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Erdogan busca rápida reconciliação com Putin

11:32 | Ago. 08, 2016
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Visita do presidente turco à Rússia deve provocar degelo nas relações entre os dois países, abaladas pelo abate de um avião russo em 2015. Velocidade da reaproximação pegou observadores de surpresa. O clima gélido entre a Rússia e a Turquia durou sete meses; o degelo veio em apenas seis semanas. Quando o presidente turco Recep Tayyp Erdogan se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin nesta terça-feira (09/08), ambos terão completado uma volta diplomática de 180 graus. A reaproximação começou no fim de junho. Em uma carta a Putin, Erdogan lamentou o incidente em que a força aérea turca derrubou um caça-bombardeiro russo Su-24 na fronteira com a Síria em 24 de novembro de 2015. Ele também pediu desculpas às famílias das vítimas. A derrubada, que custou a vida de dois pilotos russos, provocou um arrefecimento sem precedentes na relação entre parceiros que costumavam ser próximos. A Rússia reagiu proibindo a importação de alimentos turcos e suspendendo todos os voos fretados para a Turquia, um destino turístico popular para milhões de russos. Além disso, a Rússia suspendeu dois projetos importantes: a construção de um gasoduto no Mar Negro e de uma usina nuclear. Agora, Putin e Erdogan vão discutir pessoalmente o futuro desses dois projetos. Conflito com a Rússia A reconciliação é ainda mais espantosa levando-se em conta a maneira como ambos os lados trataram um ao outro até recentemente. Depois da derrubada do avião, Erdogan disse que a Turquia não iria tolerar violações de seu espaço aéreo. Nas semanas anteriores ao incidente, a Turquia havia denunciado em diversas oportunidades incursões de bombardeiros russos. Nos Estados Unidos e na União Europeia, cresceu a preocupação com a possibilidade de um conflito militar entre a Rússia e um estado-membro da Otan. Putin classificou o abate do caça como uma "punhalada nas costas". "Alá resolveu punir a classe dominante da Turquia tirando-lhes a razão", provocou ele em um discurso em dezembro de 2015. Ademais, membros do governo russo acusaram o governo turco de envolvimento em transações de petróleo com o grupo terrorista "Estado Islâmico". A TV estatal russa transmitiu conteúdo anti-Erdogan praticamente todos os dias. Um conhecido parlamentar populista de direita sugeriu no Parlamento russo que uma bomba atômica fosse lançada no Bósforo para "varrer" Istambul do mapa. Nas últimas semanas, no entanto, ficou aparente que a fúria dos russos é que foi varrida do mapa. Poucos dias após escrever sua carta a Putin, Erdogan falou ao telefone com o presidente russo. Foi então que eles concordaram com o encontro. Putin também levantou a proibição dos voos fretados e os turistas voltaram em bando às praias turcas desde o fim de julho. Outro telefonema ocorreu após o golpe fracassado de 15 de julho: desta vez, a iniciativa partiu de Moscou, com Putin expressando apoio a Erdogan. Demandas russas atendidas Tais sobressaltos nas relações turco-russas confundem até mesmo observadores experientes, escreveu recentemente Fyodor Lukyanov, editor-chefe da revista Russia in Global Affairs. "Sempre que necessário, as palavras mais ríspidas podem ser esquecidas", constatou. A Turquia não apenas pediu desculpas formais pela derrubada do avião russo, como também atendeu, pelo menos em parte, a outras duas demandas de Moscou: os pilotos que abateram o jato foram presos e Ancara parece pronta para discutir o pagamento de indenizações. Aproximação com obstáculos Especialistas russos acreditam que os recentes desenvolvimentos na Turquia aproximem o país ainda mais de Moscou. Representantes da União Europeia e dos EUA criticaram o cerceamento de Erdogan ao regime democrático depois do fracasso do golpe. Dado o tom de Bruxelas e Washington, Moscou pode se tornar uma base de apoio para a Turquia, disse à DW Viktor Nadein-Rayevsky, do Instituto Russo de Estudos Políticos e Sociais da região do Mar Negro e da região do Cáspio. "Recentemente ocorreram conversas sobre uma adesão turca à Organização para Cooperação de Xangai e à União Euroasiática", disse Nadein-Rayevsky. A Rússia é a força motriz por trás de ambas as organizações. Nadein-Rayevsky afirma que a Rússia e a Turquia podem reiniciar as relações econômicas "relativamente rapidamente". A reaproximação política, por outro lado, pode ser mais demorada. "O principal problema é a Síria", diz. Erdogan deseja uma mudança de regime em Damasco, mas a Rússia apoia o presidente sírio Bashar al-Assad, inclusive militarmente. Autor: Roman Goncharenko e Julia Wischnewezkaja (jps)

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