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Crise de refugiados pode definir eleições municipais em Viena

13:39 | 11/10/2015
Líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache se aproveita de medos do eleitoradoCom conceitos como "combate à islamização", populistas do FPÖ capitalizaram a atual onda migratória em sua campanha. Resultados das urnas na capital austríaca podem indicar tendências eleitorais em nível europeu. Há 70 anos os social-democratas detêm o poder em Viena. Mas isso poderá mudar neste domingo (11/10), sobretudo devido às centenas de milhares de refugiados que estão entrando e transitando na Áustria. Pois não faltam indícios de que o movimento migratório maciço possa vir a garantir votos decisivos para o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ). O Partido Social-Democrata (SPÖ) tem vencido todas as eleições municipais na capital desde o fim da Segunda Guerra Mundial: o atual prefeito, Michael Häupl, ocupa o cargo desde 1994. Contudo, embora o afluxo crescente de migrantes possa acelerar a queda da legenda, a verdade é que há anos o poder dos "vermelhos" vem decaindo. Durante sua campanha, o presidente do populista FPÖ, Heinz-Christian Strache, tem aproveitado o flanco aberto para atacar com força: "A dívida municipal é a maior que já houve. Carga tributária máxima, desemprego máximo, e agora os refugiados. É esse o resultado de 20 anos de Häupl." Cidade dividida pela onda migratória Agora, que a capital se transformou num polo de concentração de refugiados, a onda migratória do Oriente Médio divide o eleitorado. Alguns, geralmente os mais jovens, seguem acolhendo de boa vontade os recém-chegados. Em ambas as estações ferroviárias vienenses, onde se reúnem os migrantes, voluntários os abastecem com comida e roupas, dedicando-lhes tempo e dinheiro também na forma de chips de telefonia celular. Em contrapartida, outros se mostram apreensivos. Eles se perguntam como a cidade vai arcar com o gigantesco afluxo humano, e como, no futuro, ele afetará a disponibilidade das escolas, os preços de imóveis e os benefícios sociais. O alto número de refugiados é óbvia fonte de mal estar para esses cidadãos. Ambas as estações de Viena estão superlotadas com migrantes a caminho da Alemanha, o que também causa transtornos aos viajantes austríacos. No ano corrente, a capital espera atender 12 mil requerimentos de asilo. "Não podemos resolver todos os problemas, mas podemos resolver muitos", foi a resposta do prefeito Häupl num debate televisivo. Segurança dos cidadãos versus "abertura para criminosos" O fato de, no momento, os refugiados não representarem mais do que 0,5% da população total de Viena, não impediu o FPÖ de colocar a problemática em primeiro plano, em sua campanha eleitoral. Strache exigiu do governo austríaco a construção de cercas nas fronteiras, a fim de manter longe os solicitantes de asilo. O país está ameaçado de perder sua cultura e sua religião, alega o direitista. "Segurança para nossos cidadãos em vez de fronteiras abertas para criminosos", é um dos slogans do Partido da Liberdade. O líder promete que cada voto para sua legenda será um voto contra a "islamização" da cultura austríaca. "Temos uma cultura cristã, e queremos preservá-la também para os nossos filhos", tem declarado. Durante o comício final do FPÖ antes do pleito, os sinos da catedral tocaram sete vezes na praça Stephansplatz, bem no centro vienense. Strache interrompeu seu discurso. "Os sinos são maravilhosos. Vamos desfrutar o seu som", comentou, sob aplausos estrondosos. Mensagens como essa conquistam terreno para os populistas de direita. Segundo pesquisas de opinião, seu respaldo eleitoral aumentou em 7%, colocando-os logo atrás dos social-democratas. Uma enquete encomendada pelo jornal Kurier apontou que o SPÖ deverá conquistar entre 37% e 38% dos votos, enquanto ao FPÖ caberiam de 33% a 34%. Prenúncio de tendências eleitorais na UE? Assim, a crise migratória favorece o jogo do partido e de seu líder Heinz-Christian Strache, justamente num momento em que políticos europeus como Angela Merkel e François Hollande se empenham por uma solução conjunta para os refugiados da Síria, atualmente assolada pela guerra civil. Florian Perlot, cientista político do Instituto de Análise Estratégica de Viena, lembra que os social-democratas de Häupl também compõem a coalizão de governo nacional, a qual vem perdendo muitos pontos de popularidade devido à forma como tem lidado com a crise dos refugiados. Nesse sentido, o resultado do pleito vienense poderá ser um prenúncio das tendências eleitorais em outros países da União Europeia. Mas a problemática dos refugiados não é a única pedra no sapato dos vienenses. A economia da capital está estagnada; sua taxa de desemprego de 8,5% é a mais elevada do país; os salários estão congelados. Tudo isso afeta grande parte dos eleitores que optam pelo FPÖ. Trabalhadores não qualificados do Leste Europeu, que muitas vezes nem falam alemão, contribuem para que os salários se mantenham baixos. Diante de tal panorama, parece atraente para os adeptos do FPÖ a promessa de que, se eleito, o partido combaterá o ingresso de mais migrantes. No aspecto demográfico, Viena igualmente enfrenta desafios consideráveis. Urbanistas prognosticam que até o ano 2020 a população passará, do 1,8 milhão atual, para mais de 2 milhões. No mercado imobiliário, a demanda supera a oferta. Também devido às baixas taxas de juros, em alguns bairros os preços de imóveis têm subido até 10% por ano. A noite deste domingo mostrará para que direção se volta o futuro da capital austríaca. Num debate na TV, representantes do conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP), do primeiro-ministro Josef Pühringer, já declararam que não formarão coalizão com o FPÖ, caso ele vença. Autor: Alison Langley, de Viena (av)
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