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Ataques aéreos na Síria dividem opinião pública britânica

14:29 | 03/12/2015
Parlamentares do Reino Unido votaram a favor de bombardeios contra o "Estado Islâmico". Entre a população, restam dúvidas sobre a eficácia dos planos, e há quem tema revanche em forma de ataques terroristas. A votação sobre a expansão dos ataques aéreos britânicos para combater o "Estado Islâmico" (EI) na Síria aconteceu às 22h (horário local) após um longo dia de debates em Londres. Por sua vez, o debate na Câmara dos Comuns se seguiu a uma semana de grande tensão política. O primeiro-ministro, David Cameron, foi criticado ao afirmar, num encontro privado na terça-feira, que aqueles que se opunham à ação eram "simpatizantes dos terroristas". Entretanto, a maior parte das atenções se dirigiu para o líder da oposição trabalhista Jeremy Corbyn, que se opõe à intervenção, mas luta para ganhar o apoio de seu partido. Recentemente, 67% dos deputados de seu partido se rebelaram e votaram a favor de propostas do governo. Muitos dos 157 legisladores que falaram durante o debate perguntaram se os bombardeios britânicos na Síria iriam mudar decisivamente o conflito, como também se isso seria um precursor de uma invasão terrestre. "A resolução votada foi vaga", afirmou Jason Ralph, pesquisador do think tank britânico Centro de Política Externa. "Os parlamentares precisam de garantias de que o Reino Unido não vai lutar numa guerra de dois fronts. Um plano de paz para a guerra civil é a chave para tal, mas a resolução se refere somente ao 'ímpeto renovado' nas negociações de paz em Viena. Cameron não conseguiu convencer muitos da existência de uma tropa terrestre suficientemente forte para fazer a diferença", disse Ralph à DW. "A consequência em potencial é que os bombardeios não façam diferença para o EI ou que beneficiem o regime Assad. De ambos os modos, haverá pressão por forças terrestres do Reino Unido", acrescentou o pesquisador. Opinião pública dividida Uma pesquisa divulgada pelo instituto YouGov nesta quarta-feira mostrou uma opinião pública dividida. Segundo a pesquisa, 48% dos entrevistados se disseram a favor dos ataques aéreos, enquanto 31% afirmaram ser contra, e 21% permaneceram indecisos. Para muitos, o fantasma de conflitos prolongados no Afeganistão e Iraque e a raiva generalizada sobre o último ainda é motivo de preocupação. "Tenho tantas razões para me opor aos bombardeios na Síria e às mortes inevitáveis de milhares de inocentes civis. Nenhuma dessas posições tem alguma coisa a ver com a simpatia por terroristas", disse Florence Dalton, médico residente em Londres. "Eu não quero ver o Reino Unido participar de mais uma guerra mal pensada num país desmantelado e que irá causar inevitavelmente mais estragos e sofrimentos numa região já incrivelmente instável. Não houve nenhum argumento convincente para a guerra, apenas ameaça e intimidação contra os que se opõem a ela." O Reino Unido faz parte de uma coalizão que vem realizando ataques aéreos contra o EI no Iraque há mais de um ano. Rússia, França e os EUA têm executado bombardeios na Síria. Dado esse contexto, há quem questione se expandir os bombardeios britânicos para o país terá algum impacto. "Independentemente da decisão do Parlamento, a cidade de Raqqa seria bombardeada hoje, amanhã ou na sexta-feira, com o sem a Força Aérea britânica. Em termos de derrotar o EI, de resolver o conflito na Síria, eu não consigo ver como isso muda alguma coisa", afirmou Chris Doyle, diretor do Conselho para Entendimento Árabe-Britânico. "Não existe um número coerente de forças terrestres para não só tomar áreas do EI, como Raqqa na Síria, mas também para mantê-las sobre controle. Então, há um perigo real com esses bombardeios, que irão destruir uma boa parte dessa área e não serão capazes de expulsar o grupo terrorista", diz o especialista. "O segundo problema é que isso significa desviar a atenção da questão política e diplomática. Temos um processo [de negociações de paz] de Viena que é muito frágil e que precisa de toda a atenção." Cenas dramáticas Numa ação dramática de última hora, o responsável pela pasta do Exterior no gabinete paralelo da oposição trabalhista, Hilary Benn, fez um discurso passional, explicando por que discordava de seu líder, Corbyn, colhendo aplausos entusiásticos do outro lado da Casa. Ele disse que o Reino Unido "tem que se confrontar agora com este mal [] É hora de fazer nossa parte na Síria, e é por isso que peço aos meus colegas que votem a favor desta resolução hoje à noite." Parte da opinião pública compartilha o ponto de vista de que alguma coisa deve ser feita na sequência dos atentados de Paris. "Eu me sinto triste e desanimada com o estado do mundo. Mas eu também tenho medo de que o conflito na Síria chegue ao nosso território e temo mais ataques, como as atrocidades em Paris", desabafou Ella Watson, do condado de Hertfordshire. "Por essa razão, quero ver algum tipo de ação decisiva mesmo que eu não esteja absolutamente certa sobre o resultado da ampliação dos ataques aéreos." Antes da votação, fontes da defesa informaram os jornalistas de que a Força Aérea britânica poderia se movimentar de forma "extremamente rápida" após a aprovação, com cinco caças Typhoon e dois jatos Tornado esperando para entrar em ação. "Há uma aceitação relutante [por parte da opinião pública]", afirmo Ralph. "Muitos temem que a operação venha a ser prejudicada, já que não existe um plano de paz abrangente nem estratégia terrestre apropriada." No entanto, restam dúvidas sobre a eficácia do plano. "Com tanta confusão em solo e uma confusão no ar de poderes não afiliados que perseguem seus próprios interesses o que podemos esperar de nossa contribuição além de tornar a situação ainda mais confusa e pôr em risco a vida de civis?", indagou Owen Kean, de Liverpool. "Um Partido Trabalhista desconectado do público já arrastou o país para uma guerra fatídica, o Iraque em 2003. Desta vez, se os parlamentares não conseguem consultar a própria consciência, talvez eles pudessem consultar os livros de história para ver que consequências catastróficas isso terá", finalizou o inglês. Autor: Samira Shackle, de Londres (ca)Edição: Luisa Frey
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