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Preço do petróleo cai mesmo sem o Irã

07:19 | 30/07/2015
Retorno da República Islâmica ao mercado internacional de petróleo ainda não influencia a contínua queda nos preços. Bem mais importantes são a elevada produção nos EUA e os tropeços da economia da China. Há um ano, o preço do barril de petróleo do tipo Brent North Sea estava em 110 dólares. Nesta quinta-feira (29/07), está abaixo de 54 dólares, ou menos da metade. O petróleo americano do tipo West Texas Intermediate caiu até mesmo para menos de 50 dólares e isso ainda antes de o Irã voltar ao mercado. Vai levar algum tempo até o Irã voltar a exportar em quantidades dignas de nota. Primeiro será necessário recuperar as unidades de extração e de transporte, paradas há três anos. Especialistas em matérias-primas do banco alemão Commerzbank calculam que, em meados de 2016, o Irã estará em condições de produzir apenas meio milhão de barris por dia. Os países da Opep produzem hoje cerca de 30 milhões de barris. O especialista Alexander von Gersdorff, da Associação da Indústria Petrolífera Alemã, diz que os motivos para a queda do preço do petróleo são outros: a elevação da produção nos Estados Unidos e o recuo da demanda na China. "Nos Estados Unidos, a produção de petróleo contraria as expectativas e não está caindo. Ela está num nível muito alto, como no início dos anos 1970", afirma. Fracking impulsiona produção nos EUA Só em 2014, os Estados Unidos elevaram sua produção em mais de 16%, para 516 milhões de toneladas. Eles são, assim, o terceiro mais produtor de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita e da Rússia, ainda que metade do petróleo americano seja obtido por meio do processo conhecido como fracking (fratura hidráulica). Além de polêmico por causa dos efeitos ao meio ambiente, o método também é caro. E, do outro lado, está a economia da China, que não está se desenvolvendo como esperado. "Isso tem consequências para a demanda por petróleo, que não é tão alta como se esperava na China", diz Gersdorff. O desempenho econômico também decepciona em outros países emergentes, como a Rússia e o Brasil, levando a um recuo na demanda por energia. Soma-se a isso a nova política da Opep, o cartel dos países exportadores de petróleo. No passado, era prática comum elevar os preços simplesmente diminuindo a produção e, com ela, a oferta mundial de petróleo. Hoje a Opep não é mais tão poderosa como antigamente, pois seus membros são responsáveis por apenas cerca de 40% da produção mundial, ou 1,7 bilhão de toneladas por ano. Ainda assim, o cartel desempenha um papel importante, avalia Gersdorff. "Ele está criando e de maneira proposital essa oferta elevada para tentar empurrar outros produtores para fora do mercado. Ao menos é o que dizem observadores que acompanham esse movimento de perto", comenta. "Outros produtores" significa sobretudo os Estados Unidos. No passado, a Arábia Saudita costumava reduzir sua produção para manter os preços elevados. Hoje o país mantém a produção diária no nível de 10 milhões de barris aparentemente para forçar uma queda nos preços que torne impraticável a produção por fracking nos Estados Unidos e no Canadá. Demanda vai subir, e também a oferta Além da elevada oferta e da demanda em baixa, há outros fatores que explicam a atual situação de preços em queda. Um deles é que ao menos nos países industrializados o crescimento econômico e o consumo de petróleo praticamente não estão mais ligados. "Isso pode ser visto de forma bem concreta em números", comenta Gersdorff. Ele cita como exemplo a Alemanha, onde o consumo de gasolina caiu cerca de 2% no primeiro semestre de 2015, enquanto que a economia teve um desempenho levemente positivo. "Gasolina e diesel são usados de maneira cada vez mais eficiente, mas isso ainda não é assim em todo o mundo." Em todo o mundo, o consumo de energia deve aumentar entre 35% e 50% nos próximos 20 anos, calculam especialistas. Só que esse aumento da demanda é acompanhado por um aumento da oferta. "De fato, as reservas de petróleo aumentam a cada ano, apesar do elevado consumo de 90 milhões de barris por dia", confirma Gersdorff. Segundo ele, isso se deve tanto à descoberta de novos campos petrolíferos, por exemplo na África ou no Brasil, como também a novas tecnologias de produção, como o fracking. Ele lembra que o Canadá produz 3 milhões de barris por dia, e que as novas formas de produção desempenham um papel cada vez maior no país. Autor: Rolf Wenkel (as)Edição: Rafael Plaisant
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