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Venezuela completa um mês de protestos nas ruas

20:48 | Abr. 29, 2017
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Nuvens de gás lacrimogêneo, chuva de pedras e lojas saqueadas: a Venezuela completa na segunda-feira um mês de agitação marcado por grandes protestos contra o presidente Nicolás Maduro, que motivaram uma oferta renovada de mediação do papa Francisco.
Vinte e oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas desde 1º de abril em incidentes violentos vinculados às manifestações, pelos quais o governo e a oposição se acusam mutuamente. O governo negou neste sábado que a causa da morte de um jovem de 20 anos, na quarta-feira passada, durante protesto contra Maduro em Caracas tenha sido causada pelo impacto de uma bomba de gás lacrimogêneo, disparada por militares, como denuncia a oposição. Frente à tensão crescente, o papa Francisco declarou neste sábado que o Vaticano está disposto a ajudar, mas com "condições muito claras". O pontífice lembrou o fracassado processo de diálogo realizado em outubro passado, com o acompanhamento da Santa Sé, que a oposição abandonou em dezembro, acusando o chavismo de descumprir acordos. "Não deu certo porque as propostas não eram aceitas ou se diluíam. Era um sim, sim, mas não, não", disse Francisco no avião papal, em viagem de volta a Roma após visita ao Egito. A oposição descarta retomar as conversas, embora Maduro tenha insistido em voltar à mesa nos últimos dias. As manifestações ocorrem em uma situação muito complexa. O país com as maiores reservas petrolíferas do mundo sofre uma severa escassez de alimentos e remédios, e com uma inflação, a mais alta do mundo, que o FMI estima em 720% para 2017. "Quero que o meu país se livre desta 'ditadura'. Queremos comida, remédios, segurança", resumiu à AFP a cabeleireira Yoleida Viloria, de 42 anos, que mora no bairro popular Petare (leste de Caracas) e vai a todos os protestos. Maduro diz que seus adversários fazem "terrorismo" para provocar um golpe de Estado e uma intervenção estrangeira. A oposição acusa o governo de reprimir violentamente as manifestações. A queda de braço complica as relações internacionais da Venezuela, que na sexta-feira iniciou sua retirada da Organização dos Estados Americanos (OEA), acusando-a de apoiar essa "intervenção". Na terça-feira, buscará apoio em uma reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) em El Salvador. Os protestos começaram depois que o Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) assumiu no fim de março as funções da Assembleia Nacional, único dos poderes controlado pela oposição. Embora o Tribunal tenha voltado atrás com a decisão devido à forte pressão internacional, a centelha foi acesa. Para lembrar o primeiro mês de manifestações, no 1º de maio, dia que sempre foi marcado por grandes manifestações chavistas, os opositores desafiarão o governo com grandes manifestações rumo às sedes do TSJ e o Conselho Nacional Eleitoral em todo o país. "Resta no 1º de maio demonstrar que, depois de um mês de resistência, agora é que restam forças", desafiou neste sábado Freddy Guevara, vice-presidente do Parlamento. A pressão não diminui. Um grupo de estudantes iniciou neste sábado uma vigília que terminará na madrugada de domingo em homenagem aos mortos, com velas e flores, em uma praça de Chacao, considerado um reduto da oposição em Caracas. "Eleições já" é o slogan dos protestos, mas os opositores também exigem respeito à autonomia do Parlamento, a libertação de ativistas presos e um canal humanitário que alivie a grave escassez. Maduro, cuja gestão é rejeitada por sete em cada dez venezuelanos, de acordo com pesquisas, pediu diálogo e diz que deseja eleições, embora esteja se referindo às de governadores que deveriam ter sido realizadas em 2016 e descartando uma antecipação das presidenciais de dezembro de 2018. "É um poço sem fundo. Sem eleições, o que viria é a desgraça que muitos países viveram (...) O destino deste país, se a marcha em que está não for detida, é a violência e o caos", assegurou à AFP o analista Carlos Raúl Hernández. Os protestos contínuos, que trouxeram à memória a lembrança das manifestações opositoras do começo de 2014, que deixaram 43 mortos, alteraram a vida cotidiana. Durante as manifestações, o metrô e outros meios de transporte não funcionam, muitas lojas e escolas não abrem e algumas instituições e empresas trabalham em meio expediente. "Tudo está conturbado. Não mando meu filho para a escola por medo de bombas de gás lacrimogêneo. Quase não trabalho porque não saio a comprar a linha que uso para costurar e buscar comida ficou mais difícil", contou à AFP Jaqueline Lalanne, de 46 anos. Em meio à agitação política, grupos armados encapuzados têm semeado o pânico. Eles chegam em motos e às vezes em caminhonetes, após as manifestações, sobretudo à noite e de madrugada. "Isto e terror (...) Atiram a esmo", relatou à AFP, sob a condição do anonimato, um homem de 34 anos, morador de El Valle, onde em uma única noite morreram 11 pessoas. Não há indícios, por enquanto, de que a tensão vá diminuir. A oposição promete continuar nas ruas até obter um calendário eleitoral, enquanto Maduro pede a seus seguidores apoio "para o que vier". mis/jt/val/ma/mvv

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