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Man Ray, um multitalento da modernidade

12:19 | 27/08/2015
"O violino de Ingres", de 1924, é uma das obras mais famosas de Man RayArtista americano capturou imagens que se tornaram ícones da fotografia do século 20, ajudando a revolucionar a forma de ver a arte. Muitas de suas obras ainda não foram reveladas. Man Ray queria ter ficado conhecido como pintor, mas foram suas fotos que lhe trouxeram fama mundial. Como, por exemplo, as costas nuas de sua amante de longa data Kiki de Montparnasse, nas quais ele pintou as aberturas acústicas de um violino (O violino de Ingres), ou as Lágrimas de vidro dos olhos dela. No início, Man Ray, que completaria 125 anos nesta quarta-feira (27/08), queria apenas documentar as suas pinturas e desenhos em foto, mas então foi tomado pela alegria experimental e pela poesia do sexo feminino, como sugerem muitos de seus retratos eróticos de mulheres. Com isso, ele revolucionou a fotografia e a forma de ver a arte. "Fotos sem câmera" Na década de 1920, havia nos EUA um debate sobre a fotografia. Discutia-se se ela era apenas uma ferramenta técnica para retratar a realidade ou se tinha importância como meio de expressão artística. Esta última opção ficou comprovada por Man Ray em seus chamados rayogramas ou rayografias. Ele posicionava objetos sobre papel fotográfico e expunha o conjunto a diferentes fontes luminosas. Os contornos turvos dessas "fotos sem câmera" foram bem-aceitos pelos dadaístas e, mais tarde, pelos surrealistas. O poeta Jean Cocteau chamava o artista americano de "o poeta da câmera escura". Na década de 1930, Man Ray fez carreira com lascivas fotos de nus. Além disso, ele fotografou famosos artistas, escritores e designers de moda. Entre eles, Pablo Picasso, André Breton, Henri Matisse ou Coco Chanel. Mas os seus motivos prediletos continuaram as belas mulheres, como a sua amante, a modelo Kiki de Montparnasse, e Lee Miller, sua aluna e assistente. Usando, entre outros, a técnica da dupla exposição, Man Ray conseguia os típicos e oníricos contornos desfocados em suas imagens. Essa inovadora fotografia experimental também agradou a revistas de moda como Vogue ou Harper's Bazaar, para quais trabalhou até o fim da Segunda Guerra. Parceria com Marcel Duchamp Emmanuel Radinsky, mais conhecido por Man Ray, nasceu em 27 de agosto de 1890 na Filadélfia, na costa leste dos EUA. O filho de imigrantes russo de origem judaica escolheu o nome Man Ray após os estudos de arte em Nova York. Era a época da industrialização, que precedeu à Primeira Guerra. Em 1915, ele conheceu em Nova York o artista Marcel Duchamp. Os dois não se tornaram somente grandes amigos, mas também compartilhavam um conceito artístico comum, que entrou para a história da arte e da literatura como dadaísmo. Os seus trabalhos surgiam do acaso como também os primeiros rayogramas de Man Ray. Objetos do cotidiano foram declarados obras de arte. Um desses objetos mais famosos executados por Man Ray é o ferro de passar roupa, adornado com uma fileira de pregos na parte inferior. Como instrumento real, ele é inútil, mas como um objeto artístico, ele entrou para a história. Essa arte do absurdo era uma contraproposta à arte convencional burguesa uma burguesia que acabou por levar o mundo a uma guerra. Um multitalento da modernidade Como muitos outros artistas de sua época, Man Ray também foi um multitalento. Ele realizou não somente pinturas, esculturas, colagens e fotografias, mas também trabalhou como diretor e cineasta. Seus rayogramas chamaram atenção, por exemplo, no filme de Fernand Léger Balé Mecânico, de 1924. A partir de 1921, Man Ray passou a morar em Paris e se aliou aos surrealistas. Sob influência da psicanálise de Sigmund Freud, apostava-se no inconsciente, nos sonhos como fonte de inspiração artística. Certa vez, Man Ray declarou: "Eu não fotografo a natureza, eu fotografo as minhas visões." Da mesma forma que o dadaísmo, o surrealismo era considerado um movimento anarquista, que encontrou seu fim durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1940, Man Ray voltou para os EUA, fugindo dos nazistas. Ele participou de produções cinematográficas em Hollywood e variou seus trabalhos anteriores e fotografias. No entanto, ele não obteve o reconhecimento desejado nos Estados Unidos e voltou para Paris em 1951. Quando morreu, em 18 de novembro de 1976, ele deixou para sua esposa Juliet Browner mais de 4 mil trabalhos. Hoje, a coleção pertence ao irmão dela nos EUA e está guardada em 12 cofres-fortes de aço. Ela é pouco acessível ao público. O espólio do artista é administrado por uma fundação, que detém os direitos da maioria das fotos e objetos de Man Ray até 2046. Autor: Gaby Reucher (ca)Edição: Rafael Plaisant
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