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Entenda o conflito armado na Colômbia

08:59 | Dez. 08, 2016
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O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, receberá no sábado o Nobel da Paz por seus esforços para acabar com um conflito armado de meio século.
A seguir, entenda a conflagração interna mais antiga da América.

- Os atores -
O conflito armado colombiano confrontou nas últimas cinco décadas guerrilhas de esquerda com forças do Estado e grupos paramilitares de direita. Além das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), surgidas em 1964 de um levante camponês, também participaram o Exército de Libertação Nacional (ELN, surgido em 1964, ainda ativo), o Movimento 19 de Abril (M-19, desmobilizado em 1990), e o Exército Popular de Libertação (EPL, desmobilizado em 1991), entre outros grupos rebeldes menores e já extintos.

Grupos paramilitares financiados por proprietários de terras, agrupados nas forças de Autodefesa Unidas da Colômbia (AUC), surgiram nos anos 1980 para combater as guerrilhas. Estas milícias irregulares, que em alguns casos atuaram em coordenação com as forças militares ou por omissão destas, se desmobilizaram nas instâncias do governo entre 2003 e 2006. Remanescentes persistem ativos, mas são considerados grupos criminosos pelas autoridades.

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Os cartéis do tráfico, que aterrorizaram o país nos anos 1980 e 1990, não são considerados parte do conflito. Mas o negócio do tráfico de drogas permeia desde essa época o confronto, convertendo-se em fonte de financiamento dos principais atores.

- As origens -
O início do conflito armado colombiano, cuja complexidade foi sendo agravada por uma geografia de florestas e montanhas, costuma ser situado nos anos 1960, quando grupos rebeldes se levantaram contra o Estado para reivindicar uma distribuição de terras mais equitativa. Alguns analistas remontam suas origens a meados do século XX, especificamente a um período conhecido com "A Violência" pelos cruéis confrontos entre o Partido Conservador e o Partido Liberal. Para outros, as raízes da luta insurgente estão, inclusive, nos conflitos agrários dos anos 1920.

Especialistas convocados pelos negociadores do governo e as Farc apontaram para uma origem "multicausal", no que destacaram "a exclusão" social e política, marcada pelo forte bipartidarismo, e pelo "maciço deslocamento" da população rural, que agravou "a concentração de terra" e criou "cinturões de miséria nas cidades".

- Os fatos mais graves -
Farc: conhecida por sequestros de longa duração, como o da ex-candidata à Presidência, Ingrid Betancourt, em 2002, assim como por massacres como o de Bojayá (Chocó, noroeste) nesse mesmo ano, onde 79 pessoas que se refugiavam dos combates em uma igreja morreram. A justiça também responsabiliza a guerrilha pelo atentado com um carro-bomba contra a boate El Nogal, em Bogotá, que matou 36 pessoas em 2003.

ELN: famoso por sequestros em massa como o de um avião da empresa Avianca em 1999 e massacres como o de Machuca (Antioquia, noroeste), em que guerrilheiros explodiram um oleoduto - como parte de sua campanha permanente contra as indústrias de extração - provocando um vazamento de petróleo incandescente e o subsequente incêndio de um povoado, onde morreram 84 pessoas.

Paramilitares: ficaram tristemente célebres pela crueldade com a qual executaram matanças generalizadas em povoados cujos moradores acusavam de colaborar com as guerrilhas, como a de El Salado, em 2000, com 60 assassinatos.
M-19: protagonistas da tomada do Palácio da Justiça em pleno centro de Bogotá, em 1985, que deixou uma centena de mortos e outros 11 desaparecidos.
Forças militares: acusadas de centenas de execuções extrajudiciais de civis, declarados como guerrilheiros mortos em combate, a fim de obter benefícios e condecorações. Entre eles, destaca-se o caso dos "falsos positivos" de Socha, em 2008, quando 16 jovens foram mortos nessa pobre favela de Bogotá.

- As vítimas -
Em cinco décadas, o confronto deixou oficialmente 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados. Segundo a ONU, a Colômbia é o primeiro país em número de deslocados internos, e o segundo, depois do Afeganistão, afetado por minais antipessoais, com 11.500 vítimas deste problema, entre eles mais de 2.000 mortos.

AFP

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