Participamos do

Partido Republicano a caminho da autodestruição

14:27 | Ago. 05, 2016
Autor O POVO
Foto do autor
O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
Legenda não encontra meios de conter o discurso inflamado de Donald Trump. E foram os próprios republicanos que criaram o ambiente no qual o candidato opera, analisa a correspondente da DW Ines Pohl. Quanto mais confusos os tempos parecem, mais cabe deixar o momento de lado por alguns instantes e fazer uma retrospectiva. Por exemplo, revisitando o início deste ano eleitoral nos EUA, quando ainda estava em aberto quem seriam os candidatos à presidência do país. Na época, muitos acreditavam que Jeb Bush, pelos republicanos, e Hillary Clinton, pelos democratas, conseguiriam a nomeação para lutar pela Casa Branca. Não houve praticamente uma projeção que não reclamasse justamente disso. Afinal, seria amplamente antidemocrático se somente Bush e Clinton, membros dessas duas dinastias, tivessem uma chance de lutar por um dos cargos políticos mais importantes do mundo. Mas tudo o resultado foi diferente. Hillary até conseguiu se tornar a candidata presidencial dos democratas, mas teve que lutar por muito mais tempo que o previsto. No final, ela provavelmente só ganhou tão claramente do concorrente Bernie Sanders porque a liderança do Partido Democrata estava em alerta e começou a lutar cedo e com todos os meios contra o outsider. Uma tática que acabou sendo descoberta e fez com que a líder do partido, Debbie Wasserman Schultz, fosse forçada a renunciar na noite anterior à convenção democrata. E, assim, foi confirmado mais uma vez para muitos o quão corruptos e manipuladores os democratas se tornaram. Os republicanos aparentemente prestaram menos atenção e não conseguiram encontrar uma estratégia para afastar Trump. Contrariando todas as previsões, Bush e outros líderes reconhecidos do partido tiveram que sair de campo para deixar Trump no centro do show. Dois trunfos de Trump Trump venceu com dois trunfos, dos quais ele não está disposto a abrir mão até o dia da eleição, em 8 de novembro. O maior deles é a fama de ser alguém de fora do sistema. Com bons argumentos, ele afirma ter pouco a ver com o sistema político. Embora o empresário tenha relações estreitas com pessoas influentes, ele não tem rabo preso nem na estrutura republicana nem na democrata. E isso faz com que goze da credibilidade de muitos americanos. Especialmente entre aqueles que estão convencidos de que o establishment é um clube exclusivo de políticos que trocam de posições entre si, que são focados principalmente em seu próprio bem-estar e que, por isso, perderam de vista amplas camadas da população. Seu outro trunfo é a promessa de "fazer a América grande de novo", como era antes. E muitos de seus argumentos em relação a isso são racistas, xenófobos e misóginos. Mas uma coisa vai além: a perspectiva de que um presidente Trump finalmente fará novamente uma política orientada para os resultados. E não, como nos anos anteriores, uma política de restrição. Os republicanos são os únicos responsáveis pela força desse argumento. Pois foi a tática antidemocrática deles que impediu um trabalho governamental regular durante a administração Obama. Sistema político corrupto Foi basicamente com esses dois argumentos que Trump teceu a rede de segurança que o rodeia. Se agora líderes como Paul Ryan o atacam e se recusam a continuar dando-lhe seu apoio ou republicanas conhecidas, como Meg Whitman, decidem apoiar Hillary, isso é mais uma prova para muitos adeptos de Trump de como a elite política é intimamente conectada e de quão corrupto é todo o sistema. A candidatura de Trump só foi possível porque sua crítica tem um fundo de verdade. Mesmo que ele seja um perigoso beneficiário dessa mensagem, ela continua a ser verdadeira. A liderança política dos EUA, país que muitas vezes se denomina como uma das mais fortes democracias do mundo, perdeu contato com grande parte da população. Os eleitores não se sentem ouvidos em relação a seus medos e necessidades. A incapacidade dos dois maiores partidos de encontrar soluções políticas e a perda de credibilidade, devido a mentiras e estruturas corruptas, fez o resto, escancarando as portas para um populista como Trump. Liderança sem resposta Até o momento, a liderança do Partido Republicano não encontrou uma resposta para os ataques de Trump, os quais atingem também o interior da própria legenda. Afastar-se dele, que foi nomeado pelo próprio partido, só fortaleceria o magnata. E não há possibilidade de se decidir por outro candidato. De acordo com os estatutos do partido, só Trump pode abrir o caminho para a nomeação de outro candidato presidencial republicano, através da renúncia. Pelo menos no momento, isso é algo difícil de imaginar. Trump já deixou claro quem será o culpado caso ele fracasse: o sistema corrupto, ao qual o Partido Republicano passará, então, a pertencer. Autor: Ines Pohl, de Washington (md)

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente