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Turquia celebra batalha de Galípoli à sombra do genocídio armênio

Comemoração é criticada por se dar na mesma data das cerimônia que recordam genocídio armênio

09:42 | 24/04/2015
A Turquia celebra nesta sexta-feira, 24, com grande pompa o centenário da batalha de Galípoli, uma cerimônia ofuscada pela polêmica envolvendo outro centenário, o do genocídio armênio.

Vinte líderes de todo o mundo inteiro, ex-beligerantes ou vizinhos, aceitaram o convite de Ancara para honrar a memória dos soldados do Império Otomano, do Império britânico e da França que caíram durante este mortífero episódio da Primeira Guerra Mundial.

O ato, que será realizado às margens do estreito de Dardanelos, conta com a presença do príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica, e dos primeiros-ministros de Austrália e Nova Zelândia.

Autoridades islamitas-conservadoras iniciaram na quinta-feira, 23, celebrações que desejam converter em símbolo de paz e reconciliação.

"Todos os soldados que participaram desta batalha merecem ser lembrados com respeito e valentia", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

"Fizemos a guerra há 100 anos, mas aqui estamos reunidos para construir a paz juntos, rejeitando a retórica do ódio", acrescentou seu primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu.

Críticas

A mensagem de paz dos dirigentes turcos foi, no entanto, ofuscada pelas críticas provocadas pela negativa em reconhecer o genocídio armênio.

Muitos chefes de Estado e de governo, incluindo os presidentes russo, Vladimir Putin, e francês, François Hollande, preferiram viajar a Yerevan para prestar homenagem aos centenas de milhares de armênios massacrados pelo Império Otomano a partir de 24 de abril de 1915.

Nos últimos dias, os turcos criticaram duramente todos os que exigiram que reconhecessem, após um século de negações, o caráter planejado deste massacre.

Depois do papa Francisco, o Parlamento austríaco e o presidente alemão, Joachim Gauck, foram os últimos a falar de genocídio, irritando Ancara.

Como fez Davutoglu no início da semana, Erdogan reconheceu na quinta-feira, 23, o sofrimento dos armênios do Império Otomano entre 1915 e 1917, mas voltou a negar a existência de um genocídio, reconhecido por vinte países.

"A questão armênia se converteu em instrumento de uma campanha de difamação contra a Turquia, o que rejeitamos", afirmou, inflexível.

A cerimônia

Após a grande cerimônia internacional e ecumênica desta sexta-feira, 24, os antigos beligerantes de 1915 honrarão os mortos na batalha de Dardanelos em atos que durarão até sábado, 25.

Austrália e Nova Zelândia organizarão, por exemplo, a famosa "cerimônia do amanhecer" na manhã de 25 de abril, na hora exata do desembarque das primeiras tropas aliadas nas praias turcas.

O conflito

A batalha de Dardanelos começou em fevereiro de 1915 quando uma flotilha franco-britânica tentou forçar o Estreito dos Dardanelos para se apoderar de Istambul, capital de um Império otomano então aliado da Alemanha.

Seu fracasso obrigou os aliados a desembarcar em Galípoli, dando início a uma guerra de trincheiras de nove meses que deixou mais de 400.000 mortos ou feridos nos dois lados, e terminou com uma retirada humilhante.

Apesar da derrota, o heroísmo dos jovens soldados australianos e neozelandeses, que viviam seu primeiro conflito, contribuiu para formar a identidade nacional dos dois países.

"Sua perseverança, sua entrega, sua valentia e sua compaixão nos definiram como nação", declarou o chefe de governo australiano, Tony Abbott.

Por sua vez, o Império Otomano acabou a guerra no grupo dos perdedores e foi desmantelado. Mas a batalha de Galípoli se converteu em um símbolo da resistência que levou ao nascimento da moderna república turca em 1913.

A um mês das eleições legislativas turcas de 7 de junho, não há dúvida de que Erdogan tentará tocar nesta sexta-feira a fibra patriótica de seus cidadãos.

AFP
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