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Opinião: Parlamento alemão é vítima da própria ingenuidade

13:59 | 11/06/2015
Mais do que trocar os computadores do Bundestag, é necessária uma mudança de mentalidade dos políticos alemães em relação à segurança dos sistemas de informática, opina o articulista da DW Jens Thurau. Nós todos lidamos de maneira descuidada com os nossos dados na internet é o que dizem todas as estatísticas. Nas redes sociais, revelamos muito de nós mesmos. E compramos online, fazemos transações bancárias, somos desleixados com aplicativos de segurança e senhas. Por que os políticos deveriam ser diferentes? Talvez devessem, sim. Pois a coisa entra numa ordem de grandeza totalmente diferente no momento em que o alvo de um violento ataque de hackers é o Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão. Quem foi o autor? Só se pode especular. Indagada, a maior parte dos políticos supõe que por trás esteja, no mínimo, uma grande organização criminosa, provavelmente do Leste Europeu. Talvez haja até mesmo governos nacionais envolvidos. Provavelmente os equipamentos e softwares do órgão legislativo terão agora que ser substituídos, supõe-se que integralmente. Pois a invasão penetra fundo nas estruturas da rede do parlamento alemão, afeta até mesmo os direitos de administrador. Além disso, tudo indica que o ciberataque continue em ação. A coisa não é brincadeira: a comissão de defesa do Bundestag se ocupa, por exemplo, da exportação de armamentos; a de política externa, da estratégia alemã, dos interesses nacionais perante outros Estados, tanto os amigos quanto os que não o são. Lá se trocam informações ultrassensíveis. E no entanto, uma impressão se impõe: de que falta consciência da necessidade de proteger, também com as tecnologias mais avançadas, a rede através da qual são transmitidas todas essas informações. Há quatro semanas os deputados estão sem saber o grau de gravidade do ataque, ou o que exatamente devem fazer agora. O presidente do Bundestag se esconde atrás do silêncio, assim como os departamentos federais de Segurança na Tecnologia da Informação (BSI), que é órgão responsável pelo assunto, e o de Defesa da Constituição (BfV). Talvez por não saberem mais. O que, em si, seria um motivo para se estar seriamente preocupado. Tudo isso vem à tona numa época em que ficou claro que a Agência de Segurança Nacional (NSA) americana espionou os cidadãos alemães de forma generalizada e abrangente, que esse serviço secreto até mesmo cooperava em perfeita harmonia com o Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND). Aqui, o perfil é o mesmo: a reação no país, também entre muitos políticos, oscila entre fatalismo ("Os americanos são assim, e nós não vamos nunca conseguir mudá-los") e ingenuidade ("Quem não tem nada para esconder, não tem razão para se preocupar"). Às vezes há uma ponta de satisfação maldosa, como quando o celular que está sendo monitorado é o da chanceler federal. Por falar em Angela Merkel: de certo modo a notícia da invasão de hackers combina com o comportamento dela. Recentemente, a chefe do governo entrou para o Instagram e postou umas fotos alegres. E imediatamente trolls russos caíram em cima dela: na maior parte com tiradas de ódio e comentários malévolos sobre a política da Alemanha para a Ucrânia. Também aqui ninguém na Chancelaria Federal estava preparado para algo assim e, como primeira reação, todas as postagens em alfabeto cirílico foram apagadas às pressas. Despreocupação, portanto, e talvez também ingenuidade, tanto no governo como no parlamento. No Bundestag, contudo, no momento são tantos deputados diga-se eufemisticamente zangados, que de repente será possível a toque de caixa aquilo que já deveria ter acontecido há muito tempo: mais pessoal para o setor digital, mais verba para aplicativos de segurança, mais cautela. Nunca vai ser possível impedir inteiramente os ataques de hackers, também os mais graves. Mas isso não é motivo para não levá-los a sério. Autor: Jens ThurauEdição: Alexandre Schossler
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