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Theresa May se prepara para assumir governo no Reino Unido

Nova premiê é vista como modernizadora, autoritária e, acima de tudo, pragmática características que podem ajudá-la a conduzir país num momento difícil
06:23 | Jul. 13, 2016
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Theresa May assume nesta quarta-feira (13/07) o cargo de primeira-ministra do Reino Unido, muito antes do que inicialmente previsto. Os conservadores planejavam uma campanha de nove semanas pela liderança do partido, mas a disputa foi encerrada de forma abrupta nesta segunda-feira, com a surpreendente desistência da rival Andrea Leadsom. Isso significa que, em vez de nove semanas, May teve 48 horas para preparar seu novo governo.

Aos 59 anos, May ocupa o cargo de ministra do Interior desde 2010, mais tempo do que qualquer outro político antes dela na história recente. Conhecida por ambicionar posições de liderança no país, ela cultivou cuidadosamente uma imagem decidida, inabalável e calma em tempos de crise.

Quando os líderes da campanha pelo Brexit Michael Gove e Boris Johnson se acotovelavam antes de desistirem da campanha pela liderança do Partido Conservador, May enfatizou que era uma candidata "séria" e "adulta" para conduzir o Reino Unido nesse período tumultuado.

Credenciais de direita

Ao passo que seus sapatos ganham atenção desproporcional na mídia britânica, nos últimos 17 anos May tem sido uma das poucas mulheres no topo do Partido Conservador.

Como ministra do Interior ela ocupou as manchetes devido a suas posições duras em relação à imigração, que o governo prometeu reduzir para dezenas de milhares por ano (de acordo com a última contagem, a cifra estava na casa dos 330 mil). Em 2015, ela fez um discurso polêmico no qual afirmou que a imigração "torna impossível construir uma sociedade coesa".

Entre suas políticas restritivas está uma regra que impede cidadãos britânicos de levar cônjuges e filhos estrangeiros para o Reino Unido a menos que ganhem mais de 18.600 libras por ano, independentemente do salário do esposo ou esposa. Famílias divididas por causa dessa norma contestam a lei na corte suprema.

"No papel de alguém que trabalha com refugiados, eu vi as políticas de May piorarem ativa e diretamente a vida dos imigrantes neste país", disse à DW Lucy Walker, assistente social baseada em Londres. "Com o atual clima de hostilidade crescente em relação a todos os imigrantes, estou profundamente preocupada com o que o governo dela vai significar."

Outra lei controversa proposta por May foi a chamada snoopers charter (estatuto do bisbilhoteiro, em tradução livre), que exigia que todos os provedores de internet e telefonia móvel mantivessem registros do histórico de navegação de cada usuário.

Embora comentaristas liberais digam que essas propostas ilustram uma veia autoritária, em termos gerais May está perfeitamente alinhada com a opinião conservadora. "Muitas das posições que May assumiu como ministra do Interior lhe conferiram credibilidade junto à ala mais à direita do partido. Entre elas estão sua opinião sobre deportações, seu desejo de abandonar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e sua posição geral em relação à imigração", diz Matt Cole, professor do departamento de História na Universidade de Birmingham.

Passado modernizador

Apesar de tudo, May também é vista como uma política pragmática que assumiu diferentes posições ao longo da carreira. Em 2002, ela fez um discurso alertando que os conservadores seriam vistos como um "partido chato" e precisavam de reformas. Ela apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, recentemente, advertiu contra a discriminação racial pela polícia.

"May foi a modernizadora original e aqueles de nós que se envolveram na criação de espaços socialmente liberais dentro do partido sempre olharam para ele como uma luz fundadora, mesmo que ela tenha se afastado disso", declarou a escritora conservadora Kate Maltby.

May fez campanha para a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE), mas ela também disse que "Brexit significa Brexit" e que não haveria um segundo referendo. Além de prometer fazer da saída do Reino Unido da UE "um sucesso", ela prometeu reformas radicais para facilitar a mobilidade social e ajudar os mais desfavorecidos na sociedade.

Sua serenidade e experiência política significam que muitos a veem como uma pessoa firme para conduzir o país através de tempos difíceis. "Eu não voto nos conservadores, mas estou aliviado de ver que alguém com uma experiência governamental sólida tenha assumido o controle neste período caótico", afirmou o advogado Matt Pembroke, de Manchester.

"Eu não quero ver mais reviravolta em forma de eleição, eu só quero alguém que possa tentar salvar algo do desastre em que nos encontramos", disse Pembroke à DW.

Autor: Samira Shackle, de Londres (ff/ca)

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