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Por que o mercado reagiu com moderação à votação do impeachment?

16:36 | Abr. 19, 2016
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Sempre animado com notícias que indicavam o afastamento de Dilma, mercado respondeu com menos entusiasmo à aprovação do processo de impedimento na Câmara. Analistas dizem que se trata de satisfação comedida. Antes da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados no último domingo (17/04), cada sinal de enfraquecimento do governo como os avanços da Operação Lava Jato e a debandada de partidos da base aliada era acompanhado com euforia pelo mercado financeiro. A simples perspectiva de que haveria uma troca de governo fazia o dólar cair e o índice Ibovespa subir. Mas, nesta segunda-feira, dia seguinte à votação no plenário em que a abertura do processo de impeachment foi aprovado por 367 votos a favor e 137 contra , o mercado não mostrou a mesma animação: o dólar à vista subiu 2,24%, fechando a 3,6054 reais, e o Ibovespa caiu 0,63%, para 52.894 pontos. A moeda havia caído 1,97% na semana passada. Um dos motivos que mascarou a euforia dos agentes financeiros que ainda existe foi a forte intervenção do Banco Central, que fez um leilão de swap cambial reverso [equivalente a uma compra futura da moeda americana] no total de 3,442 bilhões de dólares para tentar dar força ao dólar. Outra razão, segundo especialistas ouvidos pela DW, é que os mercados já haviam adiantado o resultado da votação na Câmara dos Deputados. "Os mercados sempre antecipam essas questões com base em probabilidades. Como nas últimas semanas havia crescido fortemente a probabilidade da mudança de governo, isso já entrou no preço dos ativos", afirma o economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria. "Não é à toa que o dólar caiu de 4 reais para 3,50 reais em questão de semanas, e a Bolsa recuperou bastante o fôlego." O analista afirma, ainda, que houve um ajuste do mercado em relação a ponderações sobre incertezas e desafios de um eventual novo governo. "Mas isso não significa nenhuma mudança de postura do mercado financeiro", afirmou. O mercado continua satisfeito com a possível saída de Dilma, apesar do comedimento. Nesta terça-feira, por volta de meio-dia (horário brasileiro), o dólar operava em baixa de 1,5%, cotado a 3,54 reais, e a Bovespa, em alta de 1,7%, em 53.790 pontos. Tendência de queda do dólar Para analistas ouvidos pela DW, a queda do dólar e a continuidade da alta do Ibovespa vão depender do andamento do processo de impeachment da presidente no Senado. Os indicadores também estão atrelados à formação da equipe econômica de um eventual governo Michel Temer, à capacidade de o governo tirar do papel mudanças estruturais na Previdência e a uma minirreforma tributária. Para Campos, caso o impeachment de Dilma fosse aprovado em sua primeira votação no Senado, os mercados manteriam a sinalização atual com o dólar valendo cerca de 3,50 reais e, ao mesmo tempo, o Banco Central continuaria com fortes intervenções para segurar o valor da moeda americana. "Em caso da confirmação da destituição definitiva da presidente pelos senadores, aí se consolida um cenário de um dólar mais baixo, embora no segundo semestre haja uma expectativa de crescimento do valor da moeda americana em linha com a retomada da alta de juros nos EUA", opina Campos. "Na Bovespa existe um sentimento semelhante." Rombo fiscal e confiança De acordo com especialistas, um dos principais desafios econômicos do governo é reverter o rombo fiscal do país, que sem a volta da CPMF e de um crescimento de pelo menos 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 poderá chegar a 119 bilhões de reais. Também é preciso tentar retomar a confiança de consumidores e empresários. Em abril, o índice de confiança do empresário industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 1,2 ponto frente a março e atingiu 36,2 pontos em um total de 100. Quanto mais próximo de zero, maior e mais disseminado é o pessimismo. "O consumo e o crédito caíram, muito em função da confiança. As famílias estão com medo do desemprego e da inflação e não sabem em qual rumo está indo a economia", afirma Ricardo Couto, professor de finanças do Ibmec/MG. "Se for dado um choque de confiança, há uma maior tranquilidade, um horizonte de planejamento e a volta do consumo e de investimentos." Autor: Fernando Caulyt

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