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Sul da Itália faz Grécia parecer próspera

05:17 | 14/08/2015
Renzi comemora aumento do turismo, mas dados, apesar de positivos, revelam muito sobre como setor é mal explorado na região, que se sente abandonada pelo governo: um terço dos habitantes corre risco de entrar na pobreza. Depois de muitos anos de queda, o turismo na Itália experimenta as primeiras melhoras, inclusive no Sul. O setor é responsável por 11% do Produto Interno Bruto nacional, o que lhe dá peso importante na economia. A associação hoteleira Federalberghi divulgou que o turismo subiu 7,7% no geral e 8,6% entre o público italiano. O crescimento pode ter sido estimulado pelas temperaturas recorde, após vários verões chuvosos, e foi comemorado pelo primeiro-ministro Matteo Renzi no Twitter: Boas notícias para o sul da Itália, escreveu. Mas a notícia positiva não foi o suficiente para melhorar a situação dramática que vive o Sul do país. O relatório da Associação do Desenvolvimento Indústria do Sul da Itália (SVIMEZ) fez com que a reação de Renzi parecesse mais o reflexo de um torcedor do que um resultado concreto. A SVIMEZ apresentou uma série de dados sobre o quadro econômico regional. Depois de sete anos de recessão, a região que tem histórico de desempenho abaixo dos resultados obtidos pelo norte apresentou retração econômica de 11%, contra 4% do norte. Como a região se desindustrializou, a taxa de emprego está entre as menores da União Europeia, com um terço da sua população em risco de entrar na pobreza. O número de jovens deixando o sul da Itália é recorde, e a taxa de natalidade é a menor nos últimos 150 anos, o que está transformando os centros da região em cidades fantasmas. A observação principal do relatório é contundente: o crescimento econômico do sul da Itália é até mesmo mais lento do que o da Grécia. O apelo de Roberto Saviano A Itália não é nada além do que a história de dois países: o norte próspero e o sul subdesenvolvido e infestado de mafiosos. Mas mesmo experientes observadores ficam intrigados com as últimas estatísticas. O escritor e ativista contra a máfia Roberto Saviano publicou uma carta aberta a Renzi, pedindo que não se abandone do Mezzogiorno, como o sul é chamado na Itália. Apesar do imenso atraso e da desindustrialização ter destruído a economia do sul, você tem de fazer algo. Mas, primeiro, admita que até o momento nada foi feito para ajudar o sul, escreveu. O escritor acredita que o "Mezzogiorno" precisa de soluções que não sejam a repetição de iniciativas já impostas pelo norte para ajudar o sul, mas reformas que deem à região a liberdade para crescer da sua própria maneira. A resposta de Renzi foi sucinta: Pare de choramingar sobre o sul, disse o primeiro-ministro. Mas Renzi e seu governo estão conscientes de que ignoram o problema, o que pode ser politicamente arriscado. Mesmo com sua promessa de lançar um plano diretor para o sul no segundo semestre, as ações que deveriam constar no documento ainda são obscuras para a população. O ministro da Economia Pier Carlo Padoan revelou as linhas gerais do plano. No início de agosto, ele disse, em um pequeno encontro com jornalistas em Roma, que a Itália não deveria ter uma abordagem especial para os problemas econômicos do sul. Ao contrário, ele defendeu que deveriam ser aplicadas mais intensivamente reformas nacionais na região como investimentos públicos, extinção de obstáculos burocráticos e administrativos e foco em projetos que sejam financeiramente viáveis. Na raiz do problema A economista Elisabetta Addis, da Universidade de Sassari, na Sardenha, defende que reforçar a economia do sul sem um plano claro para atacar o crime organizado provocaria pouca mudança. Em um dado momento, a máfia coagiu comerciantes a pagarem uma parcela dos seus lucros como forma de pizzo ou garantia de proteção. Agora, afirma ela, os mafiosos estão atrás do dinheiro público. Eu sou uma economista bem keynesiana. Acredito que o aumento dos gastos públicos tem um efeito tônico na economia. Mas isso só acontecerá se o dinheiro não estiver alimentando a máfia e a corrupção. A abordagem keynesiana trabalha com a economia legal, não quando existem subornos agregados a todo projeto público, explica. Ela diz que aplicar boa governança com transparência e responsabilidade é um primeiro passo essencial que nenhum partido no poder na Itália conseguiu implementar até agora. A desindustrialização varreu toda a Itália. Uma vez que a União Europeia foi formada e a zona do euro avançou, era claro que o sul da Europa se tornaria desindustrializado com o crescimento da especialização. Este não é o problema, opina. Potencial desperdiçado Para Addis, a questão é que o sul da Itália ainda não transformou o seu maior recurso o acervo espetacular de sítios históricos e belezas naturais em uma indústria de turismo que funcione bem. No início de agosto, a imprensa italiana noticiava que as pessoas que vistam Pompeia mostram-se decepcionadas porque queriam que as antigas ruínas da "Grande Palestra" recentemente restaurada e reinaugurada pelo ministro do turismo estivesse aberta para o público. O local foi subitamente fechado sem maiores explicações. A cidade, que foi uma vez completamente soterrada, é o sítio turístico mais famoso do sul da Itália, a maior atração turística e facilmente um dos lugares de mais pobre gestão arqueológica do país. Após sete anos de interdição devido a meticulosas restaurações, a "Grande Palestra" de Pompeia vai agora continuar fechada até outubro devido à carência de pessoal. Caso fosse aberta durante o verão, certamente a região poderia aproveitar o crescimento do número de turistas registrado no país. Autor: Megan Williams, de Roma (mp)Edição: Rafael Plaisant
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