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A batalha de uma colombiana contra os ataques com ácido

13:35 | 25/11/2015
Um ano e meio depois de estar à beira da morte, após ser atingida por químicos corrosivos, Natalia Ponce de León luta para se recuperar e evitar que crimes como esse se repitam em seu país. Em um segundo a vida muda para sempre. É isso o que afirmam as vítimas de ataques com ácido, que ficam marcadas, e não apenas pelas cicatrizes e queimaduras. Em março de 2014, a colombiana Natalia Ponce de León, de 34 anos, teve o rosto e parte do corpo atingidos por ácido sulfúrico, jogado por um homem que aparentemente tinha uma fixação por ela. O ataque causou queimaduras de segundo e terceiro graus em um terço de seu corpo, as mais sérias no rosto, comprometendo seus olhos e vias respiratórias. Até agora, ela já foi submetida a mais de 15 cirurgias, e muitas outras a esperam. Mas em meio ao tratamento e às muitas horas de reabilitação, Natalia renasceu. As feridas curam-se graças aos cuidados médicos e ao amor de sua família, e a uma força que resiste a tudo. Natalia não se deteve na dor, mas empreendeu uma batalha. Apenas um ano após o ataque, ela foi ao lançamento do livro O renascimento de Natalia Ponce de León, da jornalista Martha Soto, editora da unidade investigativa do jornal El Tiempo. "Não é fácil sair, mas reuni coragem. Continuarei juntando coragem para que se acabe com essa tortura para tantas pessoas", afirmou. O livro relata sua luta para se recuperar e para ajudar outras mulheres que sofreram com ataques semelhantes, através da fundação que criou e leva seu nome. Pela fundação, Natalia busca que todas as vítimas tenham acesso a tratamento de qualidade. No livro, ela relata como está superando essa provação: "Descobri que sou muito forte. Nunca acreditei que resistiria a tanta dor, que a vaidade passaria a um segundo plano. Me olho no espelho e vejo meus traços, meu nariz e um pouco da minha boca. Os cílios já cresceram e aqui estão meus olhos, pelos quais tanto sofri". Colômbia no mesmo patamar do Afeganistão Cerca de mil casos de ataques com produtos químicos foram registrados na Colômbia nos últimos dez anos, tanto contra mulheres quanto contra homens. O país sul-americano supera amplamente as estatísticas da região, colocando-se no patamar de países como Afeganistão, Bangladesh, Índia, Paquistão, Nepal e Uganda. Segundo a ONG espanhola Feminicidio, em 2011 a Colômbia liderou o ranking, com o maior índice de ataque por ácido em relação ao número de habitantes. Parte da luta de Natalia é evitar que casos assim se repitam: que a justiça endureça as penas contra os agressores e restrinja a venda dos produtos químicos, que até agora são de fácil aquisição. Ao mesmo tempo, deu seu testemunho jurídico contra o agressor, que é acusado de tentativa de homicídio. Pelo fim da violência contra a mulher Neste 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, as Nações Unidas alertam que 35% das mulheres e meninas sofrem alguma forma de violência física ou sexual ao longo de suas vidas. Em alguns países, o índice sobe para 70%. Os ataques com ácido atingem principalmente as mulheres e são uma das formas mais brutais de agressão. Normalmente é utilizado ácido nítrico, clorídrico ou sulfúrico, que em muitos países são de fácil acesso e baixo custo. O ataque representa uma verdadeira tortura que queima, desfigura e mutila, deixando sequelas físicas e psicológicas por vezes irreparáveis. É um atentado contra a dignidade da vítima e afeta as possibilidades de interações sociais e até de acesso a trabalho. Os motivos dos agressores vão desde inveja, rancor, ressentimento, ódio e vingança, até mesmo a disputas domésticas ou de território. Em sociedades machistas que não têm penas elevadas para esse tipo de agressão, elas se transformaram em uma forma de dominar e castigar mulheres. Depois do ataque a Natalia, um dos mais cruéis que já ocorreram na Colômbia, já foram registrados novos casos. Ela disse não guardar rancor, concentra suas forças em sua recuperação e em projetos para esse crime não se repita e ninguém fique impune. Autor: Victoria Dannemann (brv)Edição: Francis França
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