EUA liberam lote de documentos sobre ditadura Argentina
Obama disse então que seu país tinha "a responsabilidade de enfrentar o passado com honestidade e transparência". Ele se referia aos questionamentos sobre o apoio logístico e financeiro às ditaduras militares latino-americanas do período.
Na divulgação desta segunda-feira, o secretário de direitos humanos argentino, Claudio Avruj, citou em entrevista coletiva os trechos que considerou mais importantes. Ele destacou tentativas do ex-presidente Jimmy Carter (1977-1981) de convencer o ditador Jorge Videla (1977-1981) a libertar presos políticos e respeitar direitos humanos. De parte dos argentinos, havia uma busca por estreitar relações. Videla chamou o americano para o casamento de sua filha, convite recusado por Carter.
Avruj mencionou ainda referências à visita do então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, ao país durante o Mundial de 1978 e à preocupação dos militares com a atuação do ativista Adolfo Pérez Esquivel, que levou o Prêmio Nobel da Paz em 1980.
Em 2002, 4.600 documentos do Departamento de Estado americano foram divulgados numa negociação iniciada entre os governos de Fernando de la Rúa e Bill Clinton. Naquele lote, descobriu-se que Kissinger tinha dito em 1976 ao almirante argentino César Guzzetti a frase "quanto mais rápido tenham êxito, melhor". Cogitou-se que com aquele acordo o democrata Clinton tivesse interesse em expor o apoio do republicano Kissinger ao golpe. O democrata Carter é reconhecido como um dos que mais ajudou a reconstituir o período.
Grupos de defesa de direitos humanos pressionam por dados da CIA, do FBI e dos departamentos do Tesouro e de Segurança Interna, na esperança de encontrar pistas de desaparecidos e dos filhos deles. "Os papeis confirmam muito do que já se disse e vão estimular investigação", disse Avruj.
O representante especial para direitos humanos da chancelaria argentina, embaixador Leandro Despouy, mostrou-se surpreso com o teor da documentação e a comparou com o já conhecido. "Muitas condenações de hoje foram fundamentadas nos documentos de 2002. O fato de estes novos serem papeis do FBI e do Pentágono transcende os limites da diplomacia tradicional", avaliou, antes de propor uma homenagem a Carter.
Os arquivos publicados neste lote estão em três documentos no site https://icontherecord.tumblr.com e podem indicar até que ponto o governo americano conhecia e aprovava os abusos de direitos humanos na Argentina nesse período. Há nos escritos depoimentos de parentes de desaparecidos dados na Embaixada dos EUA em Buenos Aires, sinal de que a Casa Branca estava a par da repressão.
Segundo o Departamento de Estado, a divulgação envolveu 14 agências e departamentos do governo americano. Parte dos documentos provém das bibliotecas presidenciais de Carter, Ronald Reagan (1981-1989) e George H. W. Bush (19891993). A expectativa é que o processo de publicação esteja completo no fim de 2017. Os EUA ainda prometem difundir partes do relatório diário que os presidentes dos EUA recebiam sobre assuntos de segurança nacional. A ditadura argentina deixou 30 mil desaparecidos, segundo dados oficiais. (Rodrigo Cavalheiro)
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