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Motociclistas próximos ao Kremlin planejam ato em Berlim

12:17 | 05/05/2015
Fiéis seguidores de Putin, membros da gangue Lobos da Noite querem fazer demonstração de força na capital alemã, desfilando na cidade em comemoração aos 70 anos da derrota do regime nazista. "Rumo a Berlim!" A inscrição é conhecida por todos na Rússia. Na Segunda Guerra Mundial, ela era vista em tanques soviéticos que iam em direção ao oeste. E este é o lema também da turnê dos Lobos da Noite, clube de motociclistas próximo ao Kremlin. O giro começou em Moscou em 25 de abril e percorre metade da Europa, para comemorar a vitória sobre a Alemanha nazista, há 70 anos. Os motociclistas, vestidos de casacos de couro com a bandeira russa, vão desfilar em Berlim no sábado (09/05), e a parada final é o memorial aos soldados soviéticos no parque Treptow. Em Moscou, o Dia da Vitória será comemorado com uma grande parada militar. A turnê esteve ameaçada de não poder ser realizada. Primeiro, Polônia e Alemanha negaram vistos a alguns dos motociclistas russos. O governo alemão justificou dizendo que é contrário a "qualquer instrumentalização do sofrimento das vítimas e da resistência ao regime nazista". Alguns membros dos Lobos da Noite foram repatriados do aeroporto de Berlim. No entanto, um pequeno grupo conseguiu entrar na Alemanha no domingo, pela Áustria. Até sábado, o número de participantes do ato na capital alemã deve aumentar. Alexander Saldostanov, apelidado de "cirurgião", não estará no evento. O presidente do clube, de 52 anos, também não conseguiu um visto, embora tenha uma relação pessoal com Berlim. Conexão Berlim-Moscou Os motociclistas se consideram "patriotas russos" e ajudantes do Kremlin. Os Lobos da Noite afirmam ser o maior e mais antigo clube de motociclistas da Rússia. Sua história começa no final dos anos 80, quando a União Soviética estava prestes a ruir. Saldostanov teve um papel fundamental. Filho de médico, ele tinha vinte e poucos anos quando se casou com uma alemã, depois de estudar medicina em Moscou, se mudando para Berlim Ocidental. Na cidade, ele conheceu motociclistas do grupo Hells Angels, e trabalhou como segurança de clube noturno. Ele, então fundou, em 1989, os Lobos da Noite, aos moldes ocidentais. Eles correm de moto pelas ruas de Moscou de madrugada, participam de brigas e fazem a segurança não oficial de concertos de rock. Após o colapso da União Soviética, Saldostanov ampliou seu clube para uma poderosa rede, com escritórios em todas as ex-repúblicas soviéticas. Em meados dos anos 90, os Lobos da Noite descobriram como faturar com o show business. Eles passaram a organizar todos os anos vários shows de motocicleta, com apresentações elaboradas, com efeitos de luz e de som. Eles formaram seu próprio grupo de teatro, que é visto por dezenas de milhares de pessoas. Tom patriótico Gradualmente, esses eventos têm um tom patriótico e antiocidental. O foco é cada vez mais a vitória soviética sobre a Alemanha nazista. Stálintambém é glorificado pelos motociclistas, bem em conformidade com a mídia estatal russa. Desde 2009, o show principal é organizado em Sevastopol, na península da Crimeia, cujo porto abriga a frota russa do Mar Negro. Em 2010, Vladimir Putin, então primeiro-ministro, participou do show pela primeira vez, se apresentando com um triciclo. "Obrigado pelo convite, irmãos", disse na ocasião, para júbilo da plateia. Em 2012, Putin também visitou Saldostanov na Crimeia. Um ano mais tarde, o presidente Putin deu ao chefe do clube uma medalha de honra pelo "trabalho patriótico com a juventude". "Eu prezo muito Putin", disse Saldostanov numa entrevista à revista moscovita New Times. "Ele é um presidente por que meu país esperou por muito tempo", afirmou, acrescentando que fará tudo para prolongar o tempo de Putin no poder e para protegê-lo. Na anexação russa da Crimeia, os Lobos da Noite teriam tido um papel de destaque. Em um documentário na televisão russa, exibido no início de março, alguns membros do clube de motociclistas se vangloriaram de ter evitado uma "guerra" entre a Rússia e a Ucrânia. Em Ialta, em 5 de março de 2014, os Lobos da Noite sequestraram o general do Exército ucraniano, Michailo Koval. Em sua mala, o militar supostamente traria uma ordem de disparo de Kiev para uma unidade de guardas de fronteira ucranianos. Koval foi levado a Simferopol e liberado somente horas depois. Ação na Crimeia Na verdade, os Lobos da Noite agem como uma unidade especial das forças especiais russas, que neste momento estão na Crimeia. Os EUA e o Canadá decretaram sanções contra o grupo. Na Rússia, eles recebem honrarias. Alguns membros foram premiados com medalhas pelo trabalho feito na península. Durante sua aparição na Praça Vermelha, em Moscou, após a anexação da Crimeia, em março de 2014, Saldostanov disse que considera toda a Ucrânia como parte do "mundo russo" e que o Ocidente deve se manter longe dela. Atualmente, alguns Lobos da Noite lutam no leste da Ucrânia ao lado dos separatistas pró-russos. O próprio líder não pega em armas, mas tem uma tarefa diferente. Em janeiro de 2015, Saldostanov fundou um movimento chamado Anti-Maidan, uma contrapartida às manifestações pró-ocidentais em Kiev. A principal meta desses jovens musculosos é impedir uma revolta como na Ucrânia. "O medo é a única coisa que pode forçá-los a abandonar seus planos", ameaçou Saldostanov, se referindo aos adversários de Putin, durante uma entrevista. Outros cofundadores da Anti-Maidan são ainda mais explícitos, afirmando que não estão preparados para agir contra a oposição não só com os punhos, mas também com armas. Autor: Roman Goncharenko (md)Edição: Rafael Plaisant
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