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ETA entrega armas e explosivos após 40 anos de violência

14:49 | Abr. 08, 2017
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Após mais de quatro décadas de violência, o ETA entregou neste sábado na França dezenas de armas e centenas de quilos de explosivos, uma atitude que deve representar o "desarmamento total" do grupo separatista basco, de quem o governo espanhol exige a dissolução.

Para o governo de Mariano Rajoy, foi uma "operação midiática para dissimular sua derrota". Em um comunicado, o Executivo afirma que a única solução para o grupo "é anunciar sua dissolução definitiva, pedir perdão as suas vítimas e desaparecer".

Horas antes, o governo francês anunciou ter recebido uma lista de oito esconderijos onde deveriam ser encontradas todas as armas e explosivos que restam ao ETA, que havia prometido um "desarmamento total".

Segundo uma fonte judicial francesa, nestes esconderijos foram apreendidos até o momento "dezenas de armas" e "centenas" de quilos de explosivos. A polícia judicial abriu uma investigação para determinar se foram utilizados criminalmente, acrescentou esta fonte.

Se este desarmamento for confirmado, representará o encerramento quase definitivo de um capítulo obscuro na história da Espanha, depois que o grupo renunciou em 2011 à luta armada pela independência do País Basco e Navarra.

Ficaram para trás mais de quatro décadas de violência e atentados do grupo 'Euskadi Ta Askatasuna' (País Basco e Liberdade), nascido em 1959 na luta contra a ditadura de Francisco Franco, mas que prosseguiu com sua atividade após a chegada da democracia.

A organização atacou pela primeira vez em 1969. O histórico de assassinatos, ataques com bomba, extorsões e sequestros deixou um balanço de 829 mortes atribuídas à organização, a última delas em março de 2010.

"É um grande passo", um "dia sem dúvida importante", disse o ministro francês do Interior, Matthias Felk, que lançou uma operação policial para localizar e analisar esses esconderijos.

Michel Tubiana, partícipe no processo de desarmamento, garantiu em Bayonne que os depósitos contêm "120 armas de fogo, três toneladas de explosivos e milhares de munições", quantidade que se encaixa com as estimativas das forças antiterroristas.

Segundo fontes próximas ao desarmamento, estes depósitos estão localizados no departamento dos Pirineus Atlânticos do sudoeste francês, fronteiriço com a Espanha e refúgio habitual do movimento clandestino.

Fontes judiciais em ambos os países estimam que o ETA "agoniza" e o movimento clandestino teria apenas "cerca de 30 membros" fora da prisão, onde ainda permanecem 360.

O especialista do conflito basco, Jean Chalvidant, concorda com esta análise: para ele, o ETA organizou um "show" para limpar sua "imagem desastrosa" porque sabe que foi vencido.

Desde 2011, o ETA resistia ao desarmamento incondicional e à dissolução exigida por Madri e Paris, e exigia uma negociação sobre o futuro de seus integrantes e de 360 membros presos em cadeias distantes do País Basco. Mas na quinta-feira anunciou em um comunicado que neste sábado seria realizado seu "desarmamento total".

A Comissão Internacional de Verificação (CIV), uma estrutura não reconhecida por Madri e Paris, apenas pelo executivo regional basco, que supervisionou o desarmamento, considerou que ele havia sido completo e o classificou de "passo histórico".

Para Madri isso não muda sua postura. "Os terroristas não podem esperar nenhuma vantagem do governo e muito menos impunidade por seus crimes", afirmou o executivo.

Para o presidente regional basco, o nacionalista Iñigo Urkullu, trata-se de um "passo fundamental" que demonstra que não deveria ter sido registrada "nenhuma das vítimas" do ETA.

O líder da esquerda independentista, Arnaldo Otegi, ex-membro do ETA, considera que abre "um novo cenário" no qual o grupo deverá debater sobre seu futuro, disse à AFP, evitando pedir sua dissolução.

A partir da Irlanda do Norte, atingida no passado pelos atentados do IRA, o líder do Sinn Fein e principal negociador da paz, Gerry Adams, comemorou a decisão e pediu generosidade a Madri e Paris.

À margem do desarmamento, entre 6.000 e 7.000 pessoas, segundo a polícia, e 20.000, de acordo com os organizadores, a maioria procedentes do País Basco espanhol, manifestaram sua alegria durante a tarde em Bayonne sob o lema "Todos somos artesãos da paz" e gritos de "independência".

Esta celebração contrasta com o receio dos familiares das vítimas, temerosos de que este desarmamento busque apagar um passado obscuro. Na sexta-feira, vinte associações pediram que o fim do grupo não seja "presidido pela impunidade", quando ainda restam centenas de crimes não resolvidos, e rejeitaram qualquer flexibilização da política penitenciária, solicitada pelo entorno do ETA.

AFP

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