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As possíveis causas do desastre em Minas Gerais

18:31 | 06/11/2015
Ministério Público abre inquérito para apurar motivos do rompimento de duas barragens na cidade de Mariana. Possibilidade de irregularidades na construção não é descartada, assim como riscos ao meio ambiente. A tragédia em Bento Rodrigues, distrito da cidade mineira de Mariana, continua com muitas perguntas sem resposta. Nesta sexta-feira (06/11), o Ministério Público de Minas Gerais abriu um inquérito para apurar as causas do rompimento de duas barragens de uma mineradora, que deixou ao menos um morto, dezenas de desaparecidos e centenas de desabrigados. Segundo o promotor de Justiça do Meio Ambiente Carlos Eduardo Ferreira Pinto, trata-se de um desastre sem precedentes na região. Sobre as possíveis causas do rompimento, ele afirma que ainda não há hipóteses concretas, mas adianta algumas especulações. Última fiscalização foi em julho "A primeira opção que sempre vem à mente é a operação irregular", diz Ferreira Pinto, em entrevista à DW Brasil. O promotor, porém, não descarta a possibilidade de anomalia no projeto das obras, ou mesmo algum tipo de sobrecarga na estrutura das barragens. As barragens de rejeitos chamadas Barragem do Fundão e Santarém pertencem à empresa Samarco. Segundo a mineradora, a última fiscalização pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental (Supram) foi feita em julho deste ano e concluiu que ambas estavam em "total condição de segurança". O Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Sisema) também garantiu que a Barragem do Fundão a primeira a se romper estava regular e que foi inspecionada por um auditor especialista em segurança de barragens. A Samarco possui licença de operação com validade até 29 de outubro de 2019. Para o promotor, porém, isso "não significa muito". "Ter a licença não dá o atestado de legalidade para a empresa. O que temos que analisar agora é se ela realmente cumpria todas as condicionantes dessa licença", afirma Ferreira Pinto. Quatro abalos sísmicos Quatro tremores de terra foram registrados em áreas próximas a Mariana nesta quinta-feira, segundo informou o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). Os abalos sísmicos ocorreram antes do rompimento da primeira barragem, às 16h. "As magnitudes foram bem pequenas, de entre 2 e 2,6", afirmou o órgão, em nota, adiantando que ainda não é possível estabelecer uma relação entre os tremores e o rompimento da barragem. O promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto não acredita que o desastre tenha sido causado por um fenômeno natural. Segundo ele, a hipótese não foi descartada, mas é "muito pouco provável". Liquefação: fator em outros desastres De acordo com o professor Carlos Barreira Martinez, coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos (CPH) da UFMG, toda obra de barragem implica numa série de riscos. "Um acidente desse tipo pode ser causado por uma somatória de eventos ocorridos ao longo do tempo", diz o especialista à DW Brasil. Segundo ele, um exemplo do que já aconteceu em desastres anteriores é um processo chamado de liquefação, algo como a transição dos rejeitos para o estado líquido. Tal fenômeno poderia explicar a enxurrada de lama fina provocada pelo rompimento. "Existe a possibilidade de liquefação de material, que é um processo natural." De acordo com Martinez, a liquefação pode ser causada por um abalo sísmico, mas depende muito da intensidade. "Não existem elementos suficientes para afirmar que foi isso que aconteceu. Temos que esperar resultados de várias análises", alerta o professor. Ferreira Pinto, que acompanha localmente as investigações, acredita que até a próxima segunda-feira (09/11) a equipe técnica do Ministério Público terá uma ideia mais concreta do que aconteceu nas barragens. "Não teremos ainda respostas finais, mas com certeza teremos sentidos mais palpáveis de investigação." Riscos ao meio ambiente Os rejeitos são resíduos da mineração que não têm valor econômico, mas por questões ambientais precisam ser devidamente armazenados. A barragem é a estrutura de terra onde são depositados esses rejeitos, que, com o tempo, vão sendo segmentados no solo. Em nota, a Samarco garantiu que o material depositado em suas barragens "não apresenta nenhum elemento químico que seja danoso à saúde". Segundo o professor Martinez, os rejeitos são compostos apenas de "areia, argila, siltes e alguns resíduos de minério que ficam agregados a esse material". Ele também reitera que a lama que soterrou o distrito de Bento Rodrigues não é tóxica e não oferece riscos à saúde. O especialista, porém, não descarta a possibilidade de um impacto ambiental. "É claro que vai haver um rastro de destruição e até mesmo um impacto ambiental, como todos os desastres desse tipo. Mas não porque a lama é tóxica", garante. Autor: Erika KokayEdição: Rafael Plaisant
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