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Rio 2016 deixa legado esportivo, mas peca na infraestrutura

16:38 | Ago. 22, 2016
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Imagem aérea do Parque Olímpico, que vai virar complexo esportivo e educacional destinado a estudantes e atletas de pontaInstalações esportivas devem ser quase totalmente aproveitadas, mas a um custo anual de 59 milhões de reais. Compromissos ambientais assumidos pela cidade e mobilidade urbana, porém, ficam aquém do prometido. Na véspera da abertura dos Jogos Olímpicos, o prefeito Eduardo Paes e o ministro dos Esportes, Leonardo Picciani, apresentaram um plano conjunto do governo federal e da prefeitura do Rio de Janeiro para aproveitar os equipamentos e as arenas utilizadas nas disputas olímpicas. O objetivo é seguir o exemplo de cidades que sediaram os Jogos e deixaram um legado para a população. Se na questão ambiental e na mobilidade urbana a cidade do Rio de Janeiro ainda está em débito, a infraestrutura esportiva promete ser quase completamente aproveitada. Para isso, até 59 milhões de reais serão gastos por ano na manutenção dos dois principais locais de competição: Parque Olímpico e o Complexo Esportivo de Deodoro. O Parque Olímpico, que é um conjunto de nove instalações dentro do Complexo Esportivo Cidade dos Esportes, será transformado num complexo esportivo e educacional destinado a estudantes da rede municipal e a atletas de alto rendimento. Construído para os Jogos Pan-americanos de 2007, três instalações já existiam antes da Rio 2016: o Parque Aquático Maria Lenk; a Rio Arena e o Velódromo Municipal este reconstruído. Para os Jogos Olímpicos, foram incluídos o Centro de Tênis, as Arenas Carioca 1, 2 e 3, o Estádio Aquático e a Arena do Futuro. Como legado, uma pista de atletismo com alojamentos para atletas está planejada no complexo. Depois de sediar 16 modalidades olímpicas e nove paralímpicas, o Parque Olímpico construído por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) terá boa parte de seus 1,18 milhão de metros quadrados destinados a empreendimentos residenciais e comerciais. Porém, o restante do areal será transformado num parque público e compartilhado por atletas e estudantes da rede municipal. O Estádio Aquático e a Arena do Futuro serão completamente desmontados. Palco de shows e quebras de recordes de Michael Phelps, Katie Ledecky e Katinka Hosszú, o Estádio Aquático foi projetado de tal maneira para que pudesse ser transformado em dois centros de treinamento. Muitos estados brasileiros não possuem piscinas de comprimentos olímpicos (50m). Ainda não está decidido quais cidades receberão as duas piscinas uma delas com cobertura. Escolas, projetos sociais e parque público O projeto da Arena do Futuro também foi baseada na chamada "arquitetura nômade". A estrutura será desmontada para se transformar em quatro escolas municipais. Um dos poucos itens que não ficarão de legado são as cerca de 12 mil cadeiras de plástico, que foram alugados para os Jogos Olímpicos. A desmontagem deve demorar sete meses. As escolas, que terão capacidade para receber aproximadamente 500 alunos cada, devem começar a funcionar no início de 2018. A prefeitura estuda instalar duas escolas dentro da própria área do Parque Olímpico. A terceira deve ser construída em outro ponto da Barra e a última está planejada para o bairro de São Cristóvão, na Zona Norte da cidade. O custo das montagens está avaliado em 31 milhões de reais. As instalações restantes permanecerão algumas delas com remodelações. O Parque Aquático Maria Lenk, o Velódromo, as Arenas Carioca 1, 2 e 3, além do Centro de Tênis farão parte do Centro Olímpico de Treinamento, onde serão treinados atletas de 12 modalidades esportivas. A área também abrigará competições internacionais, convenções, projetos sociais e uma escola voltada para o esporte: o Ginásio