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Varoufakis é recebido como estrela em Berlim

15:00 | 09/06/2015
Acostumado a ouvir críticas de colegas e da imprensa europeia, ministro grego ganha aplausos do público berlinense. Ele fala em harmonia e diz aguardar "discurso de esperança" de Merkel. O ministro grego das Finanças, Yannis Varoufakis, é o enfant terrible da política europeia: antipatizado por seus colegas de pasta, ridicularizado e até mesmo difamado pelas mídias. Mas, nesta segunda-feira (08/06), ele foi a estrela da noite na capital alemã. Centenas de berlinenses prestigiaram a apresentação do eloquente professor de economia na Catedral Francesa da praça Gendarmenmarkt. Uma longa fila se formou na entrada. Alguns manifestantes seguravam cartazes e faixas com dizeres de solidariedade para com os gregos. No interior do edifício, o ministro que há semanas atrai para si a ira dos políticos europeus e das instituições credoras da Grécia foi recebido com música grega e muitos aplausos. "Vim para criar pontes", afirmou Varoufakis. Ele disse que quer trazer a harmonia diante das recorrentes tentativas de incitação às brigas e à discordância entre os povos. De acordo com o ministro, gregos e alemães, por exemplo, teriam superado suas diferenças depois da Segunda Guerra e se aproximado entre si. Foi a crise da dívida que instalou um abismo entre os dois povos, e a moeda comum europeia motiva um afastamento cada vez maior. "Nós europeus criamos um sistema defeituoso do euro" O ministro afirmou que a culpa pelo superendividamento de seu país não seria nem só dos gregos nem das potências econômicas europeias. Com seu poder econômico forte e salários baixos, a Alemanha, por exemplo, acumulou imensos superávits comerciais à custa de países periféricos, que se endividaram cada vez mais, comentou. Para ele, o sistema da moeda comum foi falho desde o início e, por esse motivo, a crise foi inevitável. "É inútil falarmos sobre a dívida usando categorias morais ", sublinhou. "Nós europeus criamos juntos esse sistema e temos que corrigi-lo em conjunto." Segundo Varoufakis, três governos sucessivos em Atenas em cinco anos confundiram tanto os alemães quanto os gregos. Esses governos fingiram ser capazes de conter a falência estatal da Grécia por meio de novos empréstimos e do empobrecimento da população. Mas isso não funcionou nem pode funcionar: um país que não gera crescimento não pode reembolsar suas dívidas, afirmou. Crescente pobreza na Grécia De acordo com o político, dezenas de milhares de gregos perderam seu trabalho, suas casas e suas aposentadorias. As leis trabalhistas foram eliminadas. A consequência é que, há seis meses, 500 mil trabalham sem pagamento: "Isto é pior do que escravidão." Por esse motivo, seu governo propôs às instituições credoras elaborar leis trabalhistas modernas e reformar o sistema de aposentadoria, para que os fundos sociais recebam mais dinheiro e o sistema se torne sustentável. Ambas as propostas foram rejeitadas, disse. Em vez disso, os credores passaram a exigir novos cortes nas aposentadorias, que já haviam sido reduzidas em 40%, como também um novo aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) da conta de eletricidade, de 13% para 23%. No entanto, tais reformas não vão salvar a economia grega: "Se vocês continuarem a pressionar nossa população e a jogá-la na miséria, nunca seremos reformáveis", advertiu. "Discurso de esperança" para os gregos O ministro grego das Finanças recordou a Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, quando os Aliados começaram a desmantelar a indústria do país derrotado, para transformá-lo numa nação agrária. Ele explicou que somente com o "discurso da esperança", proferido em 1946, em Stuttgart, pelo então secretário de Estado americano, James F. Byrnes, teve início uma virada e foram criadas as bases para o Plano Marshall e o "milagre econômico" alemão. Em Berlim, o político disse desejar da chanceler federal alemã, Angela Merkel, um discurso semelhante, que dê novamente ao seu povo a esperança de um futuro melhor. Yannis Varoufakis encerrou seu discurso com uma recordação pessoal de infância e uma homenagem à Deutsche Welle. Ele disse lembrar-se bem de como seus pais escutavam a programação em grego transmitida em ondas curtas pela emissora alemã para o exterior, durante a ditadura militar na Grécia de 1969 a 1975. "A Deutsche Welle era nosso aliado contra a repressão", afirmou Varoufakis. Noite após noite, a emissora trazia uma lufada de ar fresco proveniente da Alemanha, que se manteve firme no apoio à democracia grega. "Para mim, a Alemanha era uma fonte de esperança." Na Catedral Francesa em Berlim, Varoufakis deparou-se com um público aberto, que o escutou com interesse. Por outro lado, na política alemã e europeia, ele continua a ser visto com ceticismo, furor e desconfiança. E na crise da dívida não há nenhuma solução à vista. Autor: Bettina Marx (ca)Edição: Augusto Valente / Alexandre Schossler
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