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Brasil não permite manifestações nos estádios durante Jogos Olímpicos

Os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio apoiaram no domingo a decisão da polícia de deter torcedores que levantavam cartazes contra o presidente interino Michel Temer em estádios
11:52 | Ago. 08, 2016
Autor O POVO
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"Estamos alertando o público de que este tipo de manifestações não estão permitidas dentro das instalações", disse o porta-voz do comitê organizador Rio-2016, Mario Andrada, a jornalistas.
Em múltiplos incidentes desde a abertura dos Jogos, na sexta-feira, a polícia confiscou pequenos cartazes com a frase "Fora Temer".
Alguns destes casos consistem em uma folha de papel branco levantada em silêncio até a intervenção da polícia.
Às vezes o slogan aparece em um cartaz levantado atrás de uma câmera de televisão enquanto os jornalistas filmam nas ruas. Um homem que carregou a tocha olímpica na semana passada pintou as palavras em suas nádegas, e as revelou ao abaixar o short.
Outros apenas gritam "Fora Temer", um grito de guerra que foi ouvido em massa na cerimônia de abertura dos Jogos, na sexta-feira no Maracanã, quando o presidente interino declarou abertos os Jogos em um breve pronunciamento.
Temer, o ex-vice-presidente, assumiu a liderança do país em maio, quando a presidente Dilma Rousseff foi suspensa do cargo enquanto é julgada pelo Congresso por maquiar as contas públicas.
Dilma pode ser destituída no fim de agosto, apenas alguns dias depois do fim dos jogos.
Com a crise política chegando ao clímax, os organizadores não conseguiram impedir que as tensões atingissem as Olimpíadas.
Em uma versão criativa do movimento anti-Temer, um grupo de pessoas na partida de futebol feminino entre Estados Unidos e França em Belo Horizonte no sábado se sentou em uma fileira com camisetas que juntas formavam as palavras "Fora Temer".
Foram expulsas do estádio, informou o jornal Folha de São Paulo.
O vídeo de outro incidente publicado nas redes sociais que acumulou quase dois milhões de visualizações mostra quatro policiais cercando e expulsando um manifestante de seu assento em um estádio.
A tolerância zero aos protestos pacíficos despertou indignação na esquerda e convocações a novas manifestações.
"Inacreditável! Manifestar opinião agora dá prisão!", disse a senadora Gleisi Hoffmann, do Partido dos Trabalhadores (PT). "Voltamos no tempo", afirmou em um comentário no Facebook.
Mas as autoridades olímpicas disseram no domingo que slogans políticos estão proibidos nos estádios, de acordo com a Carta do Comitê Olímpico Internacional (COI), que diz que nenhum tipo de protesto está permitido.
"Pede-se às pessoas que estão protestando politicamente em instalações (olímpicas) que não continuem fazendo isso, e se fizerem pede-se que saiam. Este é um templo do esporte e precisamos nos concentrar nisso", disse Andrada.
"Obviamente, as manifestações fora das instalações são permitidas, desde que não sejam violentas".
Enquanto as críticas aumentavam, o ministério da Justiça divulgou um comunicado dizendo que as regras proíbem os espectadores de entrar com qualquer "item que possa prejudicar a competição", e isso inclui "qualquer item com uma mensagem política, religiosa, racista, discriminatória, difamatória ou xenófoba".
Aparentemente em referência ao caso do homem que foi expulso do estádio por gritar "Fora Temer" em uma competição de tiro com arco, o ministério informou que ele estava "incomodando atletas e outros torcedores".

Desde que se tornou presidente interino, Temer nomeou um novo governo que se colocou claramente à direita da plataforma esquerdista de Dilma. Se ela for destituída, Temer governará até o fim de 2018.
Dilma Rousseff e seus seguidores afirmam que Temer tramou um golpe contra ela.
As pesquisas mostram que Dilma é profundamente impopular e Temer é apenas um pouco melhor. A crise, à qual se soma a pior recessão em décadas, está criando um pano de fundo de revolta para uns Jogos Olímpicos que deveriam ser a festa de graduação do Brasil.
"Os brasileiros estão muito insatisfeitos", afirmou Fabiana Amaral, de 32 anos, ao visitar a pira olímpica situada no centro do Rio.
"Qualquer pessoa que tivesse se sentado ali (durante a cerimônia de abertura) teria sido vaiada. Se fosse Dilma, não Temer, teria sido pior. Foi uma oportunidade para demonstrar nossa raiva", explicou esta arquiteta.
rcw-sms/lbc/ol/ma

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