Na ONU, Abbas declara que abandonará tratados de paz com Israel
"Nós declaramos que não podemos continuar ligados a esses acordos e que Israel deve assumir todas as suas responsabilidade como a força ocupante, porque o status quo não pode continuar", disse Abbas.
Abbas, ao citar as contínuas atividades dos assentamentos israelenses e a falha em libertar prisioneiros palestinos, afirmou que a AP "começará a implementação dessa declaração de maneira pacífica e legal".
A declaração levanta questões sobre o futuro da Autoridade Palestina e se seu cargo será dissolvido, o que acontecerá com as forças de segurança palestinas e como os palestinos podem continuar a receber investimentos, provenientes na sua grande maioria da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, Abbas foi muito claro ao condenar o que chama de violações de Israel durante os mais de 20 anos do Tratado de Oslo.
"Israel destruiu as fundações nas quais os acordos políticos e de segurança foram baseados", ele disse. "Ou a Autoridade Nacional Palestina será a condutora do povo palestino da ocupação à independência, ou Israel, o poder ocupante, deve arcar com suas responsabilidades".
Abbas declarou que a situação atual é insustentável. Os palestinos precisam de "esperanças genuínas" e enxergarem "esforços de verdade para acabar com esse conflito, acabar com sua difícil situação e conquistarem seus direitos", declarou.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, logo condenou a declaração de Abbas, afirmando que é "enganosa e encoraja a agitação e o desastre no Oriente Médio. Nós esperamos e pedimos que a Autoridade Palestina e o seu líder ajam com responsabilidade e aceitem a nossa oferta para realizar uma negociação direta sem precondições. O fato de ele (Abbas) mais uma vez não nos responder é a maior prova de que ele não tem nenhuma intenção de chegar a um acordo de paz", declarou.
O ministro do Interior de Israel, Silvan Shalom, que é responsável pelas negociações com os palestinos, disse ao canal de televisão israelense Channel One que os esforços diplomáticos foram feitos por partes externas para pressionar Abbas a não anunciar medidas radicais, como desmantelar a AP.
De acordo com alguns analistas, na declaração de Abbas não foi citado nenhuma medida de fato, como suspender a cooperação de segurança com Israel ou desmantelar a AP.
"Eu não acho que isso terá alguma consequência prática", disse Ghassan Khatib, analista político palestino. "O que ele fez foi expressar uma frustração e alertar a comunidade internacional de que a atual situação não é sustentável".
O segundo Acordo de Oslo, assinado em 1995 por Itzhak Rabin, Yasser Arafat e testemunhado pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, estipulou que uma total independência para a Palestina e o fim da ocupação militar por Israel ocorreriam em 1999. Ao mesmo tempo, instituiu três áreas na Cisjordânia para um governo transicional.
A Área A, cerca de 3% do território da Cisjordânia, foi colocado sob o comando da Autoridade Nacional Palestina. Aos cidadãos israelenses não é permitida a entrada na região e é proibida a construção de assentamentos em qualquer área da Cisjordânia.
A Área B, cerca de 25% da Cisjordânia, está sob o controle civil da AP e a segurança é realizada em conjunto pelas forças do exército de Israel e pela polícia palestina. A Área C, cerca de 70% da Cisjordânia, é controlada totalmente por Israel.
De acordo com o processo do Tratado de Oslo, Israel deveria ter se retirado em 1999 de partes das áreas B e C, que constituem 60% da Cisjordânia, disse Abbas. Essa retirada nunca ocorreu.
Ao contrário, Israel "intensificou a construção de assentamentos por toda a Cisjordânia", declarou Abbas, destruindo a possibilidade de uma solução de dois Estados. Fonte: Dow Jones Newswires.