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Opinião: Um momento histórico, mas com questões em aberto

12:41 | 03/04/2015
Jamsheed Faroughi, da redação iraniana da DWAcordo nuclear é notícia positiva para Oriente Médio e comunidade internacional. Mas terá que ser concluído o mais rápido possível, porque seus oponentes são muitos, opina Jamsheed Faroughi, da redação iraniana da DW. "Acordo ou não?" essa vinha sendo há questão por 12 anos. Os olhos do mundo se voltaram para Lausanne, onde a linha entre esperança e incerteza, entre sucesso e fracasso, era tênue. Ao fim, uma notícia boa para uma região pouco acostumada a isso. O acordo prévio sobre a disputa nuclear é indubitavelmente um momento histórico e não apenas para o Irã e o Oriente Médio, mas também para a comunidade internacional. Infelizmente, porém, o entendimento alcançado em Lausanne precisa ser recebido com grande cautela: o perigo está nos detalhes. Não foi a primeira vez que negociações sobre o programa nuclear iraniano ganharam dimensões gigantescas ou se tornaram um jogo de pôquer. No fim, havia duas opções sobre a mesa: uma solução em que todos ganhavam, ou uma catástrofe em que todos perdiam. A razão acabou vencendo. Foi um jogo sério, envolvendo questões-chave, com efeitos imprevisíveis para a política global. O fato de alguns dos políticos mais importantes do mundo terem dedicado tanto tempo ao assunto ilustra a importância das negociações para os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha além do Irã. Quando essa última rodada de pôquer nuclear começou em Lausanne, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler iraniano, Mohammed Javad Zarif, provavelmente sabiam que não poderiam voltar para casa de mãos vazias. A missão deles era clara: negociar pelo tempo que for necessário para chegar a um entendimento. E foi exatamente o que fizeram. Agora, um acordo fundamental foi alcançado. Mas o nível de esforço empregado foi realmente necessário? Foi o resultado que Irã e Ocidente estavam esperando? A resposta é clara: sim! Para o regime iraniano, chegar a um acordo na atual conjuntura é essencial para sobreviver. A economia doméstica sofre severamente os efeitos das sanções: a vida financeira dos iranianos está cada vez mais desacelerada; uma inflação crescente devorou o poder de compra da população; o desemprego e a falta de perspectivas levam os mais jovens, em particular, à beira do desespero. Além disso, o perigo de uma nova guerra com a aliança árabe liderada pela Arábia Saudita também contribuiu para que Teerã finalmente dissesse "sim". A situação é extremamente séria. Após os bombardeios aéreos contra os rebeldes houthis no Iêmen, a "guerra por procuração" entre Arábia Saudita e Irã entrou numa nova fase. A luta pelo poder no Iêmen tem potencial para incendiar o Oriente Médio. Esse seria apenas um campo de batalha em uma guerra muito maior em toda a região. Os fracassos recentes em negociações nucleares haviam dado força aos opositores de um acordo. Isso estava claro para o governo iraniano e até para os ultraconservadores em torno do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Usar a diplomacia para contornar a disputa nuclear com o Irã é o maior êxito em política externa do presidente americano, Barack Obama. Mas o trabalho de verdade só está começando agora. O entendimento de Lausanne representa provavelmente uma solução para o conflito nuclear com o Irã. E a ênfase da frase está em "provavelmente". Afinal, os oponentes do acordo são muitos e poderosos, e terão três meses para destruir tudo que foi conseguido. Após a notícia de sucesso em Lausanne, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi um dos primeiros a responder e criticar duramente o acordo. E ele claramente não está sozinho nessa posição basta lembrar os aplausos que ele recebeu quando discursou no Congresso dos EUA. Também é importante não esquecer a carta que 47 senadores americanos escreveram ao governo iraniano ameaçando anular qualquer acordo quando Obama sair do poder. Potências regionais, como Arábia Saudita, Turquia e Egito, também se opõem veementemente a um acordo nuclear com o Irã assim como a própria linha dura iraniana. Superar o conflito em torno do programa atômico pode aproximar Teerã e Washington e levar o país persa de volta à comunidade internacional. E é exatamente isso que os opositores do acordo querem evitar. O acordo esperado por muitos há tempos precisa ser concluído o mais rapidamente possível. Seus oponentes são muitos e poderosos. Autor: Jamsheed Faroughi (rpr)
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