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Opinião: As imagens do ano em 2015

13:52 | 25/12/2015
Mortes, solidariedade, violência, harmonia: imagens marcantes ficam na memória. O que transforma algumas em "foto do ano", contudo, é sua capacidade de repercussão a longo prazo, opina o jornalista Felix Steiner. É raro uma foto ser discutida tão intensamente numa reunião de redação como em 2 e 3 de setembro de 2015. Não só na Deutsche Welle, mas também em outros meios de comunicação. No fim, o mundo inteiro ficou conhecendo Aylan Kurdi, que, aos apenas 3 anos de idade, morreu afogado no litoral da Turquia na tentativa de chegar num barco inflável até a ilha de Kos, na Grécia. "A morte do pequeno Aylan é uma vergonha, a Europa deveria se envergonhar, e essa imagem é um sinal de alerta para um retorno ao valores europeus" era mais ou menos o que se lia na época nos artigos de opinião e editoriais, encabeçados por reproduções da fotografia em grande formato e com moldura de luto negra. Porém os arroubos emotivos dos editores-chefes foram de curta duração, o sinal de alerta ecoou no vazio. Se ele tivesse sido ouvido, há muito barcas fretadas pela União Europeia estariam aportando nos portos da Turquia e da Líbia, a fim de trazer os refugiados de lá para a Europa, sem perigo e livres dos "coiotes" como há anos jornalistas e ativistas de direitos humanos vêm repetidamente exigindo. Contudo nenhum político da UE tem a coragem e iniciativa necessárias para dar esse passo. Pois também eles sabem aquilo que todo economista aprende na faculdade: que toda oferta gera sua própria demanda, e que esses traslados atrairiam números ainda maiores de migrantes em potencial. Essa foto, portanto estilizada por muitos como "imagem do ano", no dia mesmo em que foi tirada , na melhor das hipóteses comoveu por um momento, desencadeou um debate sobre ética jornalística ("É certo mostrar isso?"), mas não teve efeito duradouro. Ao contrário do motivo que há apenas alguns dias o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) premiou como "Foto do ano". Os policiais europeus como desencadeadores de pânico, medo e sofrimento: essas foram as imagens deste verão europeu que apelaram muito mais à consciência dos cidadãos do próspero Norte do que os mortos no mar. Pelo menos foi incomparavelmente mais forte a vergonha que muitos expressaram nas redes sociais, diante de tais instantâneos das fronteiras e estações ferroviárias no Sul da Europa. Até hoje a chanceler federal alemã, Angela Merkel, não explicou com clareza o que, concretamente, a motivou a abrir as fronteiras do país na noite de 4 de setembro depois de, dias antes, já ter deixado desembarcarem em Munique, vindos de Budapeste, os trens especiais superlotados de refugiados. Talvez algum dia ela vá nos elucidar a respeito, em suas memórias. Mas é bem possível que fotos como a premiada pelo Unicef assim como as numerosas gravações televisivas daqueles dias, feitas na Hungria, Sérvia e Macedônia tenham tido uma influência nada desprezível na decisão de Merkel. Com toda certeza, elas impulsionaram os cidadãos muniquenses e de outras cidades bávaras a levarem gêneros de primeira necessidade até as estações ferroviárias e a proporcionar aos refugiados uma recepção francamente carinhosa. "Vejam, a Alemanha é aberta e afetuosa, completamente diferente dos países que vocês têm atravessado!" Essa foi a mensagem transmitida pelas imagens de Munique, só superadas pelos selfies com Merkel tirados pelos refugiados sírios durante a visita da chefe de governo a um centro de acolhimento, em 11 de setembro. Acima de tudo, essas imagens se tornaram um símbolo deste ano para a Alemanha e em dois sentidos. Por um lado, como a classe política do país se vê: "Nós somos os bons, os que ajudam, que quebramos com todas as más tradições do passado alemão." Por outro lado, também, como os vizinhos europeus veem a questão da onda migratória: "Vocês, alemães, praticamente os convidaram para vir. Então fiquem com eles e nos deixem em paz!" Nos meios governamentais de diversos Estados da UE fala-se abertamente de um "problema alemão". Certo está que essas fotos de 2015 continuarão repercutindo ainda longe, pelo novo ano adentro. E é isso o que faz delas as imagens do ano. Autor: Felix SteinerEdição: Alexandre Schossler
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