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Amizade com Turquia tem preço alto para a UE

15:54 | 31/10/2015
Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em encontro com Jean-Claude Juncker em BruxelasA crise migratória elevou instantaneamente o status de Ancara aos olhos europeus. Políticos turcos e especialistas são céticos. Segundo eles, este é um jogo de interesses que pode arranhar a imagem democrática da Europa. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, passou ultimamente a chamar o chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, "dostum" meu irmão. Depois da visita de Erdogan ao luxemburguês em Bruxelas, no início de outubro, ambos os políticos se mostraram ostensivamente afetuosos na coletiva de imprensa. Para o deputado turco de oposição Yusuf Halacoglu, contudo, a camaradagem de Juncker é apenas o resultado de frios cálculos de uma política de resultados práticos. "A União Europeia só quer usar a Turquia como Estado-tampão, retendo todos os refugiados que querem prosseguir para a Europa", diagnosticou o membro do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), em entrevista à DW. No momento, o país já assume uma parte do leão no enfrentamento da crise migratória: um total de mais de 2 milhões de sírios encontrou até agora em solo turco abrigo contra o caos e a guerra civil. Turquia como "Estado-tampão" Além de Juncker, é sobretudo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, que pleiteia uma integração maior da Turquia à UE. No fim de outubro, ela viajou para Istambul com essa finalidade expressa. Para Gareth Jenkins, especialista em assuntos turcos do Institute for Security and Development Policy, sediado naquela metrópole, o alvo é claro: "Deve-se manter o maior número possível de refugiados longe da UE e dentro da Turquia." No entanto, um ponto logo ficou claro nas conversas às margens do estreito do Bósforo: o apoio turco não sairá barato para os "amigos europeus". Ancara exige, em troca, 3 bilhões de euros de Bruxelas. Jenkins comenta que os europeus estão indo muito longe em seus esforços de aproximação. "A UE não só reduziu a crítica a Erdogan e ao [seu Partido Justiça e Desenvolvimento] AKP, como também adiou para depois das eleições deste 1º de novembro a publicação de um relatório sobre o desenvolvimento da Turquia, que bem provavelmente será muito crítico." Atração e rejeição pela UE Além disso, Ancara insiste que os turcos sejam liberados do visto para a UE uma reivindicação de longa data. Fala-se até mesmo de abrir um novo capítulo nas negociações para a filiação do país ao bloco europeu. Entretanto esse passo severamente condenado, em especial nos meios mais conservadores da Alemanha deve ser visto, antes, como de natureza simbólica. O especialista Gareth Jenkins está seguro que "nem Erdogan, nem o AKP têm qualquer interesse em ingressar na UE". "Na política externa, eles, de fato, ainda se aferram à ideia de transformar o Oriente Médio inteiro numa espécie de zona de influência neo-otomana. Mas tampouco isso vai acontecer." Porém, na Turquia o desinteresse em entrar para a UE não se limita ao AKP, segundo Yusuf Halacoglu. "A União Europeia realmente fez muito pela paz na Europa", mas para os turcos, de acordo com ele, o bloco é hoje mais importante como "ponto de referência econômico". Para o deputado oposicionista, uma afiliação está fora de cogitação. Do ponto de vista de Samuel Vesterbye, da ONG Young Friends of Turkey, sediada em Bruxelas, a UE é corresponsável pela estagnação das negociações. "O problema não é só o AKP. Sem uma promessa séria de levar adiante as negociações de ingresso, nunca se chegará a um resultado real. E é justamente isso que a UE tem negado à Turquia." "Em Merkel não confio" Antes mesmo da crise dos refugiados, muitos turcos tinham dificuldade em confiar nas instituições europeias. Numa enquete do instituto de pesquisa de opinião Eurobarometer, de agosto de 2015, 40% dos entrevistados disseram considerar "ruim" uma entrada de seu país na UE. O especialista Gareth Jenkins registra uma grande perda de imagem do bloco europeu na Turquia, em consequência de sua conduta na crise migratória. "De ambos os lados do espectro político nacional, circula agora a opinião de que, na realidade, a UE está pronta a sacrificar bem rápido seus nobres princípios, como direitos humanos e democracia, e a cooperar com regimes autoritários, se isso servir aos interesses dela." O nacionalista Halacoglu concentra sua rejeição à Europa em uma única pessoa: "Para mim, a Europa é a Alemanha, e a Alemanha é Merkel. E em Merkel, eu não confio." Autor: Daniel Heinrich (av)Edição: Marcio Damasceno
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