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Fim dos rituais de peregrinação à Meca, a mais trágica em 25 anos

Na quinta-feira, um grande tumulto terminou com a morte de 717 pessoas e 863 feridos, na pior tragédia registrada durante o Hajj desde 1990

08:59 | 26/09/2015
Centenas de milhares de muçulmanos terminam neste sábado a peregrinação anual à Meca, ou Hajj, em luto pela tragédia mais mortal dos últimos 25 anos que provocou uma enxurrada de críticas à Arábia Saudita. Desde o início da manhã, grupos de homens e mulheres se revezavam em Mina, perto de Meca, para cumprir com o último ritual, o lançamento de pedras contra três colunas que simbolizam o diabo, de acordo com a tradição muçulmana.

As forças de segurança conduziam a multidão. No mesmo local, na quinta-feira, um grande tumulto terminou com a morte de 717 pessoas e 863 feridos, na pior tragédia registrada durante o Hajj desde 1990.

Três dias após o drama, as autoridades sauditas ainda não divulgaram uma lista de vítimas por nacionalidade nem publicaram os resultados de suas investigações. O comandante das forças de segurança responsável pelo Hajj, o general Abdel Aziz al Suly, relatou a abertura de um inquérito que "vai levar tempo". Citado pela imprensa local, ele indicou que "submeterá um relatório completo e detalhado ao servidor das Duas Mesquitas Sagradas", o rei Salman, mas não indicou quando.

O Irã, que anunciou a morte de 136 de seus cidadãos no incidente, questionou a Arábia Saudita, seu rival regional, e exigiu participar na investigação. O primeiro vice-presidente iraniano, Es Hagh Khahanguiri, estimou que "países como o Irã, que sofreram muito, devem ter representantes na investigação". "Não há dúvidas quanto a má gestão e inexperiência dos responsáveis" do Hajj, acrescentou.

Mas o grande mufti da Arábia Saudita, o xeque Abdel Aziz al-Sheikh, respondeu que o tumulto estava fora do controle humano. "Não há responsáveis pelo que aconteceu (...) Não podemos responsabilizar alguém. A sorte e o destino são inevitáveis", disse na sexta-feira, referindo-se ao herdeiro e ministro do Interior, príncipe Mohamed Bin Nayef, que também preside a comissão do Hajj.

Vários peregrinos atribuem a tragédia ao fechamento de uma passagem perto do local do apedrejamento e à má gestão de fluxo de fiéis pelas forças de segurança. Na Turquia, um líder do partido islâmico conservador no poder, denunciou a "negligência" dos sauditas e propôs que seu país organize o Hajj, porque "os lugares santos do Islã pertencem a todos os muçulmanos".

Mas Abdullah al-Sheikh, presidente do Majlis al-Shura, o Conselho Consultivo composto por membros nomeados pelo governo saudita, disse que os peregrinos devem respeitar "as regras e os regulamentos emitidos pelas forças de segurança".

"Isto irá preservar suas vidas, sua segurança e facilitará o desenvolvimento dos rituais", indicou em um comunicado publicado pela agência oficial Spa.
"Espero que os organizadores tirem lições para o Hajj no próximo ano", declarou Abdelmahmud Ibrahim, um senhor de 52 anos, quando estava prestes a realizar o ritual de apedrejamento.

Este ritual, iniciado na quinta-feira, no primeiro dia do Eid al-Adha (Festa do Sacrifício), está previsto para durar três dias, mas os fiéis podem concluí-lo em dois. Depois do apedrejamento, os peregrinos circulam ao redor da Kaaba, um edifício em forma de cubo no centro da Grande Mesquita, em direção à qual os muçulmanos devem rezar cinco vezes por dia.

Em seguida, eles vão para Meca. O Hajj é um dos cinco pilares do Islã que os fiéis devem cumprir pelo menos uma vez em sua vida, se tiveram os meios para fazê-lo. Quase dois milhões de muçulmanos, incluindo 1,4 milhão de estrangeiros, fizeram a peregrinação este ano.

AFP
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