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Partes do Muro de Berlim são localizadas em depósito de lixo

Vários módulos estão numa estação de separação de resíduos de Berlim, onde são usados como elementos de divisão. Existência das unidades, localizadas pela DW, era desconhecida até por especialistas
16:16 | Jul. 29, 2016
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Tipo Notícia
A poucos dias do 55º jubileu da construção do Muro de Berlim, a DW localizou pedaços da antiga divisão física entre as duas Alemanhas em meio a mal-cheirosos montes de lixo, na central berlinense de separação de resíduos Alba, uma das maiores da Europa.
 
Sem conhecimento do grande público, módulos de concreto do Muro são utilizados no local como elementos de separação e sustento no armazenamento provisório de resíduos. Mesmo especialistas, como Gerhard Sälter, do Memorial do Muro de Berlim, desconheciam essa situação.
 
"Uma boa parte" dos mais de 300 segmentos de parede na central da Alba provém do Muro, confirma Sälter, após exame minucioso. Entre os critérios para testar a autenticidade estão a altura de 3,60 metros e o grau de erosão do canto superior, de cerca de 30 centímetros de largura, ao qual eram afixados tubos redondos de amianto.
 
Os demais segmentos de concreto na Alba tinham outras finalidades. Sälter lembra que, nos anos 1960, o governo comunista da República Democrática Alemã (RDA) não mandou produzir os módulos apenas para o erguimento do Muro de Berlim, mas também para a agricultura. Eles serviam para o armazenamento de colheitas e resíduos – semelhante ao atual uso na estação de separação de lixo.
 
Uso dentro do depósito
 
Como testemunha ocular, o diretor-geral da Alba, Uwe Küber, relatou à DW como as seções do Muro foram parar no lixo, 27 anos atrás. Juntamente com outras empresas, a Alba foi contratada para desmontar os 155 quilômetros de fronteiras e eliminar os módulos, após a abertura do Muro, em 9 de novembro de 1989.

"Eu estava junto quando esses elementos do Muro foram descarregados aqui", conta o executivo. Só que eles não foram partidos, pulverizados e empregados como material para a construção de ruas, como ocorreu em outros locais, mas posicionados no próprio depósito.
 
Lá servem até hoje como elementos de separação e sustento no armazenamento provisório de resíduos recicláveis anteriormente selecionados, como plástico e metal. Há alguns anos a empresa realizou um projeto para jovens, disponibilizando alguns segmentos para serem grafitados.
 
A estação de separação da Alba é uma das maiores e mais modernas da Alemanha: nela são selecionadas e armazenadas para reciclagem mais de 140 mil toneladas de dejetos produzidos por mais de 7 milhões de cidadãos da capital alemã e redondezas.
 
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Chega de Muro!
 
Depois que o Muro foi abolido, sob o júbilo de dezenas de milhares de cidadãos, inicialmente só se abriram algumas passagens, para tornar mais permeável a fronteira entre a RDA e Alemanha Ocidental. Somente em 29 de dezembro, o governo interino da Alemanha Oriental decidiu mandar demolir a divisão.
 
Ele atendia a uma expectativa muito difundida. O ex-chefe de governo e líder social-democrata Willy Brandt expressava a vontade de apenas uma minoria quando, num discurso em Berlim, um dia após a queda, reivindicou que partes do Muro fossem mantidas e tombadas como patrimônio nacional.
 
Assim, embora Sälter não soubesse dos módulos na empresa Alba, o achado não lhe é totalmente inesperado, pois quando se iniciou a demolição da fronteira, em meados de 1990, o Muro não tinha qualquer valor especial para a população – pelo contrário.
"Em um ponto, berlinenses orientais e ocidentais, políticos e população concordavam: bastava de Muro e era hora de se livrar dele. Por isso para mim não é realmente uma surpresa ele ter ido parar em lugares como esse depósito de lixo."

Sem falta de respeito
 
Para muitos, por todo o mundo, o Muro de Berlim representa duas coisas: um monumento às vítimas da Guerra Fria e um símbolo do desejo de liberdade dos alemães. Ainda assim, Sälter não vê nenhum problema em os segmentos se encontrarem em meio a montanhas de dejetos.
 
Ele prefere que não se confira qualquer tipo de aura aos fragmentos de concreto, pois assim se estaria igualmente concedendo uma aura à Alemanha Oriental. "Não acho isso aqui nem um pouco desrespeitoso", comenta, após um giro pelo depósito da Alba. "A opinião de muitos alemães é que a história do Muro acabou em 1989. Assim, é bem apropriado ele estar no lixo."
 
O diretor da empresa, Uwe Küber, tampouco pretende fazer qualquer alteração, até segunda ordem, embora tenha consciência de que está guardando um "tesouro": até mesmo pedacinhos do Muro de Berlim são objetos cobiçados por todo o mundo, segmentos completos tem sido arrematados por mais de 10 mil euros cada um.
 
"Por enquanto, nós queremos continuar utilizando os módulos e vamos esperar mais um pouco, até eles ficarem mais valiosos ainda", diz, fleumático, acrescentando, com um piscar de olho: "Quando chegar a hora, vamos vender e fazer um bom negócio com eles".
DW

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