Ted Cruz, o representante da elite que encanta os ultraconservadores
Um advogado formado por Princeton e Harvard virou o favorito do movimento Tea Party. O que une ambos é o desprezo pelo "mainstream" liberal e também por setores tradicionais do próprio Partido Republicano.
Há dois episódios que, combinados, representam bem o estilo e o jeito de fazer política de Ted Cruz. O primeiro é um vídeo de campanha lançado em meados do ano passado que mostra o senador do Texas enrolando uma tira de bacon no cano de um rifle semiautomático e disparando até o bacon fritar.
Manipulado ou não, o vídeo tem mensagem e público-alvo bem claros. Cruz se dirige aos mais conservadores entre os conservadores americanos, aqueles que vivem num temor perpétuo de que o governo os prive de suas armas pouco se importando que essa possibilidade seja, na verdade, bem remota.
Para esse segmento do eleitorado republicano, as palavras "armas" e "Texas" soam tão bem quanto a ideia de fritar bacon no cano de uma arma justamente porque esse "gesto" irrita o que eles veem como o mainstream dominado por liberais.
O segundo episódio que exemplifica tanto o estilo de Cruz quanto o seu fervor ideológico é o discurso de mais de 20 horas com o qual o senador tentou bloquear a reforma do sistema de saúde proposta pelo presidente Barack Obama, em 2013. Ele discursou mesmo sabendo que seu esforço seria em vão, e o chamado "Obamacare" seria aprovado.
Mas isso não importava. O objetivo do discurso, no qual Cruz leu partes do clássico infantil de Dr. Seuss Green Eggs and Ham (Ovos verdes com presunto), foi transformar Ted Cruz um senador novato do Texas num nome familiar para além dos círculos políticos tradicionais e mostrar que o novo congressista é a melhor voz para representar uma ampla parcela de americanos descontentes, cujo maior desejo político é ver Obama longe da Casa Branca, não importa como. Cruz foi bem-sucedido nos dois episódios.
Favorito do Tea Party
Para alguém que se graduou em Princeton e Harvard, não deixa de ser irônico virar o queridinho do movimento ultraconservador Tea Party. Cruz foi assessor do juiz presidente da Suprema Corte e, mais tarde, trabalhou no governo do presidente George W. Bush. Para completar o quadro, a esposa de Cruz trabalhou como analista de investimentos no Goldman Sachs.
Apesar da educação de elite, das suas boas relações em Washington e do fato de ter nascido no Canadá, Cruz aparentemente fala a língua da base republicana de forma tão fluente que é capaz de vencer o caucus do partido em Iowa. Seu apelo entre os ultraconservadores é ainda mais acentuado pelo fato de ser membro da Convenção Batista do Sul e seu pai, um imigrante cubano, ser um pastor evangélico.
Cruz é adorado pelos apoiadores do Tea Party na mesma medida em que é odiado pelo establishment do Partido Republicano. Várias vezes ele mostrou o que pensa dos líderes do partido no Congresso e do jeito de fazer política deles: não tem muito respeito por eles.
Seja por ter chamado o líder republicano Mitch McConnell de mentiroso no Senado, seja por ter coordenado a suspensão dos serviços públicos federais não essenciais o chamado shutdown de 2013 contra a vontade de muitos congressistas republicanos: nos seus três anos no Senado, Cruz deixou claro que não se prende à hierarquia nem à lealdade partidária.
Se depender de Cruz e outros ultraconservadores, o Partido Republicano não faria o que eles chamam de "falsos compromissos" com os democratas. Os ultraconservadores também pregam o drástico encolhimento do governo.
O desrespeito aberto de Cruz às regras do partido não é visto com bons olhos pelos republicanos veteranos. O também senador John McCain o apelidou uma vez de wacko bird, ou "pássaro maluco". O ex-presidente da casa John Boehner chegou a chamá-lo de jumento.
Mas Boehner já foi tirado de cena pelos radicais do partido, e o veterano senador McCain, de 79 anos, não representa o futuro dos republicanos. Cruz, com seus 45 anos, parece promissor. Se sua curta passagem pelo Congresso e sua campanha presidencial são indicadores do que virá, o Partido Republicano que ele defende será bem diferente do que foi no passado.
Autor: Michael Knigge (mp)Edição: Alexandre Schossler
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