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Rotulagem da UE preocupa produtores de assentamentos israelenses

13:43 | 13/11/2015
Empresários temem que nova regra da União Europeia gere um boicote aos produtos de assentamentos. Autoridades de Israel falam em "antissemitismo velado". Durante uma visita a Israel, este mês, a alemã Esther Kluge tomou conhecimento das regulamentações da União Europeia (UE) que exigem a rotulagem de produtos oriundos de assentamentos israelenses na Cisjordânia. "A Europa está prejudicando a si mesma", disse Kluge, que é proveniente da cidade de Ulm, no sul da Alemanha, e integra uma organização de amigos cristãos de Israel. Nesta quarta-feira (11/11), Kluge visitou vinícolas e uma fábrica de extração de azeite no norte da Cisjordânia à procura de produtos para vender durante a temporada natalina na Alemanha. No mesmo dia, o Executivo da UE aprovou novas diretrizes que obrigam produtores israelenses a marcar claramente produtos agrícolas e cosméticos produzidos em assentamentos na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e nas Colinas de Golã, casos estes sejam exportados à UE. Empresários israelenses na Cisjordânia temem que as novas regulamentações desencadeiem um boicote aos produtos e estão pedindo a seus clientes para manterem o volume de vendas. O documento da União Europeia é claro: "já que as Colinas de Golã e a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) não fazem parte do território de Israel de acordo com o direito internacional, a indicação 'produto de Israel' é considerada incorreta e enganosa". Produtos israelenses provenientes desaas regiões devem, portanto, ter em seus rótulos a inscrição "assentamentos israelenses", em caso de exportação para a UE. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, comparou a decisão da União Europeia ao boicote de lojas de judeus durante o período nazista. "A rotulagem dos produtos do Estado judeu pela União Europeia traz de volta memórias sombrias", disse ele, durante sua visita a Washington. Dois pesos, duas medidas Outras autoridades israelenses também criticaram a decisão da UE e lembraram que não há rotulagem semelhante para outras regiões ocupadas, como o norte do Chipre, o Saara Ocidental ou o Tibete. "A medida não pode deixar de ser entendida como um antissemitismo velado", condenou o ministro da Energia de Israel, Yuval Steinitz. O Ministério da Economia de Israel estima que a nova regulamentação possa diminuir os lucros das empresas nos assentamentos em 47 milhões de euros um quarto do total. Esse impacto, no entanto, é mínimo no contexto dos 30 bilhões de euros que o comércio anual entre Europa e Israel movimenta. O vinhedo Psagot Winery, gerenciado por Yaakov Berg, produz 250 mil garrafas de vinho por ano nas colinas escarpadas ao leste de Ramallah. Berg afirmou que mais de dois terços da sua produção de vinho são exportados, incluindo cerca de 35 mil garrafas para a Europa. "É uma decisão terrível", disse Berg. "Ela lembra uma Europa que eu queríamos esquecer." O vinicultor disse ter investido numa iniciativa com outros israelenses e apoiadores em todo o mundo para comercializar produtos dos assentamentos e de Israel globalmente. "Claro que estou preocupado", afirmou. "Mas farei o possível para que os efeitos da regra se tornem positivos. Vamos assegurar que a medida tenha um resultado oposto ao desejado." Várias indústrias afetadas Além dos produtores de vinho, também foram afetados a empresa de cosméticos do Mar Morto Ahava e produtores de azeite de oliva, de vegetais e de frutas. Avi Roeh, porta-voz do Conselho Yesha, uma associação pró-colonos, disse que a organização enviou uma carta de protesto à UE. "Vemos isso [a regulamentação] como danoso à soberania de Israel", afirmou Roeh. O porta-voz disse que os produtos de assentamentos já estão sujeitos a taxações adicionais de importação na Europa, que oferece isenções para produtos israelenses produzidos dentro das fronteiras do Estado criado em 1948. Segundo Roeh, o governo israelense tem compensado as empresas nos assentamentos pelas perdas com as tarifas diferenciadas. Ele disse esperar um auxílio semelhante por danos causados pela rotulagem. Roeh argumentou ainda que cerca de 80 mil palestinos trabalham em empresas israelenses na Cisjordânia e que eles seriam os primeiros a sentir o impacto de um boicote de produtos de assentamentos. Palestinos saúdam medida O vice-secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores Palestinos, Mohammed al-Arqawi, disse que sua organização vê com bons olhos a rotulagem, apesar de possíveis danos aos trabalhadores palestinos. "As pessoas que estão verdadeiramente preocupadas com os trabalhadores palestinos deveriam adotar medidas para acabar com a destruição deliberada da economia palestina, bem como com a exploração e opressão do povo palestino", declarou. O vinicultor palestino Canaan Khoury afirmou não ter certeza se as novas orientações da UE afetarão sua vinícola Taybeh Winery, fundado em 2013 num vilarejo perto de Ramallah. Khoury disse que exporta apenas um décimo das 30 mil garrafas que produz por ano. Ele disse apoiar a rotulagem de produtos de assentamentos. "Próximo de nosso vilarejo há três assentamentos", disse. "Eles têm prioridade no abastecimento de água. E, dessa forma, para mim fica difícil irrigar os vinhedos adequadamente." O especialista em vinhos israelenses Tal Gal Cohen afirmou que a produção de vinho israelense na Cisjordânia tem crescido muito nos últimos 15 anos, impulsionada em parte por investimentos do governo nas vinícolas e, em parte, por condições ideais de altitude e diferenças bruscas de temperatura entre o dia e a noite. Cohen garantiu que os vinhos são mais fortes, com mais sabor e aroma do que os cultivados na Galileia (região no norte de Israel). Embora alguns enólogos possam temer um boicote europeu, Cohen duvida que a nova regulamentação cause grandes danos. "Para os judeus de todo o mundo isso não importa", afirmou. "Eles estão à procura de vinhos kosher de qualidade." Autor: Daniella Cheslow, da Cisjordânia (pv)Edição: Alexandre Schossler
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