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Lesbos: 90 mil habitantes e 200 mil refugiados

12:06 | 05/11/2015
Refugiados no porto grego de LesbosChegada de migrantes muda a cara de ilha grega no mar Egeu. E moradores mostram como é possível manter a ordem: com calma, compreensão e às vezes um alarmante pragmatismo das autoridades locais. Mitilene é a maior cidade na ilha grega de Lesbos, no nordeste do mar Egeu, não muito distante da Turquia. De lá, muitas balsas partem rumo a Pireu e Cavala, cidades portuárias gregras, próximas da fronteira com a Macedônia. E esse é o motivo de milhares de refugiados estarem aqui eles querem seguir adiante. Mas às vezes pode levar dias até se conseguir uma vaga nas balsas. Muitos armam tendas e barracas nas calçadas e parques municipais. Dormem sob beirais, em bancos de parque ou simplesmente em cais no porto. Rostos árabes, somalis e afegãos mudaram a paisagem da cidade de Mitilene. E os moradores da ilha de 90 mil habitantes não parecem se incomodar. Pelo contrário: muitos estão fazendo dinheiro com a presença dos refugiados, que já seriam 200 mil. Restaurantes, barracas de comidas, cafeterias e casas de chá estão cheias. Táxis estão continuamente ocupados, assim como há inúmeros vendedores ambulantes de bebidas e frutas. E, é claro, a empresa responsável pela balsa nunca vendeu tantas passagens. A estação de maior movimento normalmente acaba muito antes de novembro, mas agora cada embarcação está lotada até o último assento. Cada passageiro paga 60 euros e cada balsa pode abrigar de 700 a 1.500 pessoas. As autoridades gregas fretaram balsas extras apenas para o transporte de refugiados, de forma a evitar brigas ou conflitos. A costa norte de Lesbos é uma faixa laranja. Milhares de coletes salva-vidas jazem na praia, tendo cumprido seu propósito de tornar mais segura a jornada dos refugiados que vieram da Turquia. Assim como os muitos botes de borracha que voluntários furaram logo após sua chegada, de forma que não pudessem voltar ao mar. Os ajudantes vêm de Inglaterra, Holanda, Espanha, Alemanha. Alguns gregos também se preocupam com as praias. Mas eles se limitam a "recuperar" as sucatas valiosas de metais dos barcos. Ao nascer do sol, alguns já estão levando embora os motores dos botes que chegaram durante a noite. Cada um deles vale alguns milhares de euros. O assim chamado "hotspot" em Moria, uma caserna nos arredores de Mitilene, tornou-se um exemplo clássico de como o processamento é feito na Grécia. A polícia grega e funcionários da Frontex, a agência de fronteiras da União Europeia, vêm conseguindo registrar mais de 5 mil refugiados por dia. Entretanto, o registro não é válido em toda a UE. Normalmente há muitas brechas: não é conferida a veracidade das informações fornecidas pelos refugiados. No fim, qualquer um aqui recebe um formulário de registro que permite seguir viagem a partir de Lesbos. Na verdade, os refugiados não são autorizados a deixar a Grécia, e muitos deles acabarão sendo deportados. Mas as autoridades de Lesbos não podem fazer isso sozinhas. E nem parecem querer: elas só desejam manter um pouco de paz e ordem. Por isso, tornam mais fácil que os refugiados deixem a ilha o mais rápido possível. Autor: Udo Bauer, de Mitilene (brv)Edição: Rafael Plaisant
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