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Papa nomeia comissão sobre mulheres na função de diácono

O papa Francisco nomeou nesta terça-feira uma comissão para estudar a possibilidade de permitir que as mulheres sejam diaconisas, uma questão que divide a igreja e que representaria uma mudança histórica para a instituição
09:54 | Ago. 02, 2016
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Os diáconos são o primeiro degrau da hierarquia católica. Embora tenham autorização para pronunciar sermões durante a missa e oficiar batizados, casamentos e funerais, não estão autorizados a celebrar a eucaristia ou a ouvir a confissão dos fiéis, como os padres.
A comissão está formada por 13 pessoas, sete homens e seis mulheres, e estudará, em especial, o papel das mulheres que exerceram esta função durante os primeiros anos da Igreja Católica, mesmo que alguns esperem igualmente recomendações sobre dar maiores responsabilidades à mulheres.
Os defensores da medida argumentam que as mulheres estão sub-representadas dentro da Igreja e que não existe nenhum obstáculo teológico para que voltem a exercer uma função que tiveram nas origens do cristianismo.
Em maio, o pontífice abordou a questão durante uma conversa com mulheres de várias ordens religiosas e disse que "seria bom" que a Igreja esclarecesse o ponto. Ao mesmo tempo reafirmou não acreditar que as mulheres possam ser padres, ideia que já havia sido rejeitada de maneira categórica por alguns de seus antecessores.
"Acredito que haverá um debate feroz. Sobre este assunto, a Igreja está dividida", prevê o cardeal Walter Kasper, um teólogo alemão próximo do papa.
Mas no avião que o trouxe da Armênia no final de junho, o papa procurou acalmar os ânimos, assegurando que os meios de comunicação haviam deformado sua fala, evocando um possível acesso das mulheres ao diaconato sob a forma atual.
"Isso não é verdade", insistiu.
"Após uma oração intensa e muita reflexão, sua Santidade decidiu instituir a comissão de estudo sobre o diaconado das mulheres", anunciou nesta terça o Vaticano em um comunicado antes de publicar a lista de membros.
O Vaticano não informou quando a comissão iniciará os trabalhos nem quando apresentará as conclusões.

Presidida por Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, um jesuíta espanhol secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, a comissão reúne sacerdotes, religiosos e especialistas acadêmicos.
A maioria são europeus ou americanos, mas a comissão também conta com um padre de Ruanda.
"É uma comissão ótima, muito equilibrada, com perfis variados, mulheres muito preparadas e de inclinações diferentes, ao mesmo tempo progressista e conservadora", elogiou à AFP a historiadora Lucetta Scaraffia.
Sem um progresso sobre a possibilidade de que os trabalhos levem a uma abertura do diaconato para as mulheres, esta especialista das mulheres na Igreja considera que a criação desta comissão já é "um bom sinal, encorajador".
O diaconato era uma etapa para o sacerdócio, mas o Concílio Vaticano II (1962-1965) restabeleceu o diaconato permanente, acessível a homens casados, que muitas vezes compensam a falta de sacerdotes ou os auxiliam.
Em 2014, de acordo com as últimas estatísticas disponíveis, a Igreja contava com 44.500 diáconos permanentes (para 415.000 padres), 33% a mais que em 2005, principalmente na América do Norte e Europa.
Muitas pesquisas históricas revelaram que as mulheres podiam ser diáconas nos primeiros séculos do cristianismo. Mas parece que o seu papel era semelhante aquele realizado atualmente pelas freiras nas paróquias.
O papa Francisco já evocou várias vezes o seu desejo de remediar a desigualdade entre homens e mulheres no exercício das responsabilidades dentro da Igreja, reafirmando, no entanto, a oposição da instituição à ordenação das mulheres.
Ele tem procurado incentivar a influência teológica das mulheres e já afirmou que uma mulher poderá em breve dirigir um dicastério (ministério) da Cúria.
"As mulheres são como os morangos em um bolo, é preciso sempre mais", brincou durante uma reunião com teólogos em dezembro de 2014.
Com entre 700.000 religiosas e leigas, as mulheres são maioria entre aqueles que trabalham na vida cotidiana das paróquias, mas estão sujeitas a um membro masculino do clero.
AFP

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