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Paris e Berlim tentam mostrar sintonia na crise grega

11:38 | 07/07/2015
Depois do "não" no referendo do fim de semana na Grécia, Merkel e Hollande apelam aos países da zona do euro para que assumam suas responsabilidades. Alemanha e França, no entanto, nem sempre estão de acordo. Se a estrutura da União Europeia (UE) fosse perfeita, caberia aos cidadãos do bloco decidir em votação popular como deveria ser o procedimento futuro frente à Grécia. Ou isso seria tarefa ao menos do Parlamento Europeu. Mas a UE não é perfeita. Isso explica o comentário de um articulista do jornal italiano La Repubblica. Após o "não" grego aos programas de reformas propostos pela União Europeia, ele escreveu que tudo permanece como antes: "Mais uma vez, a Alemanha e a França vão decidir sobre o futuro da Europa." Essa opinião também é compartilhada pelo ministro francês das Finanças, Michel Sapin: "Nenhuma solução poderá ser encontrada, se Angela Merkel e François Hollande não a tiverem." Isso explica a grande expectativa diante do encontro entre a chanceler federal alemã e o presidente francês, na noite de segunda-feira (06/07) em Paris. Depois da reunião, Merkel e Hollande declararam que as portas continuam abertas para a Grécia, mas é preciso deixar claro que a unidade da Europa depende da responsabilidade de cada país. A demonstrada coesão se deve, muito provavelmente, ao exercício mais cuidadosamente praticado pelos políticos da zona do euro nos últimos meses: a procura de um acordo. Pois, por mais que a sintonia entre Paris e Berlim seja bem estreita, em muitos pontos é grande a divergência entre Alemanha e França. As diferenças predominam mesmo no que diz respeito à questão sobre como a Grécia deve ser apoiada a curto prazo. Segundo Sapin, os gregos devem agora "fazer propostas sérias e sólidas". Em troca, a França seria a favor de uma redução do peso da dívida. O governo em Berlim ainda não conseguiu se decidir sobre a questão. O ministro alemão da Economia, Sigmar Gabriel, se pronuncia com toda cautela. Com uma "rejeição às regras da zona do euro", o que ficou claro com o "não" da maioria dos eleitores, negociações sobre programas bilionários são "difíceis de imaginar", disse Gabriel. Também Merkel sublinhou mais uma vez, após o encontro com Hollande, que os pré-requisitos para as negociações sobre um programa concreto de resgate não existiriam atualmente. Ideias diferentes As diferenças, no entanto, vão ainda mais longe. Hollande representa um país que não consegue sair de uma "crise". O endividamento adicional da França neste ano deve perfazer provavelmente 4% do Produto Interno Bruto (PIB), a dívida pública, por sua vez, corresponde a 96% do PIB. A taxa de desemprego gira em torno de 10,3%. A Alemanha, por outro lado, deverá gerar este ano um superávit orçamentário de 0,6%. A dívida total alemã corresponde a 71,5% do PIB, e a taxa de desemprego em abril deste ano não chegou aos 5%. Os diferentes números levam a diferentes interpretações, não só da crise grega. Na Alemanha, políticos da União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel, exigem uma continuidade do programa de reformas mesmo depois do "não" grego. Segundo o líder da bancada parlamentar da CDU, Wolfgang Bosbach, novos pacotes bilionários de resgate não resolvem o problema da Grécia: "Faltam poder econômico, competitividade e uma administração verdadeiramente eficiente." Na França, por outro lado, os socialistas apoiadores de Hollande exigem há muito um reposicionamento fundamental frente à superação da crise do euro e da Grécia. No comunicado final de seu congresso partidário em junho último, na cidade de Poitiers, os deputados do Partido Socialista de Hollande declararam que a política de austeridade econômica dos últimos anos detém "grande responsabilidade" pela má situação da Europa em geral e, em particular, da Grécia. Para superar a crise do continente, eles exigem a criação de títulos europeus comuns, os chamados "eurobonds", como também um plano europeu de investimentos, um "reajuste" dos déficits comerciais e orçamentários dos países o que não consegue agradar a ninguém na coalizão alemã de governo. Reservas franco-alemãs A insistência numa política cautelosa de gastos levou a críticas em parte bastante acirradas frente ao governo alemão na França. Jean-Luc Mélenchon, eurodeputado e presidente do Partido de Esquerda, apresentou recentemente a sua posição no livro Le hareng de Bismarck (O arenque de Bismarck, em tradução livre). A Alemanha, escreve Mélenchon, representa um perigo para a Europa. Segundo ele, mais arrogante do que nunca, Berlim não poupa brutalidade, chantagem nem medidas punitivas para impor as suas vontades. "O modelo que a Alemanha impõe [aos demais Estados] é mais uma vez um retrocesso para a Europa." O economista alemão Hans-Werner Sinn suspeita, no entanto, que, além da Grécia, a França procura principalmente salvar a si mesma através da estatização das dívidas. "No mais tardar quando a crise de competitividade da França se estender aos mercados financeiros e o presidente francês instar o governo alemão a medidas de resgate, a exigência pela introdução de 'eurobonds' vai novamente se acentuar." Para ir ao encontro de Angela Merkel, explica Sinn, os "eurobonds" contra os quais a chanceler sempre se posicionou ganharão um novo nome, que já foi até encontrado: "Project Bonds". Por enquanto, todavia, o que importa é manter a Grécia viva, tanto dentro quanto fora da zona do euro. Mas a união monetária não deve se tornar uma união de transferência de recursos, adverte Kai Konrad, diretor do Instituto Max Planck de Direito Tributário e Finanças Públicas. "Quem estiver apostando que a zona do euro vai se tornar uma união de transferências vai ter que arcar com as consequências no final", alerta o especialista. Autor: Kersten Knipp (ca)Edição: Rafael Plaisant
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