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Justiça chilena anula condenação de pai de Bachelet por 'traição à pátria'

13:56 | Out. 04, 2016
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Quatro décadas depois, a justiça chilena anulou nesta segunda-feira, 4, a condenação por "traição à pátria" imposta em um Conselho de Guerra ao pai da presidente Michelle Bachelet, por se opôr ao golpe de Estado que instaurou a ditadura de Augusto Pinochet.

O general Alberto Bachelet foi preso dias depois do golpe que derrubou o governo do socialista Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, e morreu na prisão meses depois devido às torturas as quais foi submetido por seus próprios companheiros.

Bachelet exercia a função de responsável de finanças da Força Aérea do Chile (FACH) quando foi encarcerado. Antes havia sido secretário da Direção Nacional de Abastecimento e Comercialização do governo de Allende, que enfrentou severos problemas de desabastecimento como consequência da aguda crise política.

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"Me encontrei com companheiros da FACH que eu conhecia há 20 anos, alunos meus, que me trataram como um delinquente ou como um cachorro", explicou o próprio general Bachelet em uma carta a seu filho Alberto, durante sua reclusão na Academia de Guerra Aérea de Santiago.

O general sofria problemas cardíacos e as torturas agravaram seu estado, levando-o finalmente à morte, aos 51 anos, em 12 de março de 1974.

[SAIBAMAIS]O general Bachelet "era um oficial muito querido e respeitado, com pouco contato direto com a tropa. Participava de muitas atividades esportivas, culturais e sociais, e tinha uma grande capacidade intelectual e vocação ao serviço", narrou à AFP em 2012 Ernesto Galaz, ex-comandante da FACH com que dividiu a cela.

Em uma decisão unânime, a Suprema Corte anulou a sentença por "traição à pátria" contra Bachelet e outros 80 membros da FACH, decretando sua "inocência", segundo informou o Poder Judicial.

O tribunal máximo do país se pronunciou após uma sentença dada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. "Os Conselhos de Guerra convocados a partir do ano de 1973 atuaram, na prática, transgredindo sua própria norma, pois só aplicaram seus procedimentos coercitivos, ignorando os demais efeitos jurídicos da guerra, ao não reconhecer o uso legítimo da força por parte de seus oponentes", de acordo com a sentença judicial.

Tampouco, acrescenta o veredicto, "se respeitou o caráter e os direitos dos prisioneiros, nem se considerou nenhum dos preceitos estabelecidos nas convenções internacionais sobre a guerra".

Na semana passada, o mesmo tribunal confirmou uma pena de quatro anos de prisão a dois militares aposentados como autores das torturas que causaram a morte do general Bachelet.

"Esta sentença restaura a honra e a dignidade de pessoas que durante mais de 40 anos tiveram que carregar o estigma de serem tratados como traidores da pátria", ressaltou o diretor do Instituto Nacional de Direitos Humanos, Branislav Maralic.

Sua filha, Michelle Bachelet, se tornou a primeira mulher a chegar à Presidência do Chile em 2006. Em março de 2014 assumiu seu segundo mandato.
Ela e sua mãe, Angela Jeria, foram torturadas e presas também durante a ditadura de Pinochet, e se viram obrigadas a partir para o exílio.

 

AFP

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