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"Nepal regrediu 20 anos em desenvolvimento"

12:23 | 29/04/2015
Médico alemão que viajou ao país asiático como voluntário diz que situação na região do terremoto é devastadora. Em entrevista à DW, ele diz que, a cada hora, as chances de encontrar sobreviventes diminuem. Segundo dados oficiais, o terremoto no Nepal já deixou mais de 5 mil mortos, 8 mil feridos e afetou mais de 8 milhões de pessoas em todo o país. Médicos estrangeiros viajam até a região como voluntários para tratar os feridos. Um deles é o cirurgião e alpinista alemão Matthias Baumann, que espera fazer sua primeira cirurgia nesta quarta-feira (29/04). Em entrevista à DW, ele fala sobre as dificuldades na região da catástrofe. DW: Quando começou seu trabalho no Nepal? Qual é a situação no local? Matthias Baumann: Eu cheguei em Katmandu já na noite de segunda-feira. A chegada atrasou porque ficamos voando em círculos sobre a capital por três horas até recebermos autorização para pousar. Outros tiveram menos sorte e precisaram voltar para Déli, na Índia. A nossa aeronave pôde pousar porque havia uma equipe de ajuda humanitária a bordo. E já na chegada, pude observar que muitas pessoas estavam dormindo em tendas do lado de fora de seus prédios,por causa da réplica do terremoto. Efoi o que também fiz. Agora estou tentando conseguir uma licença do Ministério da Saúde para poder realizar operações no Nepal. A previsão é de que eu comece a atuar como cirurgião nesta quarta-feira. Existem clínicas intactas onde você pode trabalhar? Sim, existem. Já visitei duas, onde médicos indianos já estão atuando. Vou trabalhar num hospital distrital um pouco afastado de Katmandu. Esse hospital também não foi destruído. Qual é a dimensão da destruição? Em Katmandu, cerca de mil pessoas foram afetadas. O terremoto atingiu com maior força a região às margens do rio. A torre considerada Patrimônio Mundial da Unesco também foi destruída. Lá morreram 200 pessoas. Em Katmandu, os danos se concentram em algumas partes da cidade. Em outras regiões, não há nenhum sinal do terremoto. Fora da cidade, em direção ao epicentro do tremor, as imagens são mais devastadoras. O hospital onde vou trabalhar fica mais próximo do epicentro. Na sua experiência, por quanto tempo, após o sismo, ainda há esperança de resgatar feridos e soterrados? Já houve casos de terremotos em que sobreviventes foram encontrados sete dias após o desastre. Mas a cada hora as chances diminuem. Aqui, a chegada das equipes de resgate já foi difícil, porque o aeroporto estava fechado. Antes eu estava numa área de desastre onde uma força de resgate chinesa buscava por sobreviventes. Na casa devia haver umas 20 pessoas, e não há como saber se elas estão vivas ou mortas. Você foi enviado em nome de alguma organização ou decidiu ir por conta própria? Vim por conta própria, para chegar o mais rápido possível. Tenho muitos contatos no Nepal e conheço muitos médicos aqui. Com uma organização, talvez as coisas demorassem mais, e eu não queria esperar. O alpinismo e o turismo cultural são fontes de renda muito importantes para o país. Quanto tempo você acha que ainda vai demorar até o turismo se restabelecer? Depois do que aconteceu no Everest [o terremoto desencadeou uma avalanche que matou ao menos 19 alpinistas], tudo está em questão. Por aqui, a opinião é de que, com o terremoto, o Nepal regrediu 20 anos em desenvolvimento. O alpinismo no Himalaia é uma atividade muito cara. O que se ouve é que os turistas ocidentais estão sendo transportados de helicóptero, algo com que o nepalês comum só pode sonhar. Isso não é questionável? Pessoalmente também acho isso muito questionável. À região onde existe um número absurdo de vítimas não chegou nenhum helicóptero. Aos meus olhos, o trabalho é desproporcional. Autor: Christoph Hasselbach (ff)Edição: Luisa Frey
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