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Milhares de crianças refugiadas desapareceram na Europa

14:09 | Fev. 03, 2016
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Elas cruzam desertos e mares para fugir da guerra e acabam desaparecendo sem deixar rastros quando chegam ao continente europeu. ONG diz que situação é vergonhosa. As autoridades europeias que lidam com a crise de refugiados não sabem onde estão até 10 mil crianças refugiadas que chegaram ao continente desacompanhadas nos últimos dois anos. Conforme os dados do Serviço Europeu de Polícia (Europol), um em cada dois destes desaparecidos entrou na Europa pela Itália, que é a primeira estação no continente para muitos refugiados. A organização humanitária Aldeias Infantis SOS da Alemanha classificou o caso de "inconcebível", cobrando proteção do ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maizière. O porta-voz da organização, Louay Yassin, chamou a situação de vergonhosa. "Toda a situação dos refugiados é vergonhosa. Isso não é, de forma alguma, uma crise de refugiados, mas uma crise política europeia", disse Yassin. Segundo a Associação Federal para Menores Refugiados Desacompanhados (BumF, na sigla em alemão), a Alemanha recebeu entre 35 mil e 40 mil crianças e adolescentes abandonados em 2015 a maioria originária de Afeganistão, Síria, Iraque, Eritrea e Somália. Estima-se que 15% a 25% delas desapareceram. "O fato de pessoas jovens desaparecerem e elas geralmente desaparecem dentro das primeiras quatro semanas após a chegada tornou-se normal. Ninguém mais pergunta por elas", observa Nils Espenhorst, integrante da BumF. Desaparecidos na Europa A polícia procurar por jovens refugiados desaparecidos com a mesma intensidade que realiza buscas por bicicletas roubadas, comentou Espenhorst, em tom de ironia. Os desaparecimentos são ainda mais preocupantes porque jovens que viajam sozinhos são muito vulneráveis, afirmou Espenhorst. Segundo ele, os números podem ser ainda maiores, uma vez que muitos casos não são registrados. Há pouca informação sobre o que acontece com as crianças depois de desaparecer. Elas podem até mesmo seguir viagem atrás de parentes ou outros contatos na Europa. Ninguém sabe se realmente chegam ao destino desejado. Existe, no entanto, o medo de que o crime organizado esteja explorando jovens refugiados, forçando seu ingresso na mendicância, prostituição e pornografia entre outras atividades ilícitas. Problemas estruturais e logísticos Na Alemanha suspeita-se que muitos jovens desaparecem simplesmente porque não gostaram do lugar onde foram alojados. Outros passam à clandestinidade antes de completarem 18 anos porque estão com medo de receber asilo. O Departamento Federal de Investigações (BKA, na sigla em alemão) registra 4.718 jovens refugiados desaparecidos desde o início do ano 10% são crianças e os outros são adolescentes com idades entre 14 e 17 anos. Os dados são baseados em registros policiais de pessoas desaparecidas feitos após denúncia dos pais, de assistentes sociais e de abrigos de refugiados. O BKA enfatizou a possibilidade de a criança ser registrada como desaparecida mais de uma vez, o que ampliaria o dado estatístico. Especialistas concordam que a Alemanha pode ter criado um problema adicional colocando jovens refugiados longe de cidades mais populosas, optando por abrigá-las em áreas rurais, menos atraentes principalmente para adolescentes. Fora das estatísticas Para a porta-voz da organização Save the Children, Claudia Kepp, os dados da Europol são profundamente preocupantes. "Eles mostram que existe uma lacuna na proteção das crianças ao longo da rota dos refugiados para a Europa", alerta. Tanto Kepp como Espenhorst concordam que a proteção oferecida aos jovens refugiados na Alemanha é insuficiente. Ambos criticam o fato de o país ainda não ter colocado em prática as recomendações da União Europeia sobre o tráfico de pessoas. Como garantir a segurança de jovens que assumem o risco de enfrentar uma longa viagem para chegar à Europa a salvo? Fora o registro dos jovens imediatamente na chegada, com coleta de dados biométricos, Espenhorst diz que "é fundamental estabilizá-los emocionalmente e oferecer a eles uma perspectiva de futuro." Autor: Dagmar Breitenbach (mp)Edição: Alexandre Schossler

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