Quem são os "amigos" de Trump na Ucrânia?
"Tenho muitos amigos ucranianos", disse o líder americano em polêmica conversa telefônica com Volodymyr Zelensky, presidente da antiga república soviética. A DW examinou sobre quem Trump poderia estar falando.Donald Trump nunca esteve na Ucrânia e nunca se interessou pelo país. Além disso, acusou a antiga república soviética de sabotar sua campanha eleitoral em 2016. Na época, informações provenientes de Kiev levaram à renúncia de seu gerente de campanha, Paul Manafort, que anteriormente assessorara na Ucrânia o Partido das Regiões (PR), pró-Rússia, recebendo pagamento supostamente ilegal.
Sobre tal pano de fundo, a relação do bilionário americano com o então presidente ucraniano, Petro Poroshenko, foi marcada por reservas. No entanto, num telefonema, em julho, com o sucessor de Poroshenko, Volodymyr Zelensky, que agora está sendo motivo de escândalo, Trump não poupou elogios: "É um ótimo país, tenho muitos amigos ucranianos, são pessoas incríveis."
A DW examinou a questão de quem poderiam ser esses "amigos" de Trump.
Victor Pinchuk
As conexões ucranianas de Trump incluem aqueles que o conhecem e aqueles que adquiriram seus imóveis. Na primeira categoria, o mais famoso é o bilionário Victor Pinchuk. Uma das primeiras aparições públicas de Trump relacionada ao tema da Ucrânia está ligada ao nome de Pinchuk.
O então promissor pré-candidato republicano nas eleições presidenciais participou por videoconferência, em setembro de 2015, do Forum YES, um evento privado, organizado por Pinchuk, em que políticos e especialistas ocidentais discutiram o relacionamento da Ucrânia com o Ocidente.
Na Ucrânia, Pinchuk é um dos assim chamados oligarcas. Ele aparece entre os ucranianos mais ricos em vários rankings de fortuna. O magnata de 58 anos é genro do ex-presidente ucraniano Leonid Kuchma é vem de Dnipro (antes Dnipropetrovsk), possui uma empresa de fabricação de tubos e um grupo de mídia – incluindo as emissoras de TV STB e ICTV.
A participação de Trump durou cerca de 20 minutos e custou a Pinchuk, segundo relatos da mídia, 150 mil dólares. Não se sabe se eles têm interesses comerciais comuns. Durante o fórum, as perguntas foram feitas por Douglas Schoen, publicitário, cientista político e comentarista da Fox News, emissora predileta de Trump.
Schoen trabalha para Pinchuk há muito tempo e está registrado no Departamento de Justiça dos EUA como seu lobista oficial. Na ocasião, Trump disse conhecer "muitas pessoas que vivem na Ucrânia", chamou-as de "fantásticas" e elogiou Pinchuk: "Victor é uma pessoa especial e um empreendedor especial. Quando ele veio me visitar, eu lhe disse que talvez pudesse aprender mais com ele do que ele comigo." Trump também disse o que repetiria quatro anos depois na conversa telefônica com Zelensky: que países europeus, incluindo a Alemanha, teriam feito muito pouco pela Ucrânia.
Pavlo Fuks
Outro conhecido empresário ucraniano com quem Trump nutre laços é Pavlo Fuks. Apesar de ser de calibre menor que Pinchuk, sabe-se mais sobre suas conexões com o atual presidente americano.
O empresário e milionário de 47 anos, de Kharkiv, no leste da Ucrânia, atua na Rússia há muito tempo, tendo fundado lá uma grande empresa imobiliária. Em entrevista à agência Bloomberg, Fuks disse ter conhecido Trump em 2005 e se encontrado várias vezes com ele e seus filhos Ivanka e Donald Jr.. A ideia era construir uma Trump Tower em Moscou, contou Fuks. O acordo não foi concretizado, pois Trump teria exigifo um preço alto demais.
Fuks vive atualmente na Ucrânia. Na Rússia, seu nome consta de uma lista de sanções introduzida por Moscou em resposta às medidas punitivas de Kiev. É sabido que, em fevereiro de 2017, Fuks foi um dos ucranianos que viajaram para a posse de Trump, mas não esteve presente na cerimônia.
No segundo semestre do mesmo ano, Pavlo Fuks organizou uma visita de Rudy Giuliani a Kharkiv. O ex-prefeito de Nova York é advogado pessoal de Trump e se encontra agora no foco do escândalo em torno do telefonema com Zelensky.
Segundo informações oficiais, Giuliani viajou a Kharkiv para compartilhar suas experiências como prefeito de Nova York após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Durante a eleição presidencial na Ucrânia, no início de 2019, a mídia nacional noticiou que Fuks teria cofinanciado a campanha de Zelensky, o que o empresário negou.
Vitali Klitschko
O prefeito de Kiev e ex-campeão mundial de boxe Vitali Klitschko também nutre laços estreitos com Giuliani, e também conhece Trump pessoalmente. Quando um conflito eclodiu entre Klitschko e o chefe do gabinete presidencial de Zelensky, em meados do ano, o ex-boxeador de 48 anos viajou até Giuliani em Nova York e postou uma foto conjunta nas mídias sociais – aparentemente a fim de mostrar que tinha apoiadores poderosos na batalha pela chefia do governo de Kiev.
A viagem aconteceu alguns dias após o telefonema de Trump com Zelensky, no qual o presidente dos EUA mencionou o nome de Giuliani como pessoa de contato no contexto de eventuais investigações sobre as atividades do ex-vice-presidente Joe Biden e seu filho Hunter na Ucrânia. À margem de um evento em Kiev, na terça-feira, Klitschko assegurou não haver conversado com Giuliani sobre Biden.
Ele e seu irmão Vladimir, também ex-boxeador profissional, conheceram Trump durante sua carreira esportiva, dissera Vitali anteriormente, numa entrevista à emissora de TV 112 Ukraine.
Segundo Klitschko, os dois irmãos lutaram no antigo cassino de Trump Taj Mahal, que o bilionário costumava frequentar. Ali, já foram convidados do atual presidente americano, informou o prefeito de Kiev.
Igor Fruman e Lev Parnas
Há também outras figuras menos conhecidas com vínculos com a Ucrânia, cujos nomes são mencionados em conexão com o escândalo atual. Duas se destacam: Igor Fruman e Lev Parnas, empresários da Flórida com raízes e laços em Odessa.
Segundo reportagens da mídia americana, Fruman, de 53 anos, e Parnas, de 47 anos, chamaram atenção recentemente por doações para eventos de Trump e candidatos republicanos em diversas eleições. Consta que se encontraram com Trump e seu filho Donald Jr.. O mais importante, no entanto, é que ambos são clientes de Giuliani. Consta também que ajudaram o advogado de Trump a estabelecer contatos na Ucrânia no caso Biden, inclusive com ex-procuradores-gerais.
Compradores de imóveis de Trump
Presume-se que dez ou mais ucranianos adquiriram imóveis de Trump ou cofinanciaram sua construção, não apenas nos EUA. Entre eles, nomes conhecidos, como o ex-chefe do conselho distrital de uma grande cidade no Leste da Ucrânia, ou a filha de um ex-empresário ucraniano suspeito de lavagem de dinheiro. É difícil descobrir quantas são, exatamente, essas personagens.
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Autor: Roman Goncharenko (ca)
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