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Familiares de pessoas que morreram de coronavírus na Itália fazem queixa na Justiça

Grupo de parentes de mortes pela Covid-19 prestou queixa no tribunal de Bérgamo por negligência e erros na gestão da pandemia na Itália, que demorou a responder à crise sanitária
16:42 | Jun. 10, 2020
Autor AFP
Tipo Notícia

Um grupo de parentes de vítimas do coronavírus entrou nesta quarta-feira com uma queixa no tribunal de Bérgamo, no norte da Itália, por negligência e erros na gestão da pandemia que matou mais de 34.000 pessoas no país.

É a primeira ação legal em grupo movida na península, que está entre os países mais atingidos pelo coronavírus.

"Não queremos vingança, queremos justiça", disse Stefano Fusco, 31 anos, um dos fundadores do grupo no Facebook "Vamos denunciar. Verdade e justiça para as vítimas da Covid-19", doença que matou seu avô em março em um asilo.

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Acompanhados por advogados e membros do comitê, os parentes apresentaram 50 queixas ao Ministério Público em Bérgamo, a cidade mártir da pandemia, "porque se tornou o símbolo dessa tragédia", explicou.

A página no Facebook, que em apenas dois meses teve mais de 50.000 adesões, tornou-se um comitê nacional, com advogados que estudam apresentar outras 150 queixas, explicou Fusco.

Os familiares acusam as autoridades de terem demorado a declarar a cidade como "zona vermelha", algo que a associação, assim como alguns partidos e sindicatos, atribuem ao fato de que os interesses econômicos prevaleceram sobre os da saúde, por ser uma zona industrial próspera.

O MP de Bérgamo já abriu uma investigação sobre o caso e ouviu os depoimentos de políticos, incluindo o governador da Lombardia, Attilio Fontana.

As autoridades judiciais pediram para falar com o primeiro-ministro Giuseppe Conte como "pessoa informada" dos fatos, segundo fontes da imprensa local nesta quarta.

Os magistrados desejam escutar Conte e dois ministros sobre os atrasos em declarar os municípios de Nembro e Alzano Lombardo como "zona vermelha", particularmente afetados pela epidemia."

"Vou declarar tudo o que sei, com consciência. Estou calmo", afirmu o primeiro-ministro, acrescentando que se encontrará com os promotores na sexta-feira. "Os cidadãos têm o direito de saber e nós temos a obrigação de responder", acrescentou.

 Os familiares também questionam a política de cortes aplicada há anos ao sistema de saúde para favorecer uma privatização. Alguns parentes relataram as tragédias sofridas, devido à falta de informações ou à falta de cuidados durante a emergência de saúde.

O MP deve agora decidir se existem elementos para a abertura de um julgamento.

Lágrimas de sangue

Cristina Longhini, farmacêutica que perdeu o pai Claudio, 65 anos, durante a pandemia espera descobrir a verdade sobre a morte de seu progenitor no hospital de Bergamo. "Meu pai havia acabado de se aposentar, estava em boas condições físicas, quando começou a apresentar sintomas, febre, disenteria e vômito", disse ela à imprensa.

"Quando ele morreu, eles esqueceram de nos notificar", lamenta Longhini, que mais tarde precisou identificar o corpo.

"Ele estava irreconhecível, sua boca estava aberta, seus olhos estavam inchados, ele tinha lágrimas de sangue nas órbitas", lembra Longhini. "Eles me entregaram seus objetos pessoais em um saco de lixo, incluindo roupas manchadas de sangue, testemunho de seu sofrimento e também infectada", relata.

Como os cemitérios locais estavam cheios, o caixão foi transportado, juntamente com vários outros, em um caminhão militar para um destino desconhecido da família, que finalmente descobriu porque recebeu pelo correio a conta da funerária por sua cremação, 200 km de distância.

"Queremos saber, ponto por ponto, como foi o tratamento na emergência, os erros, responsabilidades", explicou à imprensa o presidente do comitê, Luca Fusco (pai de Stefano).

"Para o povo de Bergamo, para todos os que perderam um ente querido, pedimos justiça", diz Laura Capella, 57 anos, membro do comitê que, como os outros parentes, não aspira a obter indenização.

 

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