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Ataques de Bruxelas foram planejados há muito tempo, afirma especialista

15:54 | Mar. 22, 2016
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É possível que prisão de Salah Abdeslam tenha acelerado execução, mas é necessário tempo para preparar atentados desse tipo, afirma Guido Steinberg. Segundo ele, ataque foi muito bem planejado e organizado. Os atentados em Bruxelas nesta terça-feira (22/03) deixaram mais de 30 mortos e dezenas de feridos. Em entrevista à DW, Guido Steinberg, especialista em terrorismo do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), afirma que os recentes ataques são um sinal de alerta para a Alemanha e outros países europeus. Ele defende que, sem serviços de inteligência mais eficazes e que ajudem na detecção precoce dos atentados, "será difícil conseguir controlar esse problema." Segundo o especialista, em Bruxelas há uma combinação de fatores que não existe em lugar nenhum e que faz da cidade um alvo de terrorismo: "Lá, as autoridades de segurança são fracas, a política é desorientada e a cena jihadista é grande." DW: O senhor acredita que exista uma relação entre a prisão de Salah Abdeslam e os ataques terroristas em Bruxelas? Guido Steinberg: É bem possível que a prisão tenha acelerado a execução da ação. Mas se precisa de mais tempo para a preparação de atentados como esses. É preciso construir bombas, observar os alvos e preparar os assassinos. Por isso, acredito que os ataques foram planejados bem antes da prisão. Especialmente após a detenção de Abdeslam, já se deveria esperar atentados em Bruxelas? As autoridades de Bruxelas reconheceram o perigo. De qualquer forma, já havia a suspeita de que Salah Abdeslam planejava novos ataques. E, como parece, ao menos um fabricante de bombas bem treinado está em fuga. Isso era do conhecimento das autoridades belgas e, por isso, também era previsível que algo aconteceria. O problema é que, numa cidade como Bruxelas, há tantos alvos possíveis que as medidas de proteção nem sempre são suficientes. Após os atentados em Paris, as investigações na Bélgica também estavam em pleno andamento. Portanto devemos assumir que a rede de terrorista é bem maior do que se pensava? A rede é maior do que se acreditava em novembro, quando aconteceram os ataques na capital francesa. Era sabido que, no entorno da célula de Paris, havia algumas pessoas que deram apoio logístico aos homens-bomba. Mas parece que se está lidando com um número bem maior de pessoas. O mais preocupante é que não conhecemos a dimensão desse meio das pessoas dispostas a praticar tais atentados. E é especialmente um problema o fato de haver entre elas ao menos uma pessoa com conhecimentos de fabricação de bombas. Trata-se possivelmente de alguém que foi treinado na Síria. O senhor acredita que haverá novos ataques num futuro próximo? Estou firmemente convencido de que existe um perigo. Hoje pela manhã, a minha primeira impressão foi que esse atentado estaria muito aquém daquele que aconteceu na França, mas com as notícias sobre o crescente número de mortos, não posso mais sustentar essa tese. Foi um atentado muito bem planejado e organizado. Enquanto pessoas com experiência na construção de bombas e na luta armada estiverem circulando livremente, o risco é muito alto, não só em Bruxelas, mas também em todos os lugares para onde se puder escapar a partir da capital belga. As autoridades de segurança belgas estão preparadas para lidar com uma rede terrorista desse tamanho? Não, obviamente não. Mesmo assim, é problemático censurar as autoridades da Bélgica, pois o número de jihadistas belgas que viajaram para a Síria, que foram treinados por lá e que retornaram de lá é muito grande em termos absolutos e, principalmente, em relação ao total da população. Isso é um problema que não atinge somente a Bélgica, mas também outros pequenos países europeus com autoridades de segurança um pouco mais fracas. Nos próximos anos será necessário que alguns Estados equipem tais órgãos de forma muito mais eficaz. Isso vale para a Bélgica, a Dinamarca e também para a Áustria. Mas quando se observa o tamanho dos problemas enfrentados pelos franceses, apesar de suas agências comprovadas e altamente profissionais, os pontos fracos dos serviços belgas de segurança aparecem sob outra luz. Que medidas poderiam ser agora introduzidas para assegurar uma maior cooperação e um intercâmbio mais próximo das autoridades de segurança europeias? Desde os ataques em Paris, em 13 de novembro, sabemos que a troca de informações não funciona corretamente. Nesse contexto é preciso mencionar que, desde 2001, a cooperação entre os órgãos de segurança aumentou intensamente, da mesma forma que o intercâmbio de dados. Nesse ponto, é preciso que algo seja feito. Mas o grande problema é também a eficácia das agências de segurança. A Bélgica é muito menos equipada do que a França. E o fato de não existir controle de fronteiras entre os dois países tem efeito imediato sobre a situação de segurança do vizinho. A Alemanha também é menos equipada do que a França. Isso é um sinal de alerta que os alemães e os demais europeus deveriam observar a tempo. Ou seja, há uma ameaça latente de terrorismo também em outras cidades europeias. Certamente, mas não na mesma dimensão que em Bruxelas. Lá, as autoridades de segurança são fracas, a política é desorientada e a cena jihadista é grande: uma combinação que não existe em nenhum outro lugar. Mas em outros lugares existe uma crescente cena jihadista ela será responsável por muitos problemas nos próximos anos, não somente na Bélgica. Mas independentemente de quão estreita seja a cooperação entre os órgãos de segurança, não se pode realmente garantir a proteção e segurança dos chamados alvos fáceis. É claro que, numa moderna metrópole ocidental, não é possível proteger todos os alvos fáceis. Embora num aeroporto seja possível, naturalmente, controlar as bagagens já na entrada. Qualquer pessoa que já tenha ido ao Oriente Médio sabe que isso funciona. Mas isso não é garantia de segurança. A proeza será agora identificar cedo os autores e, apesar de todas as restrições legais, mantê-los em observação da forma mais eficaz. Nesse ponto, as agências europeias de segurança falharam nos últimos anos. Milhares de europeus puderam viajar para a Síria. Eles foram treinados e, em parte, voltaram despercebidamente para a Europa. Sem serviços de inteligência mais eficazes e que ajudem na detecção precoce, será difícil conseguir controlar esse problema. Guido Steinberg é especialista em Oriente Médio e terrorismo no Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP). De 2002 a 2005, foi responsável por assuntos relativos ao terrorismo internacional na Chancelaria Federal em Berlim. Autor: Diana Hodali (ca)

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