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Opinião: Furacão político sacode Porto Rico

01:51 | Jul. 26, 2019
Autor DW
Tipo Notícia
Revelação de diálogos foi a gota d’água para queda do governador da ilha, que há anos sofre com endividamento e efeitos de furacão. Os porto-riquenhos estão indignados com seus representantes, opina Carolina Chimoy.Dois anos atrás, foi um furacão – hoje é uma tempestade política que sacode a ilha com cerca de 3,2 milhões de habitantes. Com seus protestos pacíficos nas ruas, centenas de milhares de pessoas indignadas obrigaram o governador a renunciar. A última vez que tantos manifestantes tomaram as ruas de Porto Rico foi em 2017, quando o furacão Maria devastou a ilha, mas a ajuda de seu próprio país não se concretizou – ou seja, dos EUA. Para compreender a tempestade política em Porto Rico, é preciso entender o que significa ser parte dos Estados Unidos da América: embora os porto-riquenhos paguem impostos nos EUA, eles não podem participar das eleições presidenciais e são representados no Congresso por uma parlamentar sem poder de voto. Então, quando se trata do uso indevido de fundos públicos, trata-se do uso indevido de dinheiro público americano. Os manifestantes acusavam o ex-governador, Ricardo Rosselló, de ter usado fundos estatais para fins próprios. Adicione a isso o fato de que o território está fortemente endividado há anos e, portanto, praticamente insolvente. A rede de corrupção envolvendo o governador, o ex-ministro da Economia e outros correligionários, veio à luz por meio de um bate-papo na plataforma Telegram. As conversas, que impressas somam aproximadamente 900 páginas, ocorreram entre Rosselló e 11 de seus assessores, entre eles políticos de alto escalão do território. No bate-papo, foram planejadas não apenas decisões sobre gastos de fundos estatais e sobre a manipulação de informações públicas – a "gota d'água", a razão pela qual o povo de Porto Rico está mais indignado do que nunca é outra parte do conteúdo do bate-papo. Os participantes fazem declarações discriminatórias, insultuosas e obscenas sobre mulheres, por exemplo, chamando-as de "prostitutas"; sobre homossexuais, sobre pessoas com excesso de peso – e até zombaram das vítimas do furacão Maria em 2017. Consta também que o governador interveio no Judiciário ao nomear para a Corte Suprema de Porto Rico juízes que simpatizam fortemente com ele e seu governo. O ex-governador Rosselló pode, assim, ser acusado judicialmente de malversação de fundos públicos e corrupção, mas a população também o critica do ponto de vista moral e ético. Por isso porto-riquenhos foram às ruas nos últimos dias – eles estão indignados com a política e seus representantes. A situação é absurda. Há dois anos o governador, apoiado por democratas e republicanos, sorria para as câmeras, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, atirava rolos de papel toalha para vítimas do Furacão Maria. Hoje, Roselló ficou isolado e vem sendo criticado tanto por Trump quanto pela representante de Porto Rico no Congresso. Ela também pediu a renúncia do governador. Nesse contexto, tons sexistas não são estranhos ao presidente, e Trump também instalou seu candidato como juiz na Suprema Corte dos EUA. Faltou somente a indignação moral das massas na parte continental dos Estados Unidos. Em vez disso, o presidente aponta o dedo para a pequena ilha no Caribe. ______________ A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter Autor: Carolina Chimoy

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