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Quem governará a cidade síria de Raqa após a derrota do EI?

06:53 | Jun. 08, 2017
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Uma derrota dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) em Raqa por uma força amplamente dominada por curdos irá aumentar a espinhosa questão do controle da cidade síria, que hoje é habitada majoritariamente por árabes sunitas.


As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança árabe-curda apoiada por Washington, iniciaram a ofensiva final para tomar a "capital" do grupo ultrarradical. Mas a cidade atrai a atenção de outros interessados, como a Turquia e o regime sírio de Bashar al-Assad. Localizada no norte do país em guerra, Raqa, capital da província de mesmo nome, tinha antes da guerra cerca de 300.000 habitantes, em sua maioria árabes sunitas.

 

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Cerca de 20% da população era curda, de acordo com o geógrafo francês e especialista em Síria, Fabrice Balanche. Mas em 2013, dois anos após o início da revolta contra o regime, em março de 2011, a facção síria da Al-Qaeda assumiu o controle da cidade. Um ano mais tarde, o EI tomou conta, forçando a maioria dos curdos a fugir.

 

No início da revolta, os curdos eram suspeitos de tendências separatistas ou mesmo de conivência com o regime que, naquela época, e como resultado de um acordo tácito, se retirou de suas regiões. "A minoria curda de Raqa era suspeita de ser uma quinta coluna", afirma Balanche. Com a saída dos curdos, mas também de milhares de cristãos armênios e siríacos (menos de 1% da população), "a população é hoje 99% árabe sunita", segundo Balanche.

 

Em abril, algumas semanas antes de sua entrada em 6 de junho em Raqa, as FDS anunciaram a criação de um "conselho civil", ao qual confiariam a gestão da cidade, uma vez o EI derrotado. Composto por pessoas originárias da província de Raqa, incluindo chefes tribais e dignitários, "o conselho vai cuidar da justiça, saúde, educação, assuntos da juventude e das mulheres, bem como dos serviços de segurança", explicou à AFP Omar Allouche, responsável pela comunicação no Conselho.

 

"Nós não discutimos se Raqa irá aderir ao sistema federal. Caberá aos habitantes escolher", disse ele. Mas este conselho não tranquilizou os adversários dos curdos que, através das milícias YPG (Unidades de Defesa do Povo Curdo), dominam as FDS desde a sua criação em 2015. Ulcerada pelo apoio dos Estados Unidos às FDS, a Turquia considera "extremamente perigosa" a entrega de armas americanas às YPG, consideradas por Ancara como uma extensão na Síria dos separatistas curdos turcos do PKK, em guerra contra o governo desde 1984.

 

Por sua parte, o regime sírio tem adotado uma posição ambígua. Preocupa-se com a expansão territorial curda, mas considera "legítima" sua luta contra o EI. De acordo com Balanche, "os curdos esperam um cenário semelhante ao de Minbej (norte)", antigo reduto sírio do EI tomado em agosto de 2016 pelas FDS. A cidade foi confiada a um "conselho civil".

 

Mas os opositores dos curdos argumentam que, na prática, a localidade está sob a autoridade das FDS. "Em Minbej há uma minoria curda apoiada no Partido da União Democrática (PYD, principal partido curdo sírio), o que não é o caso em Raqa", ressalta Balanche. As YPG são a ala militar do PYD. Segundo ele, "as tribos de Raqa não estão prontas para aceitar a dominação curda". Faisal al-Sibat, deputado sírio e membro de uma importante tribo árabe de Raqa, al-Welda, concorda.

 

As forças curdas "não têm apoio popular. As tribos em Raqa não reconhecem esse conselho civil e os membros tribais que participam do conselho representam apenas a si mesmos". Desde o início, em novembro de 2016, da ofensiva das FDS para tomar Raqa, o regime de Assad afirma repetidamente a sua intenção de retomar a cidade. Mas "o exército não quer perder homens para retomar Raqa enquanto as FDS puderem assumir o comando", comenta Balanche. O exército está atualmente perto de Maskané, uma centena de km a oeste de Raqa.

 

"Ele está se posicionado nas proximidades, esperando os inevitáveis problemas entre curdos e árabes para se impor como uma opção de estabilização", acredita o analista francês. Para o regime, "é melhor esperar para entrar na cidade por meio de um acordo". O porta-voz das FDS, Talal Sello, não descarta uma participação do exército na batalha. "Depende dos acordos" entre a Rússia, aliada do regime, e os Estados Unidos, hostil à Assad.

 

AFP

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