquota máxima individual foi reduzida de 39,6% para 37%, até 2025, enquanto a para pessoas jurídicas caiu permanentemente, de 35% para 21%. Segundo Prakken, esses cortes ajudaram a impulsionar o mercado de ações de 5% a 7%, mas também acarretaram "aumento significativo do déficit orçamentário americano, com potenciais implicações negativas de longo prazo para o padrão de vida nacional". Em relatório publicado pouco depois de o pacote fiscal entrar em vigor, o apartidário Tax Policy Center identificava que os 20% mais abastados entre os americanos se beneficiaram com mais de 60% dos cortes de Trump. Economistas apontaram que todo aumento dos gastos com consumo e investimento empresarial teve fôlego curto, e só uma pequena parte das vantagens chegou até os americanos de baixa renda. Apesar disso, Trump prometeu tornar permanentes os cortes tributários individuais e reduzir os descontos na fonte – caso seja reeleito. Perdas superam ganhos Trump tem se gabado muito de sua abordagem comercial "America first", inclusive a arrecadação de bilhões em tarifas punitivas impostas à China – a qual, alega, teria obtido vantagens indevidas sobre os EUA. Ele insiste que sua política pressionou as multinacionais a trazerem os empregos de volta ao país e forçou outras nações a abrirem para as firmas americanas os seus mercados restritos, com os cortes fiscais como incentivo adicional. O perito da IHS Market discorda: "As sobretaxas contra a China não fizeram muito pelo setor manufatureiro, mas prejudicaram o faturamento agrícola." E acrescenta que as políticas do presidente não trouxeram uma alteração notável dos investimentos estrangeiros diretos, enquanto milhares de agricultores americanos faliram quando Pequim restringiu as importações dos EUA. Em julho, o Nafta 2.0 – uma atualização do Acordo de Livre-Comércio Norte-Americano, fechado há 25 anos entre EUA, Canadá e México – entrou em vigor. A promessa é que criariam 180 mil novos empregos, no entanto o pacto não inclui nenhuma cláusula que impeça a substituição por mão de obra barata mexicana. Assim, os fabricantes de automóveis americanos continuam a realocar suas fábricas para o outro lado da fronteira. O ponto positivo para Trump poderia ser a flexibilidade da economia americana, que se recuperou rapidamente da pandemia, após os 40 milhões de demissões ditados pela paralisação. Segundo vários economistas, contudo, as próximas sete semanas antes das eleições não bastarão para os americanos readquirirem sua confiança econômica de antes da crise sanitária. "A maioria dos modelos do impacto da economia sobre as eleições nos EUA enfatiza o papel do nível de emprego e crescimento econômico dos seis a nove meses antes do pleito", explica Joel Prakken. "Então, a recuperação provavelmente chegará tarde demais para melhorar as chances de reeleição do presidente, sobretudo com certos dados de curto prazo sugerindo uma desaceleração da economia, após o aquecimento de verão." Autor: Nik Martin

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