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Bolsonaro tenta se manter no comando do Brasil de um quarto de hospital

09:08 | Fev. 13, 2019
Autor AFP
Tipo Notícia

As grandes definições como a crucial reforma da Previdência prometidas aos investidores aguardam pela recuperação do presidente Jair Bolsonaro, que se encontra internado há duas semanas depois de passar por uma cirurgia abdominal.

Bolsonaro poderá receber alta ainda esta semana, mas esse período de administração em ritmo de espera expôs atritos e lutas pelo poder em seu novo governo.

Uma dessas linhas de tensão se manifestou entre Bolsonaro e seu vice-presidente, Hamilton Mourão, que só o substituiu no cargo no dia da operação e no dia seguinte.

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Desde então, Bolsonaro voltou a assumir suas funções, mesmo do quarto de hospital, embora os médicos o mantivessem até agora em um regime de visitas restritas e recomendaram que ele falasse o menos possível.

"Você quer me matar? ", indagou Bolsonaro a Mourão em uma conversa por telefone no fim de semana passado, segundo relatou o vice-presidente à imprensa, esclarecendo que se tratava de uma brincadeira.

Vários analistas, no entanto, consideram que a atividade reduzida de Bolsonaro gera consequências.

"Há uma espécie de vácuo de poder nessas semanas, com a longa ausência do presidente", afirmou Thomaz Favaro, diretor da empresa de consultoria Control Risks.

"Acho que gera um pouco de preocupação. O governo já nomeou centenas de funcionários para as empresas públicas, órgãos reguladores, até ministros de gabinete, e, embora eles tenham recebido normativas ou ideias sobre como devem se portar, muitos ainda tem dúvidas sobre como eles devem implementar a sua agenda", acrescentou.

Bolsonaro, 63 anos, está hospitalizado desde 28 de janeiro, depois de ser submetido a uma cirurgia para retirar a bolsa de colostomia que precisou usar após a facada que levou durante a campanha eleitoral de 2018.

Durante sua hospitalização, Bolsonaro quis manter a imagem de um líder à frente do país. Sua principal ferramenta, como durante a campanha eleitoral, tem sido as redes sociais, através das quais publica textos, fotos e vídeos de suas atividades diárias e o progresso de sua recuperação e comentários sobre questões políticas.

Seus poucos visitantes são vistos usando máscaras higiênicas, como uma condição médica clara para que possam se encontrar com o chefe de Estado convalescente.

Os brasileiros monitoram diariamente seu estado de saúde por meio de boletins médicos e coletivas de imprensa de seu porta-voz, que relatou contratempos como o registrado há alguns dias com o surgimento de uma pneumonia.

Mas as disputas entre seus aliados em torno das prioridades de seu governo e das diretrizes da reforma previdenciária criaram alguns desgastes que Bolsonaro deverá resolver rapidamente assim que retornar a Brasília.

E terá de conter a influência de Mourão, um general na reserva que, apesar de não tê-lo substituído oficialmente, andou bem ativo em seus contatos com políticos, jornalistas e diplomatas.

O vice-presidente irritou as pessoas mais próximas de Bolsonaro - incluindo seus filhos, três dos quais são políticos - ao questionar publicamente os argumentos oficiais que justificaram a flexibilização da posse de armas e a promessa presidencial de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Em editorial, o Estado de São Paulo lamentou a "paralisia administrativa" causada pela prolongada hospitalização de Bolsonaro.

"O governo hoje é exercido por alguém sem condições de saúde para tal, sofrendo influência direta e ampla dos filhos - que não receberam um único voto para presidente nem ocupam cargos de ministros. O exercício da Presidência pelo vice-presidente deve respeitar o que diz a Constituição, e não o que ditam os filhos do presidente. Não se trata de uma questão familiar, mas institucional".

A reforma da Previdência complica ainda mais a situação nos bastidores. Bolsonaro conquistou a presidência, em parte, por prometer aos investidores uma revisão da economia protecionista do Brasil. A tarefa foi delegada a seu ministro da Economia, Paulo Guedes, um liberal formado nos Estados Unidos.

Os dois estão publicamente em sintonia, mas mantêm diferenças em torno do tema da reforma previdenciária, essencial para a limpeza das contas públicas.

O chefe do gabinete, Onyx Lorenzoni - que diz ter uma relação distante com Guedes - disse que o projeto será apresentado esta semana antes de ser enviado ao Congresso, mas somente depois de ter o apoio de Bolsonaro.

O vazamento de um rascunho na semana passada mostrou divergências dos conceitos inicialmente defendidos por Bolsonaro sobre a idade mínima para se aposentar.

A reforma exigirá mudanças constitucionais que devem ser votadas por maioria qualificada de três quintos do Congresso.

Se aprovada, poderá gerar uma economia de até um bilhão de reais em uma década, segundo Guedes.

rmb/js/cn

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