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Empresário, filho de cearense, escreve sobre o abatimento das pessoas na França

Bernard Lavelle nasceu no Rio de Janeiro. É fruto do casamento entre uma cearense e um francês. O casal mora do Rio de Janeiro. Bernard, que tem dupla nacionalidade, mora em Paris e escreve esse artigo sobre como sente que está o povo francês nesse momento de luto
18:41 | Jul. 16, 2016
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Bernard Lavelle
De Paris, especial para O POVO Online

Por aqui a sensação que tenho é mais de abatimento que de tensão. É diferente do primeiro atentado. Da primeira vez há muito barulho, muito desespero, muita "tensão". Minha sensação agora é a de que as pessoas estão anestesiadas.

Um depoimento publicado no "Figaro" falava em um casal com o corpo da filha pequena, morta, nos braços. Não choravam. Não falo em resignação, porque o francês não é povo de abandonar a luta. Mas de anestesia. Não há como se proteger mais. A polícia e o serviço secreto não podem operar em cada casa do país. E a população não pode deixar de viver em coletividade.

Para evitar a multidão, seria preciso renunciar a qualquer tipo de transporte público, a qualquer tipo de manifestação cultural, à escolaridade, às compras, à igreja, aos cafés, às ruas. É impossível viver recluso, e um atentado pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora. Então vamos vivendo.

Mas uma raiva existe, misturada a receio e medo. E aí mora o maior perigo. Pessoas com pouco senso crítico, incapazes de refletir sobre os limites e as possibilidades do que dizem, se inclinam para as ideias da direita nacionalista. O país, laico (!), se divide entre católicos e simpatizantes, de um lado, muçulmanos e aparentados do outro. E os candidatos às próximas eleições recuperam sem escrúpulos as cenas de violência para embasar suas propostas securitárias e xenófobas.

E não se fala em quantos pequenos Mohamed terão morrido embaixo do caminhão. Para a França, o grande atentado em curso é a fratura que aumenta todos os dias, alimentada pela idéia de que somente a supressão dos muçulmanos (não falo nem de imigrantes, porque são franceses!) traria a "paz" de volta. Triste ideia, cuja única consequência é a segregação, que leva ao ódio, à loucura, e a mais atos de violência extrema.

Mais do que proteger a população com metralhadoras e barreiras, a França precisa de uma política forte de educação e de integração social. Vasto programa...

Bernard Lavelle é empresário, filho de cearense e de francês e mora em Paris.

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