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Apesar de reformas, Portugal ainda é país-problema

16:22 | 21/07/2015
Para sair da crise, Lisboa fez "dever de casa", e boa parte dos erros do passado foi corrigida na economia e na administração lusitanas. Apesar da recuperação, dívida pública de 130% do PIB ainda pesa sobre o país. Para enfrentar a crise que atinge Portugal, João Tubal aposta no turismo. Ele assumiu um empréstimo, comprou seis motos tuc-tuc e criou dez postos de trabalho. "Praticamente não se constrói mais nada, mas Lisboa está cheia de turistas", afirma o jovem empreendedor. Assim, ele e seus colegas transportam os visitantes entre as atrações da capital portuguesa nos riquixás de três rodas pelo bem do meio ambiente, naturalmente movidos a eletricidade. Esse é um tributo de Tubal a sua verdadeira profissão, engenheiro ambiental. "Os negócios vão bem", diz satisfeito. Cada vez mais gente lucra com o turismo que floresce em Portugal. Linhas aéreas econômicas e cruzeiros tiveram 12% de clientes a mais em 2014, e o ano corrente promete novo crescimento. Novo país Portugal depois da crise não é Portugal antes da próxima crise, constata João Duque, professor do conceituado Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). O país se transformou, modernizou-se, reinventou-se. Ainda que a dívida pública continue elevada, Portugal se encontra numa situação econômica decididamente melhor. "Pela primeira vez em longo tempo, em 2013 e 2014 voltamos a exportar mais do que importamos", relata Duque. Nos últimos cem anos, isso só havia acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, quando o país fornecia tungstênio para a indústria de armas da Alemanha nazista, comenta. Contudo, Portugal de hoje, no fim da crise, não só exporta mais, como erradicou velhos defeitos burocráticos e montou um sistema tributário eficiente. Assim, os cofres públicos estão mais cheios do que nunca. Conjunção de fatores positivos Um dos homens que contribuiu para a história lusitana de sucesso é Henrique Neto, empresário de 79 anos e candidato à presidência nas eleições do ano que vem. Ele construiu um pequeno império de ultramodernas fábricas de moldagem por injeção, fornecendo para todo o mundo e produzindo até na China. Seu setor é responsável pelo crescimento das exportações lusitanas na mesma medida que a indústria de calçados e têxteis e a unidade da Volkswagen ao sul de Lisboa. "Até agora nos saímos bem, mas precisamos exportar muito mais", pois ainda há muito o que crescer, e as condições para aproveitar esse potencial não são más, afirma Neto. Por um lado, o euro fraco ajuda, por outro, Portugal dispõe hoje de mão de obra e gerentes qualificados. Além do mais, o país se beneficiará da localização geográfica no contexto do futuro acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos (TTIP). No entanto, para impulsionar verdadeiramente a conjuntura nacional são necessários ajuda europeia e investimentos estrangeiros, ressalva Neto. Salários e custos empregatícios mais baixos poderiam atrair mais investidores. Também a boa infraestrutura, cofinanciada pela UE, pode ser um fator atrativo, diz o candidato à presidência. Além disso, Portugal provou ser capaz de mudanças, aponta Duque. No setor de calçados, que antes produzia artigos baratos e de baixa qualidade, o país já concorre com grifes exclusivas de todo o mundo, só sendo superado pela Itália em termos de valor agregado. Também em outros segmentos, dos têxteis até a vinicultura, desenvolveu-se know how comparável. Portanto, Portugal está no caminho certo, mas algumas mudanças iniciadas há bastante tempo só vão dar frutos dentro de alguns anos, avalia Duque. Confiança na UE Entretanto, Portugal segue oprimido por uma dívida soberana a rigor impossível de saldar, de 130% do PIB. A culpa cabe aos governos nacionais anteriores, critica Neto. Eles não apenas facilitaram demais o endividamento privado, como, depois da adoção do euro, passaram a viver muito além de suas possibilidades reais, devido à baixa dos juros. Com remanejamentos dos créditos, a UE tornou as coisas bem mais fáceis, comenta Duque. Mas ele não consegue ver como Portugal conseguirá pagar suas dívidas em tempo hábil. Também Tubal procura uma luz no fim do túnel. "É certo que houve excessos no passado, e é claro que se deve saldar as próprias dívidas", mas se isso não for possível, os países mais ricos da UE devem se mostrar solidários e ajudar, apela o operador de riquixás turísticos. Devido às dívidas acumuladas, Portugal permanece sendo um país-problema, apesar de ter feito seus "deveres de casa". "Certamente os juros voltariam a subir em Portugal, se o euro entrasse em turbulência, por exemplo, por causa da Grécia", prediz Neto. Aí seria preciso apelar mais uma vez à solidariedade europeia. Duque, está bastante seguro que se poderia contar com essa solidariedade. "Depois de [Wolfgang] Schäuble [ministro alemão das Finanças] nos ter destacado tantas vezes como alunos exemplares, ele certamente faria de tudo para evitar um desastre português." A condição para tal é Portugal continuar respeitando as regras e poupando com convicção. Autor: Jochen Faget (av)Edição: Luisa Frey
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