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Grupos radicais podem se resguardar até a poeira baixar

Segundo especialistas, pausa pode durar meses. "Os terroristas não são estúpidos, eles vão esperar até que a situação se acalme", afirmou

13:42 | 24/11/2015

Os comandos de jihadistas radicais da França e da Bélgica poderão deixar de operar por algum tempo, inclusive meses, até que a pressão das forças de segurança diminua um pouco, afirmam os analistas. Pelo menos, acredita um especialista, um "lobo solitário" agindo sozinho em uma ação desesperada, teria um impacto extraordinário, dada a proximidade dos ataques de 13 de novembro em Paris.

"Mas o mais provável é que eles não vão fazer qualquer coisa nos próximos cinco, seis meses, para ver a reação da França, ver o que acontece", estimou recentemente o ex-juiz anti-terrorista francês Marc Trévidic. "A ideia é a mesma de Bin Laden: eles esperam que ataquemos os muçulmanos, para que eles possam recrutar e radicalizar ainda mais facilmente. Esta estratégia foi escrita pela Al-Qaeda há muito tempo".

[SAIBAMAIS4]Comentando sobre a mobilização excepcional da polícia, justiça e exército para investigar, desmantelar as redes conhecidas e proteger locais sensíveis, o magistrado ressaltou na segunda-feira: "Nós não podemos viver eternamente assim". "Os terroristas não são estúpidos, eles vão esperar até que a situação se acalme (...) Eles não atacam necessariamente quando mais esperamos. Tentam ser o máximo surpreendentes. Eu não tenho certeza que durante a COP21 (que inicia em 30 de novembro em Bourget) isso poderia acontecer", afirmou à rádio France Inter.

Graças aos poderes conferidos pelo estado de emergência prorrogado até ao final de fevereiro na França, a polícia multiplicou suas buscas administrativas, tendo como alvo suspeitos e redes monitoradas há tempos, contra os quais não possuíam provas suficientes para iniciar medidas legais. Desde a entrada em vigor da legislação de exceção, há dez dias, mais de mil buscas foram realizadas, incluindo 300 na região de Paris, conduzindo a 139 detenções e 117 prisões provisórias.

"Foi um grande pontapé no formigueiro, pela primeira vez na nossa história", garantiu à AFP um ex-analista dos serviços antiterroristas da DGSE, que pediu para permanecer anônimo. "Eu não vejo terroristas sendo capazes de organizar qualquer ataque num futuro próximo. O mais provável, é que os terroristas mergulhem mais fundo na clandestinidade e esperem. Há muitos policiais e soldados nas ruas, buscas e apreensões. Aqueles que ainda estão livres estão ocupados agora em não ser pegos".

O problema, asseguram o juiz e o ex-analista, é que neste momento as redes jihadistas continuam no controle do tempo, ditando suas agendas para as democracias ocidentais, que são forçadas a responder, muitas vezes com um tiro atrasado. "Eles sempre estiveram, pelo menos por agora, no controle do tempo", lamenta o analista. "Nós não sabemos quando outros ataques vão acontecer, eles brincam com os nossos nervos", afirma Marc Trévidic.

"Infelizmente, nos últimos anos, eles têm escolhido o momento, o lugar. O que é interessante, com o que está acontecendo agora, é que vamos virar a maré, vamos escolher o tempo e o lugar, incluindo pela guerra no terreno, na Síria e no Iraque", acredita.

Se as redes ou equipes já formadas de terroristas têm poucas capacidades de estabelecer um ataque de envergadura, é impossível excluir a ação de um único jihadista, talvez motivado pelos apelos à ação registados na Síria e no Iraque, que se multiplicaram na internet nos últimos dias. "Nós não devemos excluir a ação de um único indivíduo, que pode se sentir acuado, e decidir passar sozinho a ação com sua Kalashnikov", acrescenta o analista.

"Este não é o cenário mais provável, eu diria que há 15-20% de chances, e 80% que eles vão esperar que nos cansemos antes de começar outra ação. Mas se algum deles conseguir fazer algo nas próximas duas semanas, seria muito ruim ".

AFP 

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