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"Alemanha enfrenta nova categoria de violência"

10:05 | 20/10/2015
Em entrevista à DW, especialista Andreas Zick aponta acirramento da xenofobia no país e diz que ações como esfaqueamento de uma política em Colônia e ataques contra abrigos de refugiados são ameaça à democracia. Os sentimentos anti-imigrantes estão em ascensão na Alemanha e vêm tomando formas cada vez mais graves. Em entrevista à DW, Andreas Zick, diretor do Instituto de Pesquisa Interdisciplinar sobre Conflito e Violência (IKG) da Universidade de Bielefeld, afirma que o clima está mudando "dramaticamente", que o país está vivendo uma nova categoria de violência. Segundo ele, esse aumento das agressões motivadas por xenofobia é uma ameaça à democracia. DW: Um homem que já foi integrante de um grupo de extrema direita esfaqueou no sábado passado (17/10) a candidata a prefeita de Colônia, responsável pelos refugiados na cidade. O ministro do Interior da Alemanha disse que o ataque sublinha as crescentes preocupações sobre o ódio e a violência em meio à crise de refugiados. Será que o fato é, realmente, uma nova "categoria" de violência? As pessoas estão perdendo as inibições? Andreas Zick: Sim, estamos vendo uma nova faceta da violência. Na Alemanha, tivemos 179 assassinatos realizados por extremistas de direita desde 1990, houve mais de 500 crimes contra abrigos de requerentes de asilo, e agora há o mesmo fenômeno do "lobo solitário" terrorista, que observamos também no cenário terrorista islâmico. O clima na Alemanha está mudando? Dramaticamente. Um ano atrás, quando o Pegida iniciou suas passeatas em Dresden, nós já havíamos avisado que, a partir da perspectiva da pesquisa sobre extremismo, os símbolos e os comunicados através da internet eram muito agressivos. Tudo era orientado para a violência desde o início. Sabemos que os grupos extremistas de direita tentaram estar nas ruas e também na internet, onde discutiram o que fazer. Ao longo dos últimos meses, a ideia nos meios radicalizados, de não só comunicar e gritar slogans de ódio, mas de também agir e ocupar as ruas, ganhou impulso. Em uma marcha do Pegida na semana passada, os manifestantes levaram uma forca de madeira "reservada" para a chanceler e o vice-chanceler alemães. O movimento Pegida também se tornou mais agressivo? Sim. O que mudou é que agora há um movimento em direção ao controle por ação. No início, eles jogaram com atitudes e ideologias. Agora, é na linha: "Agora vamos agir, nós não vamos mais comunicar. Vamos enviar uma mensagem contra imigrantes na Alemanha". Frank S., o homem que esfaqueou a política de Colônia, foi socializado e radicalizado dentro do ambiente extremista de direita; ele mesmo se refere explicitamente ao clima na Alemanha. Vemos que esses "lobos solitários" invocam os partidos e transformam em ações o que a ideologia pede. Se fosse possível controlar a situação dos refugiados agora, e menos requerentes de asilo passassem a entrar no país, essas tendências de extrema direita desapareceriam? Não, isso é uma correlação ilusória. Tivemos o mesmo problema nos anos 90, quando os políticos diziam que se controlássemos o fluxo de imigração e o reduzíssemos, iríamos mostrar aos cidadãos que temos controle da situação. Mas isso não impediu o extremismo de direita. O grupo NSU matou dez pessoas. A radicalização continua dentro dos meios da direita populista e extremista, porque eles não respeitam o que a sociedade civil está fazendo. Seria essa uma ameaça para a democracia na Alemanha? Sim, bastante. Nossas pesquisas nos últimos 12 anos mostram: um terço da sociedade, que nós chamamos de "sociedade civil", é solidário. Essas pessoas mostram solidariedade e preocupação; um terço diz: "Não, não estamos de acordo"; e o último terço não participa da democracia. Essas pessoas têm a atitude que prevalece entre os membros do Pegida e de outros movimentos de extrema direita. Esta é uma ameaça para a democracia, porque a democracia vive da participação e da regulação de conflitos sem violência, enquanto que o que estamos observando na Alemanha é um aumento da violência. Um terço dos autores de crimes de ódio de direita não se considera extremistas de direita e sim pessoas normais, que argumentam que estão apenas se manifestando, ao jogar um coquetel molotov em um abrigo de refugiados. Nas eleições parlamentares suíças no domingo, um partido anti-imigração ganhou a maior parte dos votos; a extrema-direita também teve ganhos nas eleições locais austríacas este ano. A sociedade europeia ocidental está se virando rumo ao populismo de direita? Sim, isso vem acontecendo há muitos meses. No Reino Unido, o Ukip é forte. Temos a Frente Nacional na França; há também Áustria e Suíça. E houve um crescimento da direita populista na Suécia e na Finlândia. O que vemos na internet é que eles estão correlacionados; o Pegida é forte, porque eles têm o sentimento de que são parte de um grande movimento populista europeiu. Assim, este é um problema para a Europa também. Qual é a solução para o problema? É importante levar muito a sério a agressão e a violência. Nós falamos sobre a imigração, mas não falamos sobre o extremismo de direita e o populismo de direita, e o ódio generalizado contra as minorias, a hostilidade. Estas são coisas que temos de enfrentar de início. Uma resposta simples para uma pergunta complexa: as pessoas têm que ser treinadas no que eu chamo de "educação cívica". Sabemos que sociedades civis fortes, sociedades multiculturais e diversas e vizinhanças urbanas podem ter conflitos, mas elas são treinadas para regular conflitos sem violência. Sociedades civis fortes são a melhor prevenção, desde o jardim de infância. Uma democracia é forte quando as pessoas podem participar. As pessoas na Alemanha sentem que sua participação não é desejada nas áreas onde temos um monte de crimes de ódio, e isso é um desastre. Quando a mídia e os políticos locais não estão ancorados na sociedade local, as pessoas têm a impressão de que os novos movimentos populistas de direita podem resolver esse problema. Autor: Dagmar Breitenbach (md)Edição: Rafael Plaisant
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