Experimental Olímpico (GEO), que deverá receber cerca de mil alunos em horário integral. A arena multiuso Rio Arena voltará a funcionar sob o nome comercial HSBC Arena, recebendo apresentações musicais, eventos esportivos ou conferências. O segundo centro mais importante dos Jogos do Rio de Janeiro foi o Complexo Esportivo de Deodoro. O local recebeu 11 modalidades olímpicas, além das quatro paralímpicas. Mais da metade das instalações já era existente e recebeu provas do Pan de 2007 e dos Jogos Mundiais Militares de 2011. Essa parte do complexo está situada numa área militar e continuará sob responsabilidade do Exército. A exceção fica por conta do chamado Parque Radical, onde foram disputadas as provas de BMX e canoagem slalom. A área será transformada num grande parque público (o segundo maior da cidade) com espaços para a prática de esportes radicais, trilhas ecológicas, ciclovias e um lago para recreação. Mobilidade melhora, mas não o suficiente Mobilidade urbana é uma das questões mais problemáticas do Rio. Na área de transportes, as obras motivadas pelos Jogos Olímpicos incluíram a construção da Linha 4 do metrô, faixas exclusivas para ônibus rápidos (BRTs) e o veículo leve sobre trilhos (VLT), que deverão transportar, juntos, 1,6 milhão de pessoas por dia. Segundo o governo estadual, o número de habitantes que serão atendidos por transporte em massa passará de 18% (2009) para 63% (2017). O metrô, ligando Ipanema e Barra, tem 16 quilômetros e cinco estações. As obras, que começaram em 2010, foram uma das mais polêmicas por causa dos atrasos e custaram 10,4 bilhões de reais, dos quais 8,5 bilhões de reais foram recursos do governo do estado do Rio e o restante da concessionária Rio Barra. Com 28 quilômetros, o VLT liga o Centro à Região Portuária passando pela Central do Brasil, Praça XV e pelo aeroporto Santos Dumont e conecta os passageiros a ônibus, barcas, trens e metrôs. Assim, o tempo de viagem entre a Barra e o Centro caiu pela metade, de mais de uma hora para 34 minutos. Já os BRTs Transolímpica, Transoeste e Transcarioca, juntamente com o corredor Transbrasil que vai ficar pronto somente em 2017 somam 155 quilômetros e vão diminuir o tempo gasto nos trajetos entre 40% e 60%. As linhas terão capacidade para transportar mais de um milhão de passageiros por dia. "A mobilidade será melhorada em parte, porque os investimentos foram feitos de forma incompleta", afirma Marcus Quintella, engenheiro de transportes da FGV. "A espinha dorsal de transporte baseada em BRT não tem como atender a grande demanda de transporte daquela região por onde ele passa. Quer dizer, temos investimentos em transporte de baixa capacidade para atender alta demanda, e isso não vai resolver o problema na cidade." O especialista afirma que não existe uma solução a curto prazo a não ser a continuidade de grandes investimentos em metrô. "A espinha dorsal da cidade deveria ser baseada totalmente em metrô. E a Linha 4 teve o traçado mudado e não chegou ao centro da Barra da Tijuca", explica. Outro projeto de destaque é a revitalização da região portuária da cidade. O projeto prevê, em 30 anos, a reurbanização de 70 quilômetros de vias, renovação de praças e sistemas de transporte. Na região, a cidade ganhou o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã, este último desenhado pelo espanhol Santiago Calatrava e inspirado na natureza brasileira. Os Jogos, porém, não conseguiram deixar um importante legado ambiental para a cidade: a despoluição da Baía de Guanabara, um dos compromissos assumidos pela cidade em sua candidatura para os Jogos. A promessa de reduzir em 80% o esgoto e lixo jogados na baía até 2016, palco das competições de vela, não foi cumprida. Estima-se que menos de 40% do esgoto atualmente sejam tratados. Autor: Fernando Caulyt / Philip Verminnen

